"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Ao vivo #118
















Excepter + Tropa Macaca @ Galeria Zé dos Bois, 04/04/2014

Nascidos no mesmo viveiro da bizarria nova-iorquina dos Gang Gand Dance ou dos deslocados Animal Collective, os Excepter ainda não se podem gabar do reconhecimento mediático daqueles contemporâneos. No entanto, e pelo que ficou demonstrado na passada sexta-feira, poderão em breve causar sensação naquela espécie de dança esotérica que deu louros aos primeiros. Poderá ser algo que possa vir a acontecer no anunciado novo álbum, que já tarda, ou poderá ser apenas equívoco motivado por um feliz incidente. Passamos a explicar: o concerto da ZdB divide-se em duas partes distintas, separadas por um súbito corte de energia. Até esse imprevisto, com uma formação reduzida a trio, os Excepter tinham apresentado uma melting pot sonoro marcada pela guitarra robusta em duelo com as ferramentas electrónicas, com os devaneios exóticos e distorcidos da voz John Fell Ryan. Algo caótica, e sobretudo intuitiva, esta primeira parte contrasta com a fisicalidade apresentada a partir da breve interrupção. Com os problemas técnicos parcialmente debelados, os Excepter regressaram, é certo, com uma redução do volume, mas apostados em fazer mexer os corpos numa dança que convoca uma miríade de culturas deste mundo encolhido pela globalização, ou talvez apenas o caleidoscópio de ideias que surgem em catadupa, numa espécie de caos controlado pela figura xamânica de Fell Ryan. O público agradece, deixando-se levar pela esquizofrenia dos ritmos, ignorando quaisquer deficiências técnicas que se possam ter verificado.

Em termos de bizarria, digamos que os Excepter são meninos-de-coro perto dos Tropa Macaca. Cada aparição da dupla portuguesa é uma caixinha de surpresas, com denominador comum na estranheza inicial causada. Num primeiro momento, dir-se-ia mesmo que os sintetizadores - dela - e a guitarra - dele - foram chamados para concertos diferentes, que por caso foram marcados para o mesmo palco e à mesma hora. Inclassificável, esta proposta que alguém já catalogou de algo tão paradoxal como ambient-noise, começa no entanto a ganhar sentido quando os sons, aparentemente desconexos, parecem confluir para uma linha comum, nem que essa linha possa ser apenas traçada no nosso subconsciente. Mais do que uma curiosidade weirdo, os Tropa Macaca são um seguro desafio aos sentidos, aqui ou em qualquer parte.


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