"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Da tragédia ao êxtase















Deixem-me fazer futurologia e prever, para breve trecho, grandes parangonas para Julia Holter. Por ora, nas chamadas "franjas", o burburinho é já quase ensurdecedor. O motivo de todo o falatório são os dois discos que esta californiana editou no curto espaço de sete meses. Qualquer deles é merecedor daquele rótulo de "incatalogável", tão adequado quando o produto que se nos oferece congrega elementos da folk, da electrónica, da música erudita, ou da pop barroca, e ainda assim soa mais coeso e personalizado do que 99,5% da produção musical da última meia dúzia de anos. Sem desprimor, poderemos sempre referir que o trabalho de Holter não disfarça ecos das propostas mais arrojadas de uma Laurie Anderson ou de uma Kate Bush. Contudo, estaríamos a ser clamorosamente redutores ao confiná-la aos nichos específicos daquelas duas.

O primeiro desses discos, mas o segundo no catálogo da moça, é Tragedy, caído como uma nuvem plúmbea no pico do Verão do ano passado. Denso e quase monolítico, carrega um negrume que é também o de uma tal EMA, outro fruto atípico gerado sob o sol intenso da Califórnia. Também neste particular, Julia Holter faz questão de se demarcar da comparação fácil ao sublinhar a faceta "esquizóide" que o ouvinte com ouvidos desempoeirados assimila com um par de audições. Já deste ano, o mais recente Ekstasis é aquilo a que habitualmente chamamos evolução na continuidade. Igualmente arrojado na fuga à previsibilidade, é talvez até mais rico nos detalhes, com o piano a ganhar algum destaque. É também - pasme-se! - algo radioso e substancialmente mais arejado, pese embora pareça ter uma maior carga de intimismo. Qualquer deles irá, previsivelmente, merecer destaque no concerto já marcado pela ZdB para a Igreja de St. George, ali ao Jardim da Estrela. Será a 27 de Junho próximo, dia que, de resto, já está assinalado com um círculo vermelho no calendário de parede.

"Try To Make Yourself A Work Of Art" [Leaving, 2011]

   
"Moni Mon Amie" [RVNG Intl., 2012]

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