"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Discos pe(r)didos #56








THE CLIENTELE
Strange Geometry
[Merge, 2005]




Embora funcionado como banda de corpo inteiro, os londrinos The Clientele são, acima de tudo, o veículo para a expressão musical muito peculiar de Alasdair MacLean, vocalista, guitarrista, e compositor em exclusivo. Contando com a fase intermitente dos primórdios, levam já duas décadas de actividades, vinte anos a alimentar o estatuto de segredo mais bem guardado da pop britânica. Eu próprio me penitencio pelo pecado de só tardiamente os ter descoberto. De então para cá, tenho tentado redimir-me, explorando a fundo toda a sua discografia que, até ao momento presente, ainda não apresenta mácula.

Como disco mais representativo desse catálogo elejo Strange Geometry, o segundo álbum (há também um compilação de singles prévia que deve entrar nas contas), talvez por ser aquele que assinala a maturação do conceito The Clientele. Conceito esse que consiste numa essência pop profundamente letrada, com forte carga de dramatismo e melancolia. A dose de romantismo incurável poderia remeter para alguma twee-pop, não fosse a sobriedade adulta desta dúzia de canções apontar mais para a sofisticação pop professada por bandas de meados de oitentas como Pale Fountains e Prefab Sprout. Na actualidade, não é descabido estabelecer paralelismos com os Belle & Sebastian, embora não exista na dos londrinos uma deriva bucólica tão acentuada como na música dos escoceses.

Nem de propósito, a "epifania" ocorreu com "Since K Got Over Me", tema que abre Strange Geometry fazendo a introdução do lado mais poppy e catchy que a banda conheceu. Desde logo, nota-se um especial cuidado na produção que, acentuando a reverberação, permite à voz sentida de MacLean destacar a importância das palavras. E até ao final, com "Six Of Spades", pressente-se que essas palavras expiam os demónios de uma relação sem final feliz. Com alguma habilidade, e ao invés de dirigir o discurso à outra variável da equação amorosa, MacLean prefere centrar a escrita no cenário desse affair, mais concretamente a cidade de Londres. Com um detalhe quase cinemático, detém-se longamente sobre as ruas, os edifícios, as praças, os jardins, dando assim uma possível explicação para a "geometria" a que alude o título. O desquite com a cidade é assumido em "Losing Haringey", um tocante monólogo totalmente falado que funciona como nota de despedida, francamente exasperante, àquele cenário carregado de recordações

Ao longo de todo o alinhamento, as canções não revelam variações de maior entre si, funcionado antes como um todo, sóbrio e elegante, adornado por arranjos de cordas de extremo bom-gosto. A voz raramente se eleva, com as excepções, ainda que breves, dos picos emotivos de "When I Came Home From The Party" e "Spirit". Por outro lado, "K" (a insistência nesta letra lança suspeitas sobre a eventual referência a um nome feminino), "E.M.P.T.Y.", e "Step Into The Light" assumem algum risco pela experimentação, nomeadamente pelo uso discreto da dissonância.

Há coisa de dois anos, e gerados por declarações algo enigmáticas do próprio mentor, surgiram rumores de um possível fim dos The Clientele. Felizmente, o desmentido foi rapidamente avançado com Minotaur, o mui recomendável mini-álbum do ano passado que sacudiu alguma estagnação da fórmula musical. Talvez com o intuito de evitar algum desgaste, MacLean envolveu-se recentemente em Amor de Días, projecto conjunto com a espanhola Lupe Núñez-Fernández, vocalista do duo Pipas.


"Since K Got Over Me"


"(I Can't Seem To) Make You Mine"


"Losing Haringey"

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