"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Selo de Qualidade #3












SARAH RECORDS
Bristol, Inglaterra [UK], 1987-1995

Fundada por Clare Wadd e Matt Haynes, a Sarah Records ficará para sempre conotada com essa expressão da inocência à qual convencionou chamar-se twee-pop. O último tinha já algum currículo como editor da fanzine Are Scared To Get Happy?, uma das muitas fundamentais para a emergência indie do Reino Unido de meados de oitentas, coroada na C86, a já mítica cassete oferecida pelo New Musical Express. Um pouco à semelhança da já estabelecida Creation Records, o objectivo da Sarah era recuperar e celebrar o espírito pop de sessentas, privilegiando o single em detrimento do álbum, formato que, na opinião destes puristas, matou esse mesmo espírito. A grande diferença no trajecto das duas editoras reside precisamente na maior resistência da Sarah à tentação de editar álbuns.

Numa primeira fase, a história faz-se essencialmente de edições frequentes de três bandas: The Sea Urchins (que figuraram na citada C86), Another Sunny Day (banda especialmente indicada a quem acha The Smiths demasiado mainstream), e os escoceses The Orchids. Neste período, a "aves raras" do catálogo eram os 14 Iced Bears, já com edições noutros selos e a ensaiar timidamente a rendição ao psicadelismo, e The Springfields, banda que serviu de embrião aos power-poppers Velvet Crush e que provinha dos Estados Unidos. Com um apoio firme da rádio e da imprensa especializadas, e promovendo festas vespertinas especialmente dirigidas à "tribo dos anoraques", rapidamente a Sarah se tornou a editora de eleição para um largo número de jovens que não se reviam nos tiques sexistas normalmente associados à música que povoava as tabelas de vendas.

Depois da afirmação, o período dourado, aquele que fica marcado pelas duas grandes "vedetas" do catálogo, às quais pertence uma boa parte dos escassos álbuns editados pela Sarah - The Field Mice e Heavenly. Os primeiros são, eventualmente, a banda com uma sonoridade mais elaborada na história da editora e foram fortemente divulgados pelo influente John Peel, enquanto os últimos integravam Amelia Fletcher, antiga líder dos seminais Talulah Gosh e uma espécie de heroína na nação twee. Nesta fase convém também destacar os escoceses The Wake, banda já com um largo historial que, no início, integrou um Bobby Gillespie pré-Mary Chain e pré-Primal Scream.

Na década de 1990, com a música de guitarras a seguir outras tendências (shoegaze, grunge, lo-fi), a Sarah conheceu a perda de protagonismo e o consequente declínio. À parte a prossecução da carreira dos Heavenly, com edições regulares, neste período merecem destaque os Boyracer, relativamente mais enérgicos que o restante catálogo, os norte-americanos Aberdeen, e os deliciosos Blueboy, banda cujo nome remete inevitavelmente para os Orange Juice, outra das fontes de inspiração predilectas da brigada twee.

O fim premeditado ficou assinalado pela edição da compilação retrospectiva There And Back Again Lane (o nome de uma rua em Bristol), justamente o centésimo lançamento com selo da Sarah. Nos dias que correm, o saudosismo e o espírito da Sarah são perpetuados por um extenso rol de editoras. Entre elas, destaque para a norte-americana Slumberland Records, responsável, juntamente com a incontornável Cherry Red, por um bom número de reedições do catálogo da seminal Sarah.


12 SINGLES ESSENCIAIS


  • The Sea Urchins _ Pristine Christine [1987]
  • Another Sunny Day _ Anorak City [1988]
  • 14 Iced Bears _ Come Get Me [1988]
  • The Springfields _ Sunflower [1988]
  • Another Sunny Day _ I'm In Love With A Girl Who Doesn't Know I Exist [1988]
  • The Field Mice _ Emma's House [1988]
  • The Wake _ Crush The Flowers [1989]
  • The Field Mice _ Sensitive [1989]
  • The Orchids _ What Will We Do Next? [1989]
  • Heavenly _ I Fell In Love Last Night [1990]
  • Blueboy _ Popkiss [1992]
  • Heavenly _ P.U.N.K. Girl [1995]


2 comentários:

O Puto disse...

Caro M.A., podes acrescentar o teu nome às editoras Cherry Red e Slumberland como responsáveis pela recuperação das sonoridades da Sarah Records. Abraço!

M.A. disse...

Epá, ruborescido, agradeço o reconhecimento, mas duvido que este pasquim tenha uma penetração na proporção do óptimo trabalho dessas duas editoras.

Abraço!