"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 9 de outubro de 2012

The future is unwritten
















Não estarei a acrescentar nada de novo ao que tem sido dito e escrito ao afirmar que os A.R. Kane são a mais criminalmente esquecida banda da ebulição indie de finais de oitentas e inícios de noventas. Formados por Alex Ayuli e Rudi Tambala, dois negros de dreadlocks que causaram estranheza no meio, quase exclusivamente branco, desde cedo despertaram a cobiça da principais editoras de então, tendo, inclusive, editado por três selos de renome: primeiro pela One Little Indian, depois pela 4AD, por fim pela Rough Trade. 

Os primeiros passos deram-nos ainda na vigência do fuzz-pop pós-C86, mas já indicando novas pistas para um "género" que parecia confinado à escassez de ideias. Já na editora de Ivo Watts-Russell, foram co-responsáveis (juntamente com os Colourbox, sob a desiganação M/A/R/R/S) por "Pump Up The Volume", tratado de samplagem cujo sucesso retumbante quase ditava o fim da inexperiente 4AD. Pela mesma editora teriam apenas um EP (Lollita, de 1987), já nos meandros de uma dream-pop de alto teor experimentalista. Chegados à Rough Trade, os A.R. Kane chegaram também aos álbuns, o primeiro dos quais - 69, de 1988 - constitui a afirmação absoluta como arquitectos sonoros que teriam influência determinante nos desenvolvimentos dos My Bloody Valentine de Loveless. Do ano seguinte, "i" alinha por um avant-pop contaminado de funk que, num passado recente, teve ecos nos TV on the Radio ou nos aparentados Apollo Heights. Impressionado pela sonoridade única e aventureira da dupla, David Byrne lançaria, através da sua Luaka Bop, a compilação Americana (1992), destinada a promover os A.R. Kane junto do público norte-americano. Esta manobra seria condenada ao fracasso, e foi já em desagregação que a parelha editaria o terceiro e derradeiro New Clear Child (1994), este a revelar inclinações soul a cada recanto.

Por ironia do destino, no mesmo ano em que os "seguidores" My Bloody Valentine receberam igual tratamento, a One Little Indian acaba de editar Complete Singles Collection, compilação de dois discos com todos os temas incluídos pelos A.R. Kane nos seus muitos lançamentos em pequeno formato entre 1986 e 1994. Ao todo são 33 temas, muitos deles remisturas fortemente marcadas por um elemento dub que, não só confere um certo apelo dançante, como realça a veia lisérgica da música dos A.R. Kane. Alinhada por ordem cronológica, esta compilação é um documento essencial para quem procura compreender os desenvolvimentos da pop mais inconformista do último quarto de século e até, arrisco, da do futuro que nos espera.

 
"Green Hazed Dazed" [Rough Trade, 1988]

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