Na altura do meu primeiro contacto com os australianos Tame Impala ainda estes eram uns autênticos putos (antes que venham com conjecturas de mau-gosto, esclareça-se que ainda eram um trio inteiramente masculino), surpreendentemente, para aquela idade, fascinados com o mundo da psicadelia sessentista. Em carteira tinham apenas um EP que, embora demasiado derivativo de uns Cream ou até de Hendrix, deixava antever algum potencial aos miúdos das antípodas. Entretanto, chegou o tão badalado álbum Innerspeaker (2012), viragem dentro do espectro psicadélico para uma abordagem mais próxima da pop, por vezes a tanger os fab four, e com ele a certeza de que os Tame Impala eram para se seguir com atenção.
Para tirar as teimas, aí está Loneirism, o novíssimo segundo álbum cujo título reforça a ideia de que esta gente cresce a enaltecer as benesses da solidão. Para o caso, talvez interesse referir que os Tame Impala vêm de Perth, conhecida como a metrópole mais isolada do mundo, o que poderá ter neles a mesma influência que teve na aura de alienação da música dos conterrâneos The Triffids, há vinte e tal anos. Passando à música contida na rodela, as diferenças estéticas - sempre dentro da psicadelia, como uma espécie de reactualização da coisa - relativamente ao antecessor são notórias. Logo no começo, sente-se um apelo das raízes, expresso numa batida tribal que, por mais do que uma vez, assoma ao longo do disco. As influências são agora mais difusas, com as aproximações beatlescas a resumirem-se aos escassos momentos em que a voz de Kevin Parker se assemelha à de Lennon, enveredando agora, na maioria dos temas, por uma espécie de semi-falsetto. Embora omnipresentes, as guitarras perdem terreno para os teclados, alargando os segmentos instrumentais em regime quase jam, e conferindo ao álbum uma certa uniformidade. Do todo, pressente-se um desejo de aspirar à grandiosidade, facto a que será alheio o envolvimento de Dave Fridmann, homem versado nesta "matéria", que alegadamente coadjuvou Kevin Parker na produção de Loneirism. Curiosamente, e em sentido contrário à tendência dominante, os Tame Impala escolheram para primeira amostra o tema em que os delírios guitarrísticos se revelam mais prementes:
"Elephant" [Modular, 2012]
1 comentário:
Vi-os há pouco tempo num local exíguo, e deram um belo concerto. Ainda continuam a ser um colectivo inteiramente masculino (5 putos ao vivo).
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