Não deve ser fácil a vida dos seguidores mais acérrimos de Robert Pollard, tal o caudal de edições com que este os presenteia. Só desde que desmantelou os Guided by Voices, no final de 2004, e entre discos em nome próprio ou com os mais variados projectos, a coisa já ultrapassa largamente as duas dezenas. O melhor de tudo isto é que, pelo menos nos casos com que tomei contacto, a média qualitativa é consideravelmente alta.
Tal como julgo que não deverá ser fácil a vida dos restantes integrantes dos Boston Spaceships (o multi-instrumentista Chris Slusarenko e o baterista John Moen, este também dos The Decemberists), permanentemente confrontados com o fantasma de uma entidade como os GBV. Mas nada que pareça afectar a produtividade do trio pois, nos três anos que leva no activo, aquele que é talvez o mais visível dos projectos actuais de Pollard conta já cinco álbuns. O mais recente é Let It Beard, um duplo definido pelos próprios como "a subconscious concept album about the sorry state of rock and roll" (mais um, portanto!).
Mas nada disto seria grande novidade se este não fosse um fulgurante trabalho, sem qualquer ponta de exagero, capaz de ombrear com os melhores discos da extensa obra dos GBV. E, como bónus, desta feita os 26 temas não se limitam a ser meros esboços, mas sim canções de corpo inteiro. Apesar da variedade estilística, não passam, como já habitual no seu autor, de extensões da profunda adoração de Pollard por bandas como The Who e The Beatles, ainda que soem como gravados ao primeiro take. Por fim, para desfazer o cepticismo daqueles que julgam o lo-fi como algo desprovido de qualquer técnica, enumerem-se alguns dos ilustres convidados, todos com créditos firmados na arte de manusear as cordas da guitarra: J Mascis (Dinosaur Jr.), Steve Wynn (Dream Syndicate), Colin Newman (Wire), e Mick Collins (The Dirtbombs). Segue uma amostra, uma das muitas possíveis que não envergonham Pete Townshend da sua descendência:
"Tabby And Lucy" [Guided by Voices Inc., 2011]
2 comentários:
este gajo não pára de surpreender; é uma espécie de morto-vivo, daqueles que se volta sempre a por em pé. e ainda bem. em super 8, o filme, cuja história é passada nos arredores de dayton, ohio, há um extraterrestre que tenta regressar a casa. pelos vistos não é o único ser de outro planeta a vaguear no local; pollard, no entanto, prefere concentrar as sua energias e poderes extraterrestres na arte de fazer discos. abraço,
Incrível, como o gajo consegue arranjar tempo e, sobretudo imaginação! São uma das bandas que ainda me falta ver, os GBV, mas ainda não perdi a esperança. Até já estou a a imaginar a coisa: hora e meia, 45 canções e 30 cervejas...
Abraço.
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