"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

domingo, 18 de agosto de 2013

Too many broken hearts
















Desconheço que Craig Dermody seja um australiano patriota, mas tenho a certeza que é alguém consciente da importância de alguma iconografia da cultura popular do país dos cangurus. Digo isto por causa do nome de baptismo do seu veículo musical, uma referência ao momento das vidas das personagens de Jason Donovan e Kylie Minogue em Neighbours, a infindável novela que lançou estas duas estrelas precoces de destinos diferentes para a fama mundial. Foi como Scott & Charlene's Wedding que, em 2010, lançou internamente Para Vista Social Club, um álbum de canções áridas num registo indie-pop de traça clássica que só conheceu edição extramuros no ano passado. Seguida de um EP já nos primeiros meses de 2013, a reedição do disco de estreia serviu essencialmente para preparar terreno para o brilhante sucessor.

Gravado já com Craig Dermody emigrado em Nova Iorque, para onde se mudou alegadamente no rasto de uma miúda, e na companhia de banda completa, o novo Any Port In A Storm é, desde logo, um trabalho relativamente mais polido. No entanto, ainda exibe rugosidade em doses assinaláveis, e uma postura de quase arrogância, herdada de mestres do lema que-se-foda como Television ou The Only Ones. Refira-se, contudo, que as principais referências assentam nas tendências indie-pop de inícios de noventas, mormente pela evocação do sentido melódico de uns Lemonheads ou o sarcasmo de uns Pavement, elementos bem dissimulados numa proposta deveras personalizada. Se a música, seca mas orelhuda, é um petisco para tímpanos habituados a algumas imperfeições, é na capacidade para urdir letras inteligentes que reside o grande trunfo de Craig Dermody. Uma espécie de diário da vida na Grande Maçã de um desterrado de Melbourne, Any Port In A Storm contém algumas confissões de coração partido, bem como muitas crónicas da realidade da imigração e dos empregos precários, tudo confeccionado com o cepticismo suficiente para nem sequer se aproximar da fronteira da auto-comiseração.

"Lesbian Wife" [Fire, 2013]

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