Dirty Beaches: Landcapes In The Mist @ Teatro Maria Matos, 03/04/2014
Para além de uma óptima programação musical, o Teatro Maria Matos tem a ainda a particularidade de, não raras vezes, presentear o seu público com espectáculos exclusivos, preparados pelos artistas para a ocasião. Foi o caso de Alex Zhang Hungtai, nome de baptismo do alter ego Dirty Beaches, actualmente com residência artística na capital portuguesa e que trazia a palco um concerto alegadamente inspirado por esta nova experiência de uma vida quase nómada. O culto que granjeia por cá, somado da especificidade do espectáculo, terá contribuído para a total lotação da sala, mas cedo se percebeu que este era dia para se aplicar a expressão "a montanha pariu um rato".
Desejoso de ouvir a voz de crooner de Zhang Hungtai em estilhaços de canções enevoadas e de tons sépia, o público foi surpreendido pela total ausência de voz, numa única e longa peça para a qual contribuem também o habitual acompanhante Shub Roy (mais na guitarra, menos na electrónica) e o local André Gonçalves (sintetizadores modulares). Da tal voz nem um assomo, já que a estrela da companhia passou a quase hora e meia maioritariamente entregue ao saxofone, e a espaços também à guitarra e a alguns efeitos electrónicos. O início, para além de surpreendente, é até prometedor, com o trio naquilo que julgamos ser a introdução de algo que sugere imagens (os vários monitores de televisão ajudam) urbanas e nocturnas. Porém, este começo é o mote para toda a peça, sem grandes variações e até bastante simplista, ao ponto de motivar o abandono precoce de muitos. Não foi o meu caso, resisti até final, embora tenha de confessar que os 15 derradeiros minutos chegaram a ser penosos, antecipando mentalmente uma boa meia dúzia de vezes aquilo que julgaria ser um final adequado. Alex Zhang Hungtai e companhia não estiveram pelos ajustes, e prologaram ad nauseum o calvário de uma peça frustrada na qual a ambição não foi correspondida pela variedade de ideias.
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