John Dwyer faz parte daquela estirpe rara de músicos incansáveis, daqueles cuja hiper-actividade é difícil de acompanhar até pelo seguidor mais acérrimo. Tem sido essa a metodologia com os Thee Oh Sees, o combo que encabeça e que, no curto espaço de sete anos, já rendeu a impressionante soma de onze álbum de estúdio. É também nome de culto junto da crescente falange da retromania, já que a sua música não esconde uma profunda afeição pelas sonoridades "garageiras" de sessentas, com um modus operandi respeitador pelos princípios lo-fi.
Com o mais recente Floating Coffin, Dwyer vem baralhar um pouco as contas, já que este é o seu trabalho mais robusto em termos de gravação, uma quase rendição à "alta-fidelidade". É também um mergulho assumido na psicadelia, algo que já estava latente no passado recente em esboços de alienação rock'n'roll. Extremamente enérgico, Floating Coffin é percorrido por um manancial de riffs insidiosos, acompanhados por um órgão inebriante e pelos falsettos tresloucados de John Dwyer, muitas vezes impossíveis de distinguir dos momentos em que Brigid Dawson dá um ar da sua graça no microfone. Quando os Thee Oh Sees concedem um abrandamento para recuperar fôlego, como acontece no planante "No Spell", a um sentir kraut que confirma que as musicalidades mais marginais andam sempre próximas. Perante a dificuldade subjacente à quantidade e à qualidade da oferta de o eleger como o melhor trabalho dos Thee Oh Sees, como tem acontecido nalguns quadrantes, faço-lhe a devida justiça ao proclamar Floating Coffin uma das trips musicais mais delirantes do ano corrente. Com capa a condizer, é preciso que se diga.
"Toe Cutter - Thumb Buster" [Castle Face, 2013]
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