De quando ouvi pela primeira vez Play It Strange (2010), o terceiro álbum dos franciscanos The Fresh & Onlys, lembro-me de ter ficado agradado pela forma como a banda conseguia extrair melodias catchy de temas que enveredavam por via de psicadelia que já não é destes tempos. Era um disco declaradamente ancorado na década de sessentas, e talvez pela sua rugosidade vagamente lo-fi, só gradualmente assimilável. O deslumbramento foi, por isso, um processo por etapas, que só conheceu o auge num concerto de fim de tarde de boa memória. A partir daí, o interesse pelos The Fresh & Onlys tornou-se quase obsessivo, passando, obrigatoriamente, pela necessidade de conhecer o restante trabalho.
Um devoto convicto e confesso só pode sentir-se agraciado com o novo Long Slow Dance, lançado há coisa de mês e meio. As premissas deste disco são as dos anteriores, porém, os The Fresh & Onlys destaparam as novas canções daquela nebulosa que as cobria, deixando revelar mais imediatamente a veia pop que lhes está intrínseca. A reverberação ainda é uma presença, engrandecendo cada tema naquela forma muito sessentista, muito west coast, que tem nos Byrds os maiores embaixadores. No jangle das guitarras há agora também algo dos seguidores daqueles em meados da década de 1980. No entanto, toda a sedução de Long Slow Dance não deve ser menorizada por assentar em referências tão vincadas, antes deve ser enaltecida pela grandeza do mentor Tim Cohen enquanto escritor de canções. Recomendo que se arrume junto de Bend Beyond, o novo e mui recomendável dos Woods, parentes próximos que também, aos poucos, se aproximam de uma linguagem pop, fazendo com que perdurarem as nossas memórias dos fins de tarde do Verão que já lá vai.
"Presence Of Mind" [Mexican Summer, 2012]
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