Sun Kil Moon + Thurston Moore @ Casa da Música, 29/03/2014
Para começar, uma confissão: não sou daqueles incondicionais que têm os Red House Painters no top das preferências da tendência sad/slowcore com mais de vinte anos. No entanto, sinto-me impressionado por uma boa meia dúzia de temas, mormente do trio inicial de álbuns, e pela voz de Mark Kozelek, capaz de condensar toda a tristeza do mundo mesmo que nos alheemos das palavras. O desinteresse foi crescendo com o avolumar da obra, e prolongou-se para o vasto catálogo subsequente, tanto em nome próprio como à frente do projecto Sun Kil Moon. De modos que, mesmo no auge da quase indigência, quando Kozelek era presença assídua no nosso país, nunca senti o estímulo para assistir a um dos seus concertos. A necessidade de colmatar tal lacuna foi provocada pelo recente e excelente Benji, pretexto também para a visita periódica e obrigatória à Invicta.
No espectáculo integrado em mais uma edição do Clubbing da Casa da Música, é precisamente esse trabalho que preenche na íntegra o alinhamento. Acompanhado por um trio de músicos (teclas, guitarra eléctrica e bateria) Kozelek apresenta-nos boa parte do álbum, baseado em memórias da infância e da juventude, com histórias povoadas pela sombra da morte mas com uma considerável dose de bom humor. Apesar da temática, este é seguramente a faceta mais upbeat conhecida do músico, progressivamente mais afoito e aventureiro na guitarra e com aquela voz - quase inexpressiva mas infalível - capaz de encher o mais amplo dos templos. Do concerto registe-se a capacidade de reproduzir cada tema quase a papel químico da sua versão gravada, pormenor que pode não conter o efeito surpresa, mas com o condão de preservar cada detalhe da complexidade destas canções, porém aparentemente simples numa audição desinteressada. Para o par de temas final, Kozelek ergue-se, larga a guitarra, e apenas de microfone em punho numa penumbra que contrasta com os holofotes que iluminam o trio acompanhante, mostra-se capaz de representar o entertainer. Ou, pelo menos, a antítese deste.
Perante a toda acústica do primeiro concerto da noite, seria expectável que Thurston Moore enveredasse pela mesma via, trazendo ao palco temas recolhidos do último par de álbuns em nome individual. Ao invés, o ex-Sonic Youth, à frente de um trio no qual pontifica o velho companheiro Steve Shelley na bateria, fez questão de mostrar os seus créditos ao serviço da manipulação da electricidade. O alinhamento assenta num novo álbum no horizonte, e será certamente ao desconhecimento por parte do público, mas também às muitas semelhanças entre temas, que fica a dever-se a recepção algo morna. Para fugir à monotonia, por um par de vezes Moore entre pela divagação free, aplaudida por muitos, rejeitada por outros tantos, mas bem demonstrativa das suas capacidades com uma guitarra em punho. Para o final, talvez o momento alto, pela revisitação de "Ono Soul", tema do já distante Psychic Hearts (1995), e paradigma daquele limbo entre a pop e o experimentalismo em que Thurston Moore é figura de proa.
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