"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Ao vivo #86

















Foto: JN

Optimus Primavera Sound @ Parque da Cidade - Porto, 09/06/2012

Perante a falta de vontade (ou de engenho, ou de interesse) dos promotores nacionais em apostar em cartazes de festivais que não sejam apenas mais-do-mesmo, nada como uns bons ventos vindos de Espanha. Ainda que substancialmente menos recheado que o congénere catalão, o primeiro Primavera Sound portuense soube atrair um público numeroso que procura nos festivais algo mais que o previsível "banda consagrada decadente + hype efémero do momento". Quem não esteve pelos ajustes foi o São Pedro, que sabotou o início do último dia de concertos no Parque da Cidade com uma irritante chuva, miúda mas persistente, o que me leva a ponderar se não estará o santo ao serviço dos ditos promotores roídos de inveja. Mesmo em processo de recuperação física e emocionalmente do festival-mãe, não pude deixar de marcar presença, ainda que só por um dia. O cartaz de sábado assim o exigia, e as gentes mais hospitaleiras que existem neste rectângulo também. Portanto, houve convívio, mas também alguns concertos. Cinco ao todo, relatados nas breves linhas que se seguem:

Spiritualized
Prejudicados pelo horário (19h00?), pela teimosia da chuva, e pelo som demasiado baixo, não lograram os níveis de empolgamento do festival catalão. Ainda assim, J Spaceman e a banda que lhe tem servido de suporte presentearam os corajosos com um concerto de bom nível, com alinhamento alternado pelos (poucos) temas do novo álbum, os "hits" do magistral Ladies And Gentlemen..., o devaneio psicadélico em loop, e o inevitável recuo ao tempo dos seminais Spacemen 3. À falta de melhor atestado para o sucesso do espectáculo, refira-se a resistência às condições adversas por parte do público, que na sua esmagadora maioria não arredou pé até final.

The Afghan Whigs
Com condições diametralmente opostas, Greg Dulli e os seus foram absolutamente demolidores. O horário mais tardio, o som com um volume monstruoso e uma limpidez próximo da perfeição, e a entrega absoluta de um número considerável de fiéis, foram meio caminho andado para o melhor concerto realizado em solo luso nos últimos meses. O outro meio foi o próprio Dulli, com a voz numa forma assombrosa, ainda capaz de exprimir todo o angst berrado das mais viscerais canções de dor-de-corno. As pontes com a música negra são por demais evidentes, isto apesar da fúria incessante das guitarras. Tal união de contrastes não poderia ter final mais feliz, quando, em jeito de remate, "Faded" se funde com um assomo de "Purple Rain", do pequenote de Minneapolis.

Wavves
Momento mais dado ao convívio do que propriamente ao desenrolar dos acontecimentos em palco. Apesar da desatenção, pude verificar que Nathan Williams e seus acólitos agitadores persistem na demanda de fazer do surf-punk uma festa recheada de pequenas provocações. Pelo canto do olho, verifiquei que "So Bored" e a versão de "100%" foram motivo para significativa agitação da turba mais próxima do palco.

Saint Etienne
Por falar em festa, faça-se descer a bola de espelhos! A banda sonora fica a cargo de Sarah Cracknell e companhia. Para os convivas, trazem um manancial de canções que, apesar de invariavelmente resvalarem para o Ibiza-touch ou para o easy listening de hotel burguês, mantêm-se sobriamente do lado de cá da fronteira do bom-gosto. Pena foi que o público não tivesse aderido em maior número a esta lição de história da pop ministrada numa versão ligeirinha.

The xx
Tenho uma especial simpatia por estes miúdos, tantas vezes injustiçados pelas dualidades de um hype que não pediram. Se em disco há que lhes reconhecer o feito de desenvolver canções dignas desse nome assentes numa base dubstep, é no palco que essas mesmas canções, prenhes de uma ingenuidade apaixonada, ganham toda a sua dimensão. Para tal, usam os recursos mínimos, sem quaisquer artifício supérfluo: uma guitarra esparsa, um baixo, os beats e os samples certeiros de Jamie xx, e duas vozes em de uma contenção próxima do sussurro em constante diálogo. Trazem novos temas de um álbum que se avizinha, e que, a julgar pela amostra, desenvolve uma veia mais orgânica sem, contudo, descaracterizar a premissa inicial. No passado sábado, o público de milhares não merecia aquela irritante falha técnica da distorção dos graves durante demasiado tempo para ser admissível em profissionais no seu ofício. Muito menos a banda, que na sua timidez juvenil quase militante, se mostrou imperturbável.

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