"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Mil imagens #2

 
Nick Cave & Rowland S. Howard (The Birthday Party) - Londres, 1982

Em declarações prestadas à Uncut pouco antes da sua morte, Rowland S. Howard fala com algum desencanto da mudança da distante Melbourne para a cosmopolita Londres, em busca do sonho dourado. O gorar das expectativas na chegada à capital britânica é descrito com esta tirada eloquente: "Deixámos de ser um grande peixe numa pequena lagoa, para nos tornármos plâncton nas mandíbulas de uma baleia". A Nick Cave refere-se como alguém disposto a fazer do circo rock'n'roll modo de vida. Por oposição à conduta do frontman, Howard e os restantes membros dos Birthday Party cedo se mostraram fartos desta vida miserável e plena de hábitos pouco saudáveis. Surgiram as fricções e a banda implodiu. Por ironia do destino, Cave é hoje um bem sucedido "homem de negócios". Já Howard, mergulhado numa depressão profunda  durante anos, e lançado na obscuridade, desapareceu, sem glória, em finais do ano passado. A vida, por vezes, consegue ser muito injusta...

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Gostaria de dar o merecido crédito ao autor deste instantâneo, que tão bem capta o alheamento dos seus figurantes. Sucede que, depois de pesquisas incessantes, o dito é-me ainda desconhecido. Se alguém desse lado o conhecer, disponha da caixa de comentários para mo indicar. Agradecido.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

April Skies @ Incógnito: o terceiro round

 
Para uma quarta-feira à noite, confesso-me agradavelmente surpreendido com o volume da massa humana que ontem rumou ao Incógnito. Para tal muito contribuiu, obviamente, um número considerável de amigos aos quais queria endereçar uma palavra de agradecimento. Quem não foi, ou quem foi e não ficou até ao fim, fica a saber o que perdeu:

  1. aphex twin _ [z twig]
  2. death in vegas _ dirge
  3. ride _ leave them all behind
  4. low _ monkey
  5. frghtened rabbit _ fast blood
  6. british sea power _ remember me
  7. chapterhouse _ pearl
  8. the organ _ memorize the city
  9. pretty girls make graves _ parade
  10. the clash _ lost in the supermarket
  11. my morning jacket _ off the record
  12. belle & sebastian _ funny little frog
  13. those dancing days _ run run
  14. fanfarlo _ fire escape
  15. grandaddy _ the crystal lake
  16. tap tap _ queen of hearts
  17. girls _ lust for life
  18. the pastels _ i'm alright with you
  19. saint etienne _ nothing can stop us
  20. shocking pinks _ end of the world
  21. cocteau twins _ heaven or las vegas
  22. caribou _ melody day
  23. motorcycle boy _ run run run
  24. tubeway army _ down in the park
  25. a place to bury strangers _ i know i'll see you (the clapp remix)
  26. crocodiles_ soft skull (in my room)
  27. suicide _ diamonds, fur coat, champagne
  28. the big pink _ velvet
  29. these new puritans _ attack music
  30. the young knives _ kids in america
  31. foals _ balloons
  32. brakes _ all night disco party
  33. !!! _ must be the moon
  34. radio 4 _ start a fire
  35. love is all _ busy doing nothing
  36. the kills _ no wow (mstrkrft remix)
  37. the joy formidable _ austere
  38. the killers _ mr. brightside
  39. franz ferdinand _ all my friends
  40. a certain ratio _ shack up
  41. liars _ mr. you're on fire mr.
  42. x-ray spex _ i'm a poseur
  43. the long blondes _ once and never again
  44. the breeders _ bang on
  45. the modern lovers _ roadrunner
  46. the black angels _ young men dead
  47. jefferson airplane _ somebody to love
  48. clinic _ if you could read your mind
  49. radiohead _ just
  50. teenage fanclub _ what you do to me
  51. arctic monkyes _ leave before the lights come on
  52. the beatles _ come together
  53. deerhunter _ never stops
  54. health _ die slow
  55. a place to bury strangers _ in your heart
  56. the horrors _ new ice age
  57. pj harvey _ down by the water
  58. blondie _ one way or another
  59. the chills _ i love my leather jacket
  60. the drums _ let's go surfing
  61. the beach boys _ i get around
  62. the smiths _ panic
  63. the flaming lips _ race for the prize
  64. franz ferdinand _ darts of pleasure
  65. elastica _ connection
  66. i love you but i've chosen darkness _ according to plan
  67. gang of four _ to hell with poverty (2005 mix)
  68. modest mouse _ float on
  69. battles _ atlas (edit)
  70. nirvana _ drain you
  71. martha & the vandellas _ nowhere to run
  72. the jesus and mary chain _ some candy talking
  73. pink floyd _ arnold layne
  74. the national _ lit up
  75. pavement _ cut you hair
  76. the shins _ new slang

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Good cover versions #33

 

THE MOTORCYCLE BOY "Run Run Run" [Imaginary, 1990]
[Original: The Velvet Underground (1967)]

No tempo em que o pioneirismo experimentalisma dos Velvet Underground desempenhava o papel de inspiração primordial junto do universo indie, sucediam-se amiúde as declarações de amor veladas ao colectivo que Andy Warhol ajudou a promover. Dividido em três volumes, o tributo Heaven And Hell é, porventura, a súmula perfeita da importância que a banda nova-iorquina representava para toda uma geração de músicos apostada em fugir aos cânones da música que habitualmente preenchia os tops de vendas. Nele se encontra representada uma boa fatia do contigente indie da altura, inclusive os Nirvana e os James, dos quais o mainstream ainda não imaginara o boom iminente. No entanto, das trinta faixas apresentadas, a melhor de todas as releituras fica a cargo de uma das bandas com menor visibibilisade no lote: os escoceses Motorcycle Boy, banda de vida efémera nascida das cinzas dos também breves - mas relevantes - Meat Whiplash e Shop Assistants. É no entanto curioso reparar que, ao contrário das bandas originárias, os Motorcycle Boy não mostravam especial apreço pela sonoridade dos Velvets. Nem tão pouco pelo imaginário fifties sugerido pelo nome da banda (personagem interpretada por Mickey Rourke no filme Rumble Fish, de Copolla). Enveradavam antes pela recuperação dos tons garridos do glam de inícios de 1970s, revistos à luz do latente crossover entre música de dança e música de guitarras. É de resto esta a abordagem na versão de "Run Run Run", um irresistível apelo à dança em formato electro-rock, em clara dissonância da desconstrução rock'n'roll do original. A voz planante retêm - e actualiza - as sugestões druggy de Lou Reed.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Ao vivo #47
















Foto: Rez Avissar

Real Estate + U. S. Girls @ Galeria Zé dos Bois, 19/02/2010

É já demais evidente que, nos states, uma geração de jovens músicos mostra vontade em revitalizar uma "cena" indie que, na década finda, entrou em estado de progressiva letargia. Para tal, no estilo clássico do "género", socorrem-se das melhores memórias da música popular e de um forte cunho pessoal para criar algo único. Do rol, já demasiado extenso para nomear, uma das bandas mais gratas a este escriba dá pelo nome de Real Estate, um quarteto de putos da "saloia" New Jersey. Da sua música, emanam velhos quadros familiares, tais como a melancolia espectral dos Galaxie 500 ( e dos Desolation Wilderness, já agora) e a luminosidade surf dos Beach Boys. No entanto, sem que para isso necessitem de especial originalidade, os Real Estate esquivam-se com engenho à neurose dos primeiros e à alegria festiva destes últimos. Remetem-nos assim para o imaginário das bandas de baile contratadas para animar os fins de tarde (de fim de Verão) na esplanada de uma qualquer praia longínqua. Sucede que, apesar da baixa média etária dos seus integrantes, os Real Estate ostentam um inesperado savoir faire na assimilação das suas referências, provocando, com estas canções puras e de uma honestidade atroz , uma sensação de nostalagia por um um tempo e um espaço, que a terem existido, desaparecem sem deixar rasto. Como que enfeitaçada pela languidez que brota do palco, a turba que lota completamente a exiguidade da ZdB alheia-se durante hora e meia do desconforto que a situação possa causar e não arreda pé. As baixas temperaturas tiveram o seu contributo, é certo. Mas o mérito da proeza vai quase inteirinho para o poder de sedução dos simpáticos Real Estate, com os quais tenho já reencontro marcado à beira do Mediterrâneo em finais de Maio.

Com o "aquário" da ZdB já apinhado, optei (e bem) por ficar a confraternizar do lado de fora durante a prestação de U.S. Girls (alter ego de Megan Remy). De longe, chegavam-me amostras de uma cacofonia em regime lo-fi que incorpora elementos étnicos, drones, e desvarios abstraccionistas vários. A sensação que fica é de que a função deverá ser mais prazenteira para quem a executa do que para quem a ela assiste.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

First Exposure #6

 

LORD AUCH

Formação: Simon McCabe (voz); Liam Wade (gtr); Stelios Kurunis (bx); Nicholas Jones (gtr); Danny Prescott (btr)
Origem: Londres, Inglaterra [UK]
Género(s): Indie Rock, Garage, Psychobilly, Blues-Punk
Influências / Referências: Nick Cave & The Bad Seeds, Gallon Drunk, The Triffids, The Gun Club, The Horrors, Devastations


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Façam as vossas apostas

 

Do País do Gales chega-nos este colectivo de devotos de Syd Barrett, dos Beatles da fase psicadélica, e de mais um punhado de tresloucados célebres do universo pop. Anteriormente conhecidos como Radio Luxembourg, respondem agora pelo nome de Race Horses. Depois do EP da praxe, chegam ao longa-duração de estreia através de Goodbye Falkenburg, conjunto de canções sobre os assuntos mais mundanos, no qual as línguas inglesa e galesa convivem sadiamente. O conteúdo, algo confuso para os incautos, é feito de delírios multicoloridos a fazer lembrar outras glórias de Gales, tais como os Gorky's Zygotic Mynci ou os Super Furry Animals dos primórdios. Segue em anexo um pequeno excerto da alegre loucura dos Race Horses:

"Cake" [Fantastic Plastic, 2010]

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Discos pe(r)didos #35

 

THE OCEAN BLUE
The Ocean Blue [Sire, 1989]

Ao ouvir pela primeira vez The Ocean Blue, álbum de estreia deste quarteto descoberto por Seymour Stein, patrão da Sire Records com responsablidades na apresentação dos Smiths aos ouvidos ianques, qualquer um é levado a afirmar estar perante uma banda britânica da era dourada do indie-pop. No entanto, o combo denominado The Ocean Blue é constituído por músicos oriundos de Hershey, Pennsylvania, mas com uma profunda identificação com as sonoridades mais emotivas e letradas que, à data, chegavam do Reino Unido. Não admira pois que, para a gravação deste debute, tenham rumado a Inglaterra, onde, sob a batuta de John Porter (produtor dos Smiths) registaram uma dúzia de temas exuberantemente melodiosos.
O trio inaugural de canções, todas elas extraídas como singles, é ilustrativo do código genético dos Ocean Blue. "Between Something And Nothing" abre com um breve dedilhado digno de um Johnny Marr. Ao fim de breves instantes, o tema evolui para um épico outonal ao melhor estilo Bunnymen. Da mesma matéria prima se fazem temas posteriores, como "The Circus Animals" e "Ask Me Jon", o que nos leva a desconfiar que a alusão aos motivos marítimos no nome do colectivo tem uma origem óbvia. Por sua vez, "Vanity Fair" é descaradamente secura The Smiths em modo jangle pop. No balanço folksy, este mesmo tema estabelece ligações aos R.E.M. dos primórdios, eventualmente a única fonte de inspiração  norte-americana do quarteto nesta fase. Entidade distinta é "Drifting, Falling", marcado pela opulência de um saxofone. Fosse a voz de David Schelzel mais rugosa e este tema encaixaria sem estranheza no repertório dos Psychedelic Furs. Por outro lado, a postura austera evita paralelismos mais evidentes com a jovialidade dos Haircut100. Editado num período de transição das tendências indie pop, The OB antecipa inclusive a onda baggy que em breve assolaria as ilhas britânicas, tal como expresso no groove sacado de um órgão Hammond em "Frigid Winter Days". Embora enredado nas suas referências, The OB resiste com distinção ao rótulo de exercício de copismo, muito por obra da capacidade da banda em retirar ensinamentos díspares em proveito próprio, e do lirismo romantizado impregnado de uma frescura ingénua característico da escrita de Schelzel. Neste particular, a simplicidade atroz de "Love Song" é exponte máximo.
No regresso aos Estudos Unidos após as sessões de gravação, um cancelamento de última hora impediu que elementos da banda fossem passageiros do avião, já célebre pelos piores motivos, que explodiu sobre a cidade escocesa de Lockerbie. Esse feliz acaso permitiria aos Ocean Blue aprimorar a fórmula nos registos subsequentes de uma carreira que se prolonga até aos dias de hoje. Porém, nenhum desses discos reproduz o retrato de uma era com a mesma frescura da estreia.

The Ocean Blue "Drifting, Falling"

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Surf nas veias

 
Foto: Greg Granaghan

A Florida é terra de sol e de mar. Por inerência, é também terra de surf. Aqui, por surf, entenda-se a actividade desportiva e não o "género" musical. Esse, sabem-no os melómanos mais "académicos", tem ancoradouro no extremo oposto dos states, mais concretamente em terras californianas. Porém, de há uns tempos a esta parte, têm surgido neste estado da Costa Leste bandas apostadas em explorar o filão deste abastardado do genuíno rock'n'roll. Foi destas paragens que veio o quarteto The Drums, agora emigrado na terra das oportunidades de Brooklyn. E é de lá, mais propriamente de Palm Beach, que chegam os Surfer Blood, seus compinchas de estrada em diversas ocasiões. Se aqueles têm uma abordagem mais ortodoxa, explícita nas melodias simplistas e tremendamente orelhudas, os Surfer Blood partem da matriz surf music para a elaboração de temas mais encorpados e complexos. Da miscigenação nascem por vezes canções aparentadas da pop "cósmica" da Band of Horses, ou até do dramatismo bigger-than-life dos Interpol que interessam - os dos primórdios. No entanto, a música dos Surfer Blood é percorrida por um desleixe propositado (olá Pavement!) que afasta a seriedade e preserva a frescura. As evidências estão no álbum-debute Astro Coast, conjunto de dez temas lançado recentemente pela diminuta Kanine Records que atesta a boa saúde momentânea da pop de guitarras.


domingo, 14 de fevereiro de 2010

Ao vivo #46






















Foto: Hisham Bharoocha

Panda Bear @ Lux Frágil, 13/02/2010

Atiram-se os Beach Boys para dentro de um programa informático, dá-se um ar mal acabado de forma a que coisa tenha um ar retro, adicionam-se umas batidas sincopadas, et voilá! No papel e em estúdio, a ideia tem a sua graça, mas sem ser o golpe de génio que meio mundo tem levado o outro meio a crer. Já em palco, ficamos com a sensação que o rapaz nascido Noah Lennox escolheu a cave do Lux para ensaiar uns truques à frente dos amigos. Se assim tivesse sido, ele ou alguém por ele, escolheu local com tão péssimas condições de acústica de forma a que a experiência não passasse de uma macabra brincadeira de Carnaval. A ementa, nada gourmet, compõem-se do ainda inédito Tomboy, disco que parece acentuar duas tendências: maior protagonismo dado à guitarra e, em contraponto, recurso às batidas pensadas para pista com bola de espelhos. Na primeira tarefa, a banda mais obscura da editora Woodsist leva a melhor sobre o rapaz de Baltimore que Lisboa adoptou já crescido. Quanto às batidas, parecem vindas de um qualquer antro nocturno da 24 de Julho circa 1997. 
Sobre a maioria o público que quase lotou o bunker duarnte duas noites consecutivas, questiono-me se estará ali porque aquele é o lugar para se estar, ou por puro deleite auditivo. Estou mais inclinado para a primeira hipótese...

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Duetos #19


Ainda sob o efeito de miss Hatfield... Como já vem sendo tradição nesta rubrica, tecnicamente, o tema em apreço não será propriamente um dueto, pois a musa interpreta-o "quase" em solitário. Mas, se esperarem até aos 1'02'', altura da entrada do refrão, hão-de reparar que há uma voz grave que se lhe junta. É a daquele rapaz de timbre semelhante ao do senhor Bowie que, há muito, muito tempo, representava os saudosos Psychedelic Furs. Sweet...

Juliana Hatfield feat. Richard Butler "This Lonely Love" [Ye Olde, 2008]

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Come pick me up
















Ainda adolescente, Juliana Hatfield foi a voz feminina nos Blake Babies, banda nascida na prolífica "cena" indie da zona de Boston. Com a dissolução deste trio, e antes de se lançar numa carreira a solo, passou fugazmente pelos Lemonheads, chegando a participar nas gravações do superlativo It's A Shame About Ray (1992). Nesta altura, era a cara-metade de Evan Dando, o poster-boy da geração grunge, e andou nas bocas do mundo depois de ter confessado, numa entrevista à revista Interview, ainda ser virgem e não estar minimamente preocupada com esse facto. Já em solitário, ainda na primeira metade da década de 1990, firmou-se, a par de Liz Phair, como um dos símbolos do indie-rock feminino sem papas na língua. Desse período, sobressai Become What You Are (1993), editado sob a designação The Juliana Hatfield Three, álbum marcado por um profundo sentir feminino, expresso pelas letras cruas na voz pueril de Hatfield. Hoje, quase caída no esquecimento, continua a lançar discos com alguma frequência, quer a solo, quer com o trio feminino Some Girls. O próximo chama-se Peace & Love, foi produzido, misturado, e tocado na íntegra pela autora, e chega às lojas já na próxima semana. Algumas previews anunciam este nono álbum como o mais desprendido de toda a carreira, mas também o mais claustrofóbico e inacessível. A propósito de Peace & Love, as mesmas fontes referem ainda as profundas reflexões pessoais debitadas por vocais  sentidos e vulneráveis, quase fantasmagóricos. O tema que se segue é apenas uma amostra, mas confirma algumas dessas indicações.


"I Picked You Up" [Ye Olde, 2010]

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Turn back

 

Há coisa de dois anos, com o baixista Mickey Quinn a recuperar das graves mazelas de um insólito acidente (uma queda de uma janela de quarto de hotel em estado sonâmbulo), e com disco novo nas mãos, o vocalista/guitarrista Gaz Coombes e o baterista Danny Goofey decidiram saltar para os palcos travestidos de The Diamond Hoo Ha Men. Do repertório, rezavam as crónicas, faziam parte originais dos próprios Supergrass e um número considerável de versões de temas de outrém. A experiência foi de tal forma gratificante que a dupla decidiu prolongá-la, desta feita intitulando-se The HotRats e dedicando-se em exclusivo a tocar versões. Entretanto, a brincadeira assumiu contornos de seriedade e chegou agora aos discos com Turn Ons, uma dúzia de temas pertencentes à galeria dos clássicos registados em estúdio pelo consagrado Nigel Godrich. O conceito é em tudo idêntico ao de Pin Ups, disco de Bowie em 1973. Para além do alinhamento abaixo indicado, as sessões de gravação renderam ainda versões de "Drive My Car" (The Beatles), "West End Girls" (Pet Shop Boys) e "Mirror In The Bathroom" (The Beat).

  1. "I Can't Stand It" [Lou Reed / The Velvet Underground]
  2. "Big Sky" [The Kinks]
  3. "The Crystal Ship" [The Doors]
  4. "(You Gotta Fight) For Your Right (To Party!) [The Beastie Boys]
  5. "Damaged Goods" [Gang of Four]
  6. "Love Is The Drug" [Roxy Music]
  7. "Bike" [Pink Floyd]
  8. "Pump It Up" [Elvis Costello]
  9. "The Lovecats" [The Cure]
  10. "Queen Bitch" [David Bowie]
  11. "E.M.I." [Sex Pistols]
  12. "Up The Junction" [Squeeze]

"Damaged Goods" [G&D, 2010]

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Coisas pelas quais vale pouco viver

 
Mais de quatro anos depois da edição original do mui promissor Hearts And Unicorns, Annie Hardy, a Lolita que dá vida aos Giant Drag, regressa aos discos já na próxima semana. O novo registo, que interrompe um período de latência desde a partida do baterista Micah Calabrese, consiste num EP de quatro temas intitulado Swan Song. Este título, somado a mostras de algum desânimo por parte da vocalista/guitarrista, levam-me a especular sobre um hipotético fim do projecto. E diga-se, em abono da verdade, que, se a linha a seguir for a do hard rock "azeiteiro" da amostra abaixo, mais vale que a minha profecia se cumpra. Valha-nos o vídeo, ao nível daquilo a que os Giant Drag nos habituaram.


"Stuff To Live For" [Smash Hit, 2010]

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Mil imagens #1

Jason Pierce (Spiritualized) - Monte Etna, 2001
[Foto: Steve Gullick]

Singles Bar #41

 

ULTRA VIVID SCENE
Mercy Seat [4AD, 1989]

When I'm in the Mercy Seat I smile
And lay my weapons down
All I ask is for release
No matter what the cost

Menos celebrados que os Pixies ou os/as Throwing Muses, os Ultra Vivid Scene (UVS) são o terceiro vértice do triângulo que constitui a abertura das portas da 4AD às bandas norte-americanas, acontecimento determinate na mudança de azimutes por parte da editora londrina. Quando se fala em em UVS fala-se em Kurt Ralske, músico obcecado com a obra dos Velvet Underground e, durante a maior parte do tempo, único responsável pelo projecto. Se numa fase posterior a composição de Ralske se pautou por uma maior contenção, o primeiro álbum - homónimo - increve-se no grupo dos exploradores dos pedais de distorção que estiveram na génese do movimento shoegazing, clube que integra, entre outros, os Mary Chain, os Spacemen 3, os Loop, e os incontornáveis My Bloody Valentine. Efectivamenete, uma boa porção daquele registo de estreia, e em particular este "Mercy Seat", é percorrida por doses massivas de ruído combinado com melancolia lisérgica. Na letra, destaca-se o recurso a imagens e conceitos da fé cristã, algo tão recorrente na escrita de Ralske como a veia poética que roça o pretensiosismo. 
Vai um docinho para o primeiro a identificar o nerdezito caixa-de-óculos do vídeo promocional...

sábado, 6 de fevereiro de 2010

First Exposure #5

















THE LANGLEY SISTERS

Formação: Gita, Rosie e Edie Langley (voz e multi-instrum.)
Origem: Londres, Inglaterra (UK)
Género(s): Pop retro, girl-groups, folk, vocal
Influências / Referências: Au Revoir Simone, Dr. John, The Shangri-Las, The Shirelles, Tom Waits


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

10 anos é muito tempo #18

 

PRIMAL SCREAM
XTMNTR [Creation, 2000]

Se um certo figurão do meio pop-rock é habitualmente apelidado de camaleão, em virtude da capacidade para se reinventar, não existirá certamente epíteto que se ajuste às constantes transformações estéticas operadas pelos Primal Scream no decurso da sua já longa carreira. Nascidos como indie-poppers devotos dos Byrds e de outros percursores do chamado jangle, ameaçavam ficar a constituir nota de rodapé do género. Mas eis que surge o primeiro rasgo de génio sob a forma de Screamadelica (1991), celebração da cultura hedonista movida a ecstasy e disco determinante na conciliação das linguagens dance e rock. No injustiçado Give Out But Don't Give Up (1994) revisitavam o blues-rock carnal dos Stones da melhor safra.  Quando todos se debatiam com as tensões pré-milénio, os Primal Scream gravavam o incompreendido e desafiante Vanishing Point (1997), expiação dos demónios com o intuito de preservar a sanidade mental. Ultrapassado o fantasma do bug, insuflados de uma fúria raivosa, os Primal Scream decidem manifestar a  revolta e a incompreensão para com um mundo à beira do caos. O alinhamento político à esquerda aflorado em ocasiões anteriores é, em XTMNTR, assumido sem amarras, expresso não só nas palavras, cruas e agressivas, mas também no suporte musical, negro e violento. Quer isto dizer que, quando muitos se rendiam à inexpressividade da denominada "música papel-de-parede", os Primal Scream, avessos a comportamentos em manada, propunham um disco facilmante rotulável como uneasy-listening.
As honras de abertura de XTMNTR cabem ao explícito "Kill All Hippies", tentativa conseguida de injectar atitude à boçalidade big beat, com o intro e o outro a cargo de um voz infantil , o que confere um certo desafio trangressor. Sem  abdicar do elemento "electrónico", "Accelator" chama à linha da frente as guitarras prenhes de sujidade evocativa dos MC5. "Exterminator" e o derradeiro e narcótico "Shoot Speed / Kill Light" incorporam a motorika dos Neu! que conheceria outros desenvolvimentos na obra posterior dos Primal Scream. Aperentemente mais de acordo com as convenções, ambas as versões altamente enérgicas de "Swastika Eyes" partem de uma base house music para formular um incitamento ao motim na pista de dança. Normalmente possuída por uma espécie de letargia narcótica, a voz de Bobby Gillespie reveste-se de visceralidade  em "Pills", exercício próximo da militância hip-hop que não rejeita a verborreia típica com um cuspido e repetido "sick, fuck, fuck...". A fechar a primeira metade do alinhamento, "Blood Money" é um instrumental de apelo cinemático que se aventura por terrenos do free jazz e, novamente, do kraut. A partir daqui, XTMNTR concede alguma trégua aos ouvidos fustigados pela espiral cacofónica, oferecendo inclusive algum reconforto sob a forma de "Keep Your Dreams", transe apaziguador no comprimento de onda do ultra-clássico "Higher Than The Sun"
Erigido a partir de materiais aparentemente incompatíveis, XTRMNTR fica a dever a sua solidez à minúcia do trabalho congregador de Kevin Shields, responsável pelo tratamento das incontáveis camadas de guitarras que unem as pontas soltas e desbastam as farpas. Ao mago por detrás dos My Bloody Valentine é dada carta branca na revisitação de "If They Move Kill 'Em" (originalmente incluído em Vanishing Point), que corresponde com um mantra hipnótico à base de percussões aceleradas.
Aquando da sua edição, XTMNTR era anunciado como o último lançamento com chancela da Creation Records, já condenada à bancarrota depois de anos de gestão catastrófica por parte de Alan McGee, um visionário no que confere à descoberta de talentos, mas um desastre na área dos negócios. A este propósito, diga-se, foi uma despedida em beleza...


"Kill All Hippies"


"Exterminator"


"Shoot Speed / Kill Light"

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Good cover versions #32

 

HÜSKER DÜ "Eight Miles High" [SST, 1984]
[Original: The Byrds (1966)]

Aquando da sua edição original, devido a alegadas referências ao uso de drogas, "Eight Miles High" causou acesa discussão junto das alas mais conservadoras da sociedade norte-americana, ao ponto de chegar ser banida das rádios. Apesar do boicote, a polémica jogaria a favor dos Byrds, que viram um dos seus temas mais profundamente imersos no psicadelismo, com influências da música indiana e do jazz experimental, fazer uma improvável carreira nos tops de vendas. Na altura, a banda foi pronta a refutar tais acusações. Porém, anos mais tarde, tanto Gene Clark como David Crosby, confessaram que a letra fora baseada nas experiências com substâncias ilícitas vividas pelos próprios membros da banda.
Quase vinte anos mais tarde, os Hüsker Dü revisitam "Eight Miles High", e de novo o tema foi gerador de controvérsia. Desta feita, a ortodoxia hardcore dos seguidores mais fervorosos do trio de Minneapolis não aceitou de bom grado que os ídolos reinterpretassem hits de figuras associadas ao movimento hippie. O que os pobres coitados não sabiam, é que, pouco tempo volvido, os huskers estavam a confessar a sua paixão não só pela música dos Byrds, mas também de Dylan e dos Beatles, e até a gravar (sacrilégio!) discos duplos semi-conceptuais.Vistas bem as coisas, "Eight Miles High" até mantém bem vincadas as marcas registadas da sonoridade até aí praticada pelos Hüsker Dü, bem evidentes na velocidade alucinante das guitarras distorcidas e nas vocalizações alienadas de Bob Mould. Contudo, esta simples reinterpretação teve o condão de fazer ruir convenções sem qualquer sentido. E, mais importante, ganhou vida autónoma do original, feito conseguido por um número diminuto de versões.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Forte Knox

 

Em finais da década de 1970, durante menos de dois anos, Chris Knox foi integrante dos Toy Love, dignos representantes do punk-rock em território neo-zelandês. Porém, o lugar nas enciclopédias pop seria assegurado pela próxima aventura musical: os Tall Dwarfs, estetas lo-fi com um estatuto de pioneiros no chamado kiwi-rock, associado de forma indelável à excelsa Flying Nun Records. Os conhecedores da  sua obra - tanto a solo como em grupo -, reconhecem-lhe a capacidade para criar canções (em quantidade e qualidade) de forte cunho pop, apesar das precárias condições de gravação. Esta intensa actividade criativa conheceria uma pausa em meados do ano passado, altura em que Knox sofreu um AVC. Para auxiliar na dispendiosa e difícil recuperação, um grupo de acólitos respondeu prontamente, gravando as 36 versões que se encontram reunidas em Stroke: Songs For Chris Knox, tributo em formato duplo incialmente disponível apenas na Nova Zelândia, mas a partir de 23 de Fevereiro com distribuição global via Merge Records. Além da presença em massa da elite indie-pop neozelandesa (The Chills, The Clean, The Verlaines, The Bats), Stroke conta ainda com a participação de um nada desprezível lote de devotos de outras norte-americanos. Entre eles, Yo La Tengo, Lambchop, AC Newman, Lou Barlow, Bonnie 'Prince' Billy, Bill Callahan, The Mountain Goats, Jeff Magnum, ou o malogrado Jay Reatard. 
Com a pré-encomenda do formato físico, a Merge oferece aos seus clientes a possiblidade de descarrregar de imediato a totalidade da obra em formato digital. Do que é que estão à espera?!


Tall Dwarfs "Nothing's Going To Happen" [Flying Nun, 1981]