"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

I hate myself and I want to die

















É no mínimo estranho o caso dos norte-americanos Superchunk, que em casa são vistos como uma autêntica "instituição" indie, e na Europa nunca foram além da adoração de uns quantos ao longo de quase um quarto de século de história. Mais incompreensível se torna a indiferença do Velho Continente se referirmos o facto de o vocalista Mac McCaughan e a baixista Laura Ballance serem os fundadores da Merge Records, uma das editoras independentes mais bem sucedidas na actualidade, ou que o baterista Jon Wurster, além de comediante, tem sido convidado a colaborar com uma infinidade de bandas e músicos bem estabelecidos junto do público europeu. O que é certo é que, desde a sua formação em 1989 em Chapel Hill, que à data era uma espécie underground daquilo que Seattle se tornaria em breve, já lançaram uma dezena de álbuns, qualquer deles pejados daquela estirpe de canções que condensam o espírito e a energia juvenis. Talvez derivado às actividades extra-curriculares, o ritmo de edições abrandou na década anterior, com o silêncio de quase dez anos interrompido apenas pelo fulgurante Majesty Shredding (2010), que sossegou os fiéis quanto aos rumores de um fim.

Com o novo e altamente recomendável I Hate Music, os Superchunk confirmam que o regresso foi para ficarem por muito mais tempo. Para tal não precisam de acrescentar algo de novo, tal como acontece neste disco, que um "especialista" deverá considerar um dos mais coesos do reportório. No entanto, e não obstante ainda se opere naquela encruzilhada do reboliço da punk-pop com a melodia contagiante da power-pop, há nestes onze temas algo de reflexivo, por vezes ensombrado, tornando óbvio que a inevitabilidade da meia-idade toca a todos. Consta que as palavras, por vezes pesarosas, que saem do habitual timbre nasalado de McCaughan foram inspiradas pela morte de um amigo próximo da banda, o que faz com que I Hate Music tenha a pairar sobre si a sombra da mortalidade, mas não deixando, contudo, de ser uma celebração da vida enquanto ela dura. A título de exemplo remeto-vos para para o curto "Staying Home", obviamente sobre a falta de vontade para saídas nocturnas, que por acaso é um dos petardos mais noisy da carreira dos Superchunk. De resto, e com alguma atenção às letras, a facção music geek não vai ficar indiferente à abordagem de assuntos como as descobertas e partilhas musicais da juventude a servirem de ponto de partida para amizades eternas, como acontece no exemplar abaixo, ou das sensações e arrepios, misto de felicidade e nostalgia, sentidos no final de mais um festival rock, no momento em que procissão abandona o recinto ("Trees Of Barcelona"). Posto isto, penso que nem é preciso dizer que, vindo de gente como os Superchunk, que entregaram a sua vida à música ("What Can We Do", dizem-nos no tema de encerramento com chave de ouro), um título como I Hate Music só pode ser sarcástico.

 
"Me & You & Jackie Mittoo" [Merge, 2013]

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