"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Singles Bar #93









AZTEC CAMERA
Oblivious
[Rough Trade, 1982]




Não tendo propriamente conseguido tornar-se a fábrica de hits que se propunha ser, ninguém pode negar à escocesa Postcard Records a proeza de trazer alguma cor ao cinzentismo post-punk. Os responsáveis imediatos foram os Josef K, e sobretudo os geniais Orange Juice. Por fim, no terceiro vértice deste triângulo do novo som da Young Scotland, o idealista Alan Horne desencantou os Aztec Camera que, mais que uma banda, eram o veículo para a pop imaculada de Roddy Frame, à data apenas um teenager já com toda a cartilha na ponta da língua. Talvez as precárias condições ao dispor do parco orçamento da Postcard não fossem as ideais para tanta ambição de imortalidade de Frame. Como consequência, o par se singles lançados com aquele selo ressentem-se de uma deficiente gravação, pese embora permitam aferir do imenso talento precoce do seu autor, quer como compositor, quer como executante da guitarra avesso aos clichés da concorrência.

Não foi preciso esperar muito, apenas que o sonho de Horne de uma "Motown indie" ruísse em escassos dois anos, para que Roddy Frame visse concretizado o reconhecimento da sua pop de travo clássico que destoava das tendências "futuristas" da época. Aconteceu por meio de "Oblivious", um tema alegadamente escrito aos 16 anos e que permanece como a pérola mais cintilante do seu reportório. Registado com as condições antes inatingíveis, é um tema ainda de um recorte dentro dos trâmites indie, porém com o lustro suficiente para não estranhar a um público mais vasto. Não surpreende então que, contra as correntes vigentes, tenha sido um hit moderado, para mais ainda com a chancela de uma independente. 

À distância de mais de três décadas, "Oblivious" é ainda um dos primeiros exemplos que nos ocorrem quando nos pedem para definir o que são os três minutos da perfeição pop. As primeiras linhas da letra são quase um manifesto de quem entra de rompante disposto a deixar marca: "From the mountain tops down to the sunny street / A different drum is playing a different kind of beat". Nestas palavras, dissimuladas no todo, resumem-se os propósitos não só de quem as escreveu, mas de todo o jovem contigente escocês apostado em mudar a face da pop. De cariz semi-acústico, "Oblivious" é profusamente melódico, expondo todo o potencial de Roddy Frame que, destemido, junta à paleta pop umas pitadas flamenco que, de improváveis, caem na perfeição na harmonia do todo. Há também os coros femininos, a urgência juvenil, e todos os estereótipos do género, mas urdidos com a sapiência de um mestre. Poucos meses volvidos, estava disponível High Land, Hard Rain, álbum superlativo que acolhia este e muitos mais temas de igual quilate. Gente como os Prefab Sprout ou The Smiths escutavam, e iam arquitectando o plano para escrever algumas das mais belas páginas da pop.


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