"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

domingo, 20 de abril de 2014

Há 20 anos era assim #12









HOLE
Live Through This
[Geffen, 1994]




Presa fácil junto de uma certa imprensa ávida da pequena controvérsia, Courtney Love terá esticado a corda ao editar novo álbum - o segundo - dos Hole apenas uma semana após o suicídio de Kurt Cobain (ou quatro dias após o conhecimento público, se preferirem). A mesma imprensa céptica dos créditos da senhora, que certamente argumentou que esta era uma manobra bem orquestrada de marketing, é precisamente o principal assunto motivador da escrita de Live Through This, o disco que resgatou a banda do estatuto de curiosidade underground para a primeira linha do chamado "rock alternativo" de noventas. O título, obviamente pensado antes do fatídico dia 5 de Abril de 1994, tem portanto muito de pessoal, não se referindo propriamente ao luto da viuvez, mas antes à constante referência a Love em notícias de veracidade não necessariamente confirmada.

Sobre este segundo trabalho disse um dia o guitarrista Eric Erlandson que é aquele que assinala o momento em que os Hole se tornaram uma banda à séria, e não apenas um grupo de gente irritada com o mundo disposta a fazer a maior ruideira possível. Com efeito, Live Through This, que além da dupla permanente conta ainda com os contributos da baixista Kristen Pfaff e da baterista Patty Schemel, naquela que é a formação canónica da banda de Los Angeles, refreia os ímpetos noisy do debute (Pretty On The Inside, de 1991), e investe numa dúzia de temas mais próximos do formato estandardizado de canção. A fórmula assenta com insistência na alternância quiet-loud-quiet, bastante em voga à época mas adequada do distúrbio das emoções de Courtney Love: da sobriedade confessional, à fúria incontida. O paradigma dessa dinâmica é "Violet", tema de estrutura bastante similar à que o falecido Cobain concebeu para "Smells Like Teen Spirit". Porém, ao invés de entrar por considerações sobre a apatia juvenil, a porta de entrada em Live Through This debate-se com a dicotomia "vida pessoal versus celebridade". Idêntica temática serve de base ao excelente "Miss World", este a abordar a falácia da vida sob os holofotes com extrema acutilância, numa estrutura semelhante embora relativamente mais contida na explosão de fúria. A falsa ternura que percorre uma boa parte deste par de temas inicial é dominante em "Doll Parts" ou "Softer, Softest", o primeiro um cru depoimento da condição feminina no circo rock, o último um pedaço de negrume ensombrado por traumas do passado. Os primórdios recentes dos Hole não são, contudo, desprezados, e a fealdade explícita percorre petardos punky ruidosos como "Plump", "Guttless", ou "Olympia", este último uma espécie de afirmação de Love no movimento riot-grrrl original, provavelmente com mensagem indirecta dirigida à "rival" Kathleen Hanna, líder das Bikini Kill e ex-companheira de Cobain. Centrada em si e nas diatribes com a opressão da fama, Courtney talvez ceda à influência do malogrado marido na escolha da versão de "Credit In The Straight World", original dos galeses Young Marble Giants cuja desarmante naïveté era insistentemente elogiada por aquele. Embora respeitando a estrutura do original, este poderia muito bem ser um tema concebido por Love para o alinhamento de Live Through This, já que também neste os sacrifícios impostos pela fama e pelo imperativo do reconhecimento são matéria que lhe estão subjacentes.

Violet by Hole on Grooveshark

Miss World by Hole on Grooveshark

Doll Parts by Hole on Grooveshark

Credit in the Straight World by Hole on Grooveshark

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