"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Primavera en el Otoño















Em Madrid, de quarta a domingo com...

Beach Fossils » DJ Coco » Eat Skull » Edwyn Collins » Frankie Rose & The Outs » Ganglians » Holy Fuck » Jaill » The Jim Jones Revue » John Grant » Josephine Foster & The Victor Herrero Band » Lou Barlow » Male Bonding » Tamaryn » Teenage Fanclub » Twin Sister » Wavves » Wild Nothing » Zola Jesus » e mais uns quantos...

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Singles Bar #55








THERAPY?
Teethgrinder
[A&M, 1992]




Episódio particular do começo da década de 1990, período do regresso em força das guitarras ruidosas, os Therapy? são a típica banda que ficou aquém das expectativas de crescimento. Pelo sucedido, há que atribuir a quota de  responsabilidade aos próprios que, ao enveredar por uma negritude pouco séria, acabariam por se tornar em algo de caricatural. Numa era em que as tribos ainda eram bem delimitadas e fundamentalistas, o posicionamento (involuntário) entre o metal e o chamado rock alternativo também não ajudou a angariar seguidores de ambos os lados da barricada. O que é certo é que, numa fase inicial, o trio oriundo da provinciana Irlanda do Norte conseguiu arrebitar uns quantos fiéis, com um rock ruidoso, musculado, e interventivo, tipicamente pós-hardcore e a prestar vassalagem - como de resto nunca foi escondido - aos Fugazi. Datam desse período um punhado de temas que persistem na memória. O culminar desse período é "Teethgrinder", single promocional do álbum de estreia (Nurse, de 1992) que traz a novidade de um imparável e fustigador ritmo maquinal. As letras, directas como era apanágio dos Therapy?, remetem para o lado mais sinistro e íntimo do sono/sonho. Menos tétrica é uma ligeira inanidade tresloucada, expressa no riff gingão e nas pancadas secas e esparsas da bateria, algo que a banda parece ter recebido dos Pixies. O vídeo respectivo é povoado por imagens fortes, tão em voga em tempo de tensão pré-milenar.

First Exposure #23
















YOUNG PRISMS

Formação: Stefanie Hodapp (voz); Jordan Silbert (btr, voz); Jason Hendardy (gtr, voz); Matthew Allen (gtr, voz); Giovanni Betteo (bx, voz)
Origem: San Francisco, Califórnia [US]
Género(s): Indie-Rock, Noise-Rock, Nu-Gaze, Psych-Rock
Influências / Referências: My Bloody Valentine, Psychic Ills, Serena-Maneesh, Weekend, Slowdive

http://www.myspace.com/youngprisms

domingo, 21 de novembro de 2010

Em escuta #53












SURF CITY _ Kudos [Arch Hill, 2010]

Com a lendária Flying Nun numa espécie de stand-by, tornam-se difíceis a descoberta e divulgação de novas bandas surgidas na Nova Zelândia. Há raras excepções, como o caso destes Surf City, revelados há 2/3 por um EP homónimo que, nas sonoridades, fazia jus ao nome (inspirado num velhinho tema dos Mary Chain) da banda. Para a estreia em formato longo há uma mudança de azimutes, agora apontados para as memórias da melhor música daquele país das antípodas, bem expressas na evocação de um som indie chocalhado e vagamente psicadélico, tal como antes professado por The Clean e The Chills dos primórdios. Depois do frenesim inicial, Kudos intensifica o mergulho psych na segunda metade. As duas partes são delimitadas pelo inesperado devaneio à la Animal Collective de "Yakuza Park", número que, felizmente, não conhece repetição. [8]


WEEKEND _ Sports [Slumberland, 2010]

Disco associado à Slumberland Records sugere, habitualmente, inocência twee e melodias solarengas. Na facção tensa, a editora de Washington, D.C. já nos tinha oferecido o cinzentismo dos Crystal Stilts, mas nada que nos preparasse para a negritude opressiva destes Weekend, trio californiano com um pé na pulsão post-punk e outro no shoegaze mais austero. Parentes dos A Place to Bury Strangers, menos rítmicos e mais monolíticos, citam amiúde o minimalismo e as vozes imersas dos Joy Division, a batida marcial dos Killing Joke, e as camadas de distorção e delay dos My Bloody Valentine. Mais do que a mera soma das partes, Sports é um mergulho num fascinante, e muito peculiar, mundo de sombras. [8,5]


THE BLACK ANGELS _ Phosphene Dream [Blue Horizon, 2010]

Para os Black Angels o mundo parou em 1967. O colectivo texano habita um universo psicadélico (e psicótico), expresso nas magníficas capas que têm dado à estampa, no qual integra a rebelião contra as forças opressoras. Para eles, os conflitos armados do presente são reencarnação da geração que viveu o Vietname. Para além de uma nova editora, neste terceiro álbum reservam pequenas operações de cosmética, tais como o menor protagonismo dado à drone machine e o vincar do pretensiosismo messiânico que o vocalista Alex Maas herdou de um tal Jim Morrison. Denota-se também um certo apelo por um primitivismo que remete para uma América profunda. Sem ser um mau disco, Phosphene Dream padece da falta de novidades. Recomenda-se sobretudo a iniciados e desaconselha-se aos restantes. [6]


THE INTELLIGENCE _ Males [In the Red, 2010]

Com renovado interesse por parte das novas gerações, o garage-rock tem procurado manter vivo o espírito primordial do rock'n'roll, algo que implica fisicalidade e muita transpiração. São constantes os relatos de concertos ultra-enérgicos proporcionados por bandas cultoras do género. Em disco, porém, escasseiam as ideias que fujam da norma instituída. As excepções surgem a espaços, como é o caso destes The Intelligence, projecto pessoal de Lars Finberg que, antes daqui chegar, já contava com uma mão cheia de álbuns sob a mesma designação. O que diferencia Fingberg de muitos dos seus pares é a capacidade para urdir canções orelhudas sem abdicar dos riffs insidiosos e da atitude transgressora. As letras são inteligentes, profusamente irónicas, e tão subversivas quanto manda a cartilha. Longo de apenas 25 minutos, Males é um compêndio de breves estilhaços pop-punk que sacode o corpo sem misericórdia. [7,5]


WARPAINT _ The Fool [Rough Trade, 2010]

Quatro jovens angelinas, bonitas e sonhadoras, relativamente talentosas, são estas as Warpaint, motivo de crescente buzz junto de imprensa e público. Se no EP de baptismo a receita de harmonias vocais e guitarras delicadas proporcionava um breve momento de retemperadora pacificação, na prova de fogo de The Fool, a extensão do disco arrasta-nos para um relativo torpor a meio da audição. Como fruto abastardado da união dos Cocteau Twins e dos The Sundays, os nove temas que o compõem primam por uma contenção quase infantil que carece do gene dramático dos progenitores, algo que parece espreitar a cada recanto mas que rapidamente se dilui nas melodias em círculo. [6,5]

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Mixtape #6 - Candy Girls



Com este, o April Skies conta já com 1000 posts publicados. Tão redondo número não podia passar despercebido à gerência, que decidiu presentear a meia dúzia de gatos pingados que vão passando por cá com mais uma pequena compilação criteriosa e laboriosamente elaborada. Desta feita, os 15 temas seleccionados têm em comum as vozes femininas, integradas em bandas total ou parcialmente constituídas por senhoras. A opção deriva simplesmente da constatação do relevo que o erroneamente designado sexo fraco tem vindo a ganhar no espectro indie-pop - habitualmente celebrado neste pasquim, caso ainda não tenham reparado - do último par de anos. Ao vosso dispor, deixo muita ingenuidade dissimulada, mas também alguma sinceridade sonhadora; muito fuzz, mas também algumas melodias celestiais. Desaconselhável a diabéticos.

01. TRAILER TRASH TRACYS _ "Candy Girl"
02. VIVIAN GIRLS _ "Before I Start To Cry"
03. WEED HOUNDS _ "Beach Bummed"
04. BEST COAST _ "Boyfriend"
05. GRASS WIDOW _ "Shadow"
06. BETTY & THE WEREWOLVES _ "Paper Thin"
07. BLACK MATH _ "Part Of Me"
08. FRANKIE ROSE & THE OUTS _ "Candy"
09. TENDER TRAP _ "Do You Want A Boyfriend?"
10. VERONICA FALLS _ "Beachy Head"
11. DUM DUM GIRLS _ "Bhang Bhang, I'm A Burnout"
12. TWIN SISTER _ "Lady Daydream"
13. BRILIANT COLORS _ "Highly Evolved"
14. TENNIS _ "Marathon"
15. WARPAINT _ "Undertow"

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Mil imagens #11


Ride - Oxford, 1990
[Foto: Joe Dilworth]

Um dia, Alan McGee, o ideólogo da Creation Records, disse que, enquanto os My Bloody Valentine e os Primal Scream levaram anos para se firmarem, os Ride foram a única banda que lhe passou pelas mãos a atingir a genialidade à primeira tentativa. Tal proeza ganha outras proporções se tivermos em conta que, aquando do genial Nowhere (1990), todos os elementos da banda tinham acabado de entrar na idade adulta. A pureza juvenil ganha outro realce quando combinada com um ambiente bucólico, em contraste com a neurose urbana normalmente sugerida pela música dos Ride. O responsável pela captação de tão feliz instante foi Joe Dilworth, fotógrafo britânico que tem seguido as franjas da música produzida no Reino Unido nas últimas duas décadas. Além disso, assumiu as funções de baterista nos agora ressuscitados e mui recomendáveis Th' Faith Healers.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Rip it up and start again


Aproxima-se a passos largos a altura dos balanços finais de ano. Mas, antes disso, é tempo de pensar nas prendinhas musicais para o Natal daquelas pessoas que nos são realmente queridas. Pela parte que me toca, já tratei todas as questões burocráticas no sentido de oferecer a mim próprio ...Coals To Newcastle, a "caixa" definitiva dos escoceses Orange Juice (OJ), recentemente chegada às boas lojas com selo de uma Domino Records investida em repor bandas descatalogadas que urge (re)descobrir. No caso dos OJ, não há fome que não dê em fartura, pois a editora londrina disponibiliza de uma assentada todo o valioso legado da banda idealizada e liderada por Edwyn Collins entre 1979 e 1985. Ao todo, e para além de um livro rico em informação e profusamente ilustrado, ...Coals To Newcastle contém seis CDs e um DVD. Nas rodelas musicais podem encontrar a recente compilação The Glasgow School, com temas dos primórdios da banda, as gravações das várias BBC Sessions, e os quatro álbuns de originais, todos eles acrescentados com faixas extra [You Can't Hide Your Love Forever (1982), Rip It Up (1982), Texas Fever (1984) e The Orange Juice (1984)]. No DVD, para além da gravação de um concerto, podem encontrar o par de videoclipes gravados pela banda, e ainda algumas aparições televisivas.
Surgidos em Glasgow em pleno período pós-punk, conjugando de forma inaudita o funk mais desempoeirado, o sentir da soul, a pureza pop dos Byrds, e a insurreição dos Velvet Underground, os OJ foram, meio sem querer, os principais responsáveis pela criação do "som indie pop". Juntamente com os Aztec Camera e os Josef K, no catálogo da seminal mas caótica Postcard Records de Alan Horne, seguindo o espírito da Motown, personificaram o Sound of Young Scotland, algo que causou mossa junta das gerações de músicos vindouras da Escócia. Edwyn Collins nunca escondeu o sucesso e, como tal, o casamento com as multinacionais foi inevitável. O que se seguiu foi uma sucessão de grandes discos e discos bons, todos eles comercialmente falhados, quer seja pelas convulsões internas, pelas políticas editoriais, ou simplesmente por causa das tendências dominantes junto do grande público. À parte as referências avulsas dos Wedding Present e do omnipresente John Peel, bem como de uma escassa falange de devotos, os OJ quase caíram no esquecimento. Já com este século em andamento, com a curiosidade de músicos e público focada no período abordado no livro de Simon Reynolds com o mesmo título deste post, felizmente, tanto Edwyn Collins como os Orange Juice começaram a ser citados amiúde por um número crescente de neófitos.
Para aguçar o apetite do eventual incauto, ou do adepto franz-ferdinandiano à beira da descrença, deixo-vos com um filmezinho de uma pop borbulhante. Tal como outros da autoria do malogrado Derek Jarman, tem um ligeiro traço homo-erótico. No caso, até bastante ligeiro...

"What Presence?!" [Polydor, 1984]

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Are you receiving?














Mesmo o cidadão mais atento às recentes movimentações na slumberlândia, dificilmente consegue acompanhar as edições em catadupa do último par de anos. Por vezes, há discos que só muito depois do seu lançamento me chegam aos ouvidos. Aconteceu-me recentemente com Received Pronunciation (2009), o quinto e último dos Pants Yell!. E aqui o "último" deve mesmo ser levado à letra, pois o trio responsável pela sua concepção encerrou actividade há já coisa de meio ano. A banda, que já andava nestas lides desde os  teve a sua génese na metrópole de Boston, centro já com história no universo indie, berço, por exemplo, dos Dinosaur Jr., The Lemonheads, Pixies, ou Galaxie 500. Contudo, Received Pronunciation rompe com qualquer linhagem daquela cidade ao enveredar por uma sonoridade profundamente enredada nas malhas do twee-pop. Curiosamente, para não dizer paradoxalmente, neste canto do cisne, os Pants Yell! revelam-se mestres já amadurecidos na arte da canção pop sem artifícios. Ao todo são nove faixas em escassos 26 minutos que a própria editora situa na intersecção do hiper-romantismo dos Go-Betweens com as crónicas de minudências dos Belle & Sebastian. Acrescentaria que, dos primeiros, os Pants Yell! apreenderam a intemporalidade melódica, enquanto que, dos últimos, herdaram o apelo pela normalidade.
Entretanto, descoberto o filão, está já nos primeiros lugares da lista de espera o anterior e sugestivamente intitulado Alison Statton (2007). De um disco que leva na capa o nome da vocalista dos Young Marble Gisnts imagina-se o conteúdo... Ou talvez não...

"Someone Loves You" [Slumberland, 2009]

Ao vivo #58













The Walkmen + Os Golpes @ Coliseu dos Recreios, 14/11/2010

Caso não soubéssemos que o marcação do concerto dos nova-iorquinos The Walkmen já tivesse alguns meses, poderíamos ser levados a pensar que a opção da organização pelos lugares sentados visava dar à sala um aspecto mais composto, em pleno período de demasiada oferta para a potencial procura. Assim, sou levado a arriscar que tal ideia tenha partido de alguém apenas centrado no último par de discos da banda, pautados por uma melancolia em tons sépia pouco propícia às manifestações de fisicalidade típicas de um concerto rock
Perante este cenário, louvem-se os Walkmen, que, mesmo com um público à partida já conquistado, souberam contornar a possível queda na soturnidade, oferecendo um alinhamento que intercalou canções de maior teor introspectivo - em maioria - com outras de uma expressividade trepidante. Nesta segunda categoria, destaca-se o inevitável e já clássico (mas não conhecido de toda a gente, pareceu-me) "The Rat", motivo para um erguer generalizado que, infelizmente, durou pouco tempo. É preciso ter presente que os Walkmen vinham para promover Lisbon - o tal que motivou tímidas manifestações de algum provincianismo -, disco onde as instrumentações esparsas mas certeiras de sempre, ainda atípicas mas progressivamente mais familiares, encontram o sentimento expresso nas tonalidades dylanescas da voz de Hamilton Leithauser, agora mais treinada e sem a rispidez que outrora repelia ouvidos mais sensíveis. O anterior, e relativamente mais desinspirado You & Me, é igualmente merecedor de uma atenção especial por parte da banda. Curiosamente, é em temas como "In The New Year" que o público mais se empolga. Para o restante catálogo, e com grande pena deste escriba, ficam reservadas apenas três canções, à razão de uma por disco. Neste particular, dou-me por feliz que uma delas tenha sido "We've Been Had", tema maior de primeiro, preferido, e já distante registo da banda. Foi precisamente este que encerrou a contenda, ao fim de pouco menos de hora e meia de canções onde a razão e o coração, o empenho e a emoção, se fundem harmoniosamente. Resumindo, óptimo, sem ser brilhante.

O aquecimento do concerto de domingo foi oportunidade de promoção para Os Golpes, eventualmente o mais tolerável dos nomes de certo pop/rock 'tuga alvo de um hype, a meu ver, algo desproporcionado. Para além do visual cuidado e da atitude adequada, trazem na bagagem uma mão cheia de boas melodias-de-sempre, cortesia de um guitarrista e de um baterista extremamente competentes. Para além das falhas esporádicas detectadas na entrada das vozes, a merecer reparo estão também as letras, de uma pobreza na linha de uma certa tradição já com décadas na pop cantada na língua de Camões. 

domingo, 14 de novembro de 2010

R.I.P.


HENRYK GÓRECKI
[1933-2010]

Nascido na região mineira da Silésia, e primeiramente um discípulo da dissonância de Karlheinz Stockhausen, Henryk Górecki foi o mais visível representante de uma certa vanguarda polaca e um dos mais reconhecidos compositores eruditos do século passado. Numa fase madura, a sua obra embarcou por um mais convencional minimalismo sacro, com referências recorrentes à trágica história da Polónia do século XX. Desse período destaca-se a Sinfonia n.º 3, datada de 1976 e também conhecida por Sinfonia das Canções Tristes (Symfonia Piesni Zalosnych, em polaco). Inspirada numa oração escrita por uma adolescente na parede de uma cela de prisão da Gestapo, esta terceira sinfonia parte da temática da maternidade para uma profunda reflexão sobre os horrores do Holocausto, algo que Górecki testemunhou ainda em idade infantil. Acabaria por constituir um inesperado caso de sucesso comercial, facto que, mesmo em tempo de destaque reservado às futilidades, faz estranhar a falta de eco na comunicação generalista sobre a morte de Górecki, vitimado na passada sexta-feira por uma infecção pulmonar. À data, o compositor tinha concluída uma quarta sinfonia cuja estreia (em Londres) tinha já sido adiada devido ao seu debilitado estado de saúde.

Sinfonia n.º 3 - 2.º Movimento - Lento e Largo
Sinfonietta de Cracóvia dirigida por John Axelrod
Soprano: Isabel Bayrakdarain

sábado, 13 de novembro de 2010

Good cover versions #45













THE FEELIES _ "Everybody's Got Something To Hide Except Me And My Monkey" [Stiff, 1980]
[Original: The Beatles (1968)]

Genuínos geeks letrados e reservados, os Feelies foram os principais responsáveis pela fundação da "estética" indie-pop em solo norte-americano, precisamente na mesma altura em que os Orange Juice criavam algo de equiparável no Reino Unido. Da extensa lista de descendentes desta banda de Nova Jérsia, os R.E.M. e os Yo La Tengo são aqueles que mais insistentemente reclamaram a herança. No presente, e embora não o admitam frontalmente, os Vampire Weekend devem-lhes sobretudo a postura. Pelo contrário, nos seus primeiros tempos, e à semelhança de muitos contemporâneos, os Feelies confessavam sem tabus a devoção pelos grandes clássicos pop. Logo ao primeiro disco - o essencial Crazy Rhythms - atiram-se aos Beatles por intermédio de uma versão de "Everybody's Got Something To Hide Except Me And My Monkey", uma das muitas pérolas encontradas no duplo Álbum Branco. No original um dos raros exemplares dos Fab Four em modo "puro rock", "Everybody's Got Something To Hide..." leva dos Feelies o devido tratamento de guitarras chocalhadas herdadas dos Velvet Underground, paradigmáticas, a partir daqui, de todo o universo indie. Tal como a voz, frágil e deafinada, por acaso, com algumas semelhanças tonais com a do Lennon do original. Pela mesma altura, os Feelies foram também responsáveis por uma versão integralmente instrumental de "Paint It, Black", um dos maiores clássicos dos Rolling Stones.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

First Exposure #22















THEE SPIVS

Formação: Ben Edge (gtr, voz); Danny Suplex (baixo); Steve Coley (bateria)
Origem: Londres, Inglaterra [UK]
Género(s): Punk-Rock, Indie-Rock, Garage-Rock
Influências / Referências: Buzzcocks, Sex Pistols, The Libertines, Stiff Little Fingers, The Undertones

http://www.myspace.com/theespivs

Sowing seeds


Há 25 anos, neste mesmo mês de Novembro, o mundo conhecia aquele que acabaria por se revelar o mais influente disco deste último quarto de século. Psychocandy sucedia a quatro promissores singles, e era o corolário de que toda a verborreia arrogante dos irmãos Jim e William Reid, geralmente em concertos curtos e caóticos, era para ser levada a sério.
No fundo, a receita até parecia bastantes simples: umas pitadas do espírito libertário dos Velvet Underground, a concepção da pop segundo os girl-groups de sessentas por via dos Ramones, atitude niilista herdada do punk, tudo embalado no wall of sound de Phil Spector. Porém, os ingredientes combinados, e afogados num mar de feedback, resultam em algo absolutamente novo e revolucionário. À parte o cariz inovador, Psychocandy é também um compêndio na arte de conceber grandes canções pop, daquelas que perduram no tempo com a mesma frescura das primeiras audições. Sujo, sexy, tenso, irado, neurótico, sombrio, amargo, rebelde, melancólico, introspectivo, Psychocandy é também um mostruário de emoções em conflito. Fica para a posteridade como o pico da turbulenta carreira dos Jesus and Mary Chain (JAMC), curiosamente o único concebido enquanto banda não limitada aos manos Reid. Nesse formação militavam ainda Bobby Gillespie, líder de sempre dos Primal Scream, e Douglas Hart, hoje um realizador de videoclipes reconhecido. O kit de bateria do primeiro limitava-se a timbalão e tarola, reza a lenda que o baixo do último tinha apenas duas cordas. Com esta secção rítmica reduzida aos serviços mínimos, sobra espaço para William encher de ruído e Jim espalhar coolness.
Produzido pelos próprios JAMC com um orçamento apertado, Psychocandy acabaria por deixar um traço indelével em toda a música de propensões sónicas produzida desde então. Sem quaisquer pruridos, os Sonic Youth atribuem aos JAMC parte da responsabilidade pela viragem pop, com os resultados que se conhecem. Já os My Bloody Valentine, encontraram em Psychocandy as bases fundadoras daquilo que ficaria conhecido como shoegazing. Por fim, convém olhar indiscriminadamente para a actual América indie e detectar as sementes espalhadas pelos irmãos Reid um pouco por todo o lado. Nada mal, para mera manifestação artística de dois putos problemáticos de East Kilbride, um subúrbio cinzento e opressivo de Glasgow.

"Never Understand" [Blanco y Negro, 1985]

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Comemorações da República

















Oriundos de Los Angeles e praticamente esquecidos, os Savage Republic (SR) são caso de estudo no cenário post-punk norte-americano, pese embora sempre tenham tido maior reconhecimento em território europeu. Numa fase inicial, em princípios de oitentas, eram praticantes de uma sonoridade incendiária, marcada pelas percussões industriais, alguma tribalidade, e cânticos xamânicos altamente politizados. Relativamente a esse período, parecem-me algo infundadas as recorrentes comparações aos Public Image Ltd. dos primórdios. Já por alturas de Ceremonial (1985), os SR optam quase em exclusivo pela via instrumental, dando uma maior prevalência às guitarras, e mantendo os elementos étnicos, sobretudo provenientes do mundo árabe. A dissolução ocorreu em 1989, deixando um legado de quatro álbuns e um par de EPs que viria a exercer significativa influência não só nas bandas "industriais", como na facção instrumental do post-rock da década de 1990. Após um interregno de 15 anos, o líder incontestável Alan Licher reactivou os SR com elementos recrutados das várias formações da sua primeira existência. Até ao momento, a reunião já rendeu o álbum 1938 (2007), com sucessor previsto para breve. Antes disso, com selo da britânica LTM Recordings, editora especializada em reedições e compilações da bandas perdidas nas areias do tempo, está já disponível Procession: An Aural History, óptima introdução à obra dos SR. Compilação em formato duplo, inclui no primeiro disco um resumo de carreira que percorre todos os registos gravados, e no segundo, oito faixas captadas ao vivo durante uma recente passagem por Espanha. Espero que a amostra em anexo seja motivo para investimento financeiro da vossa parte:


"Next To Nothing" [Independent Project, 1982]

domingo, 7 de novembro de 2010

Os bois pelos nomes
















Tempos houve em que os concertos na ZdB se atrasavam horas. Suponho que a frequente espera teria como objectivo que a exígua sala da Rua da Barroca ficasse mais composta de público pouco dado ao cumprimento de horários. Entretanto mudaram os tempos, e a ZdB é agora destino de um número crescente de pessoas, no sentido inverso da abundância de propostas de interesse. Nestes novos tempos tornou-se praticamente impossível a aquisição de bilhetes nos instantes imediatamente anteriores aos concertos. Como o tempo disponível nem sempre abunda, encontrei solução na reserva de bilhetes por via telefónica, prática assídua nos últimos meses. Para além de nos ser requerida a comparência com 15 minutos de avanço em relação à hora do espectáculo a fim de levantar os ingressos reservados, no contacto com a voluntariosa telefonista, é-nos também solicitado um contacto para, supõe-se, comunicação de algum imprevisto. Com qualquer coisa como três semanas de antecedência, foi este o procedimento por mim adoptado para o concerto de Scout Nibblett que teve lugar na noite de passada sexta-feira, e ao qual pretendia assistir na companhia de várias pessoas amigas. Digo "pretendia", porque, no ínterim, a gerência da casa lembrou-se de que aquela era a data de comemoração do 16.º aniversário. Vai daí, e sem pré-aviso, a hora para levantamento dos bilhetes foi antecipada em meia hora, mais precisamente para as 21h45m (adaptação livre à hora de Inverno, ou apenas porque em dia de festa haveria muitos amigos para beber à conta?). A "boa nova" é-me transmitida pelo rapazola atrás da secretária, com uma expressão de quem a sorte lhe tem sido madrasta, seguida de um eloquente "Não queria que eu ligasse a 100 pessoas?". A atitude, eventualmente merecedora de procedimento disciplinar na Administração Pública, teve deste interlocutor resposta ao mesmo baixo nível: "Sendo egoísta, bastar-me-ia que me ligasse a mim.". O esgrimir de argumentos seguiu-se por breves instantes, ainda com a mediação de uma moça presente (a telefonista?), com a cordialidade e a simpatia que faltavam ao colega, mas que, nada resolveu.

Ao longo dos anos que levo de frequência da ZdB, já tinha detectado em quem a gere presentemente algum sectarismo elitista e/ou autista. Mas nada que me incomode sobremaneira, quando apenas ali me dirijo para um bom concerto, dois dedos de conversa, e dois copos (pagos em moeda corrente). Total novidade é que essa mesma casa que já nos proporcionou concertos inolvidáveis esteja agora entregue às mãos de gente que desconhece os mais básicos princípios éticos. Parafraseando Renato Russo, vamos então celebrar a estupidez humana:


The Smiths _ "Unhappy Birthday" [Rough Trade, 1987]

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Under a billion suuns













Chamam-se Suuns mas já responderam pelo nome de Zeroes, designação que se viram obrigados a abandonar por imposição legal. Vêm de Montreal, no Canadá, e confessam-se admiradores tanto dos Talking Heads como dos Fugazi. Tão díspares influências evidenciam-se na sua música, a um tempo imbuída de sentido rítmico, e a outro alinhada pela afronta dissonante. Porém, a todo tempo, pautada por um ambicioso espírito de aventura que encontra paralelo em algumas das propostas mais arrojadas filiadas nas correntes kraut-rock e post-punk.
Pressente-se alguma ironia no título do debute Zeroes QC, motivo para um dos hypes do momento nos diversos canais de divulgação musical registado sob a batuta do experimentado Jace Lasek (The Besnard Lakes). E, justiça seja feita, por uma vez, tenho de admitir que todo o burburinho é justificado, sobretudo quando os Suuns casam a electrónica blippy e de tons negros com as notas fustigadas e repetitivas que emanam das guitarras. Em jeito de comparação eventualmente redutora, sugiro que se imagine uns HEALTH irremediavelmente rendidos aos formato canção. Menos conseguidos, e talvez sinais de alguma indefinição, são aqueles temas em que a aposta no elemento digital é mais notória. Contudo, apenas um pormenor de somenos importância num disco que, no vasto campo das electrónicas, parece ser o único do corrente ano capaz de ombrear com o do compatriota Dan "Caribou" Snaith. Ou, visto de outra forma, justa compensação para os flops de diferentes proporções de These New Puritans e Foals. Curiosamente, se soasse mais a uns tais de Clinic, o tema que promove Zeroes QC corria sérios riscos de resvalar para o plágio:

"Up Past The Nursery" [Secretly Canadian, 2010]

R.I.P.

JAMES FREUD
[1959-2010]

James Freud, músico australiano, baixista e vocalista, foi encontrado morto hoje, na sua casa em Melbourne. A causa oficial da morte aponta para o suicídio. Relativamente desconhecido do grande público, Freud granjeou algum sucesso enquanto frontman dos Models, uma das bandas que melhor representam a "cena" new-wave australiana da década de 1980 e que se mantinha activa, de forma intermitente, até aos nossos dias. Deixou gravada também uma extensa obra, quer a solo, quer integrado em projectos diversos, com especial incidência no hiato (entre  1988 e 2000) na vida da banda que o notabilizou. Embora o sucesso em larga escala tenha ocorrido com Out Of Mind, Out Of Sight, o quarto álbum dos Models datado de 1985, o pico creativo ocorreu com o anterior The Pleasure Of Your Company (1983), o primeiro trabalho gravado após a integração de Freud e disco de uma sofistificação pop em sintonia com aquilo que, à época, de melhor se fazia no Reino Unido. Boa parte da vida e obra de Freud fica assombrada pelo alcoolismo, hábito que, segundo consta, tinha vencido há meia dúzia de anos.

Models _ "I Hear Motion" [Mushroom, 1983]

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Duetos #27












Mesmo atarefado com a ascensão dos excelsos Sugar, o ex-Hüsker Dü arranjou tempo para dar uma mãozinha, ou melhor, uma vozinha, aos amigos. Resultado: o contraste da gravilha dele com o acetinado-anasalado dela. Ela, Kristin Hersh, aqui ao leme dos Muses pela primeira vez reduzidos a duo. O álbum é Red Heaven, eventualmente o mais rockeiro de uma carreira, por ora, em stand-by.



Thowing Muses feat. Bob Mould _ "Dio" [4AD, 1992]

Ao vivo #57

















Greg Dulli @ Santiago Alquimista, 02/11/2010

Antes de passar aos factos, compete-me lamentar que aquele que mais justamente poderá ser apontado como o sobrevivente da "geração grunge", com trabalho válido contínuo, mereça apenas a atenção de escassas dezenas de fiéis, ainda para mais com a acústica sofrível a que o Santiago Alquimista já nos habituou. Podem alegar a avalanche de concertos que eu não me conformo, pois tenho a certeza que o "azeiteiro", um tal de Vedder, teria à sua espera, no mínimo, três coliseus. Resta-me a triste constatação de que o mundo em que vivemos é um mundo injusto.
Quem não acorreu e quem abandonou a função ainda a meio, perdeu a revisão da carreira, em formato semi-acústico, daquele que canta como poucos as coisas do amor, com desejo, traição, e desespero acoplados. Ao longo de mais de hora e meia, Greg Dulli brindou-nos com o constante ziguezaguear pela carreira de mais de vinte anos, sem esquecer nenhuma das bandas pelas quais deu ou dá a cara: The Afghan Whigs, The Twilight Singers, e The Gutter Twins. Sem a imponência da banda completa da passagem destes últimos pelo mesmo local, surge em trio, com duas guitarras, um violino e um violoncelo em alternância, o ocasional piano já em encore, e uma comunicabilidade ímpar. No quinhão dos Whigs - que inclui "Let Me Lie To You" e "Debonair", justamente as "eleitas" deste que vos escreve -, a transposição para o novo formato perde em transpiração aquilo que ganha em humanismo. Assim se percebe melhor a complexidade destas canções, para muitos - já ouvi dizer - meras descargas rock com um pingo de alma soul. Dos Twilight Singers, Dulli traz na bagagem um trio de temas novos, a integrar, segundo nos foi dito, num álbum para muito em breve. Poderei estar enganado, mas notei nestes um pendor mais rockeiro que subverte o charme que presidiu à fundação do projecto. Mais previsíveis, talvez porque mais próximas da sua forma original, as canções dos Gutter Twins realçam uma certa religiosidade que faz as delícias dos convertidos mais recentes. No capítulo das versões, o amargo de outrora deu lugar ao amadurecido, ponderado e, eventualmente, apaixonado Dulli do presente, com um par de temas bem demonstrativos do actual estado de espírito: "A Love Supreme" (John Coltrane) e "She Loves You" (The Beatles).
Ligeiramente desequilibrado na qualidade dos temas apresentados, tal como tem sido a carreira do seu protagonista, mormente na última década, o concerto prima pelo empenho e pelo brio que se mantém ao longo toda a sua duração. Tal demonstração de fé na música popular, quer seja o rock'n'roll, a soul, ou as indefinidas correntes jazz-blues, merecia o aplauso não de dezenas, mas sim de milhares. Quem sabe, se da próxima...