"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Discos pe(r)didos #31



















THE JESUS AND MARY CHAIN
Automatic [Blanco y Negro, 1989]

À data da sua edição original, Automatic cometeu a proeza pouco louvável de alienar boa parte do público e da crítica favoráveis aos Jesus and Mary Chain, eles que tinham adquirido o estatuto de seminais com Psychocandy (1985) e já tinham visto alguns ânimos refrearem-se com o sucessor Darklands (1987). Analisado com objectividade, este terceiro disco mais não é do que o passo natural a seguir àqueles dois, ou até mesmo a súmula de ambos, com o lado eruptivo do primeiro e o controlo de impulsos do segundo. Para esta reacção algo distanciada, terão contribuído, entre outros, três factores: i) a imersão no ideário e em sonoridades de proveniência norte-americana, elementos aos quais o público europeu dito "alternativo" era então pouco receptivo; ii) o elemento sintético que advém do facto de, à excepção do tema "Gimme Hell", todas as batidas terem origem numa caixa-de-ritmos, com os irmãos Reid a encarregarem-se dos restantes instrumentos, recorrendo, inclusive, a algumas linhas de baixo sintetizadas; iii) a escolha do explosivo e neurótico "Blues From A Gun" - imagine-se o clássico "20th Century Boy", dos T. Rex dilacerado por vagas de distorção - para single promocional , à rebelia da editora que escolhera o poppy "Halfway To Crazy", provavelmente o tema mais leve dos JAMC até à data se não existisse "Drop", também aqui incluído.
Porém, o tempo - esse justiceiro - encarregar-se-ia de enquadrar devidamente Automatic, um disco conciso e unidimensional que, não só esteve na vangurada do pendor dançante assumido pelo rock de finais de oitentas, mercê do recurso às tais batidas sintéticas, como antecipou a "invasão americana" de inícios de noventas. Rico em referências a drogas e a comportamentos transgressores em geral, tão recorrentes no léxico dos JAMC, Automatic deve ser apontado, a par dos seus antecessores, como o terceiro vértice do triângulo que tão bem define esta banda deveras carismática. Do seu alinhamento, facilmente se elege um punhado de temas para figurar na antologia da obra dos manos tumultuosos originais. Oiça-se, por exemplo, o inaugural "Here Comes Alice" que, movido por um groove monstruoso, exala sensualidade vestida de negro. Ou o faiscante "Coast To Coast", que sugere o paralelismo entre a deriva na estrada e as trips derivadas de substâncias ilícitas. Ou então o contundente "UV Ray", pura diversão assistida a químicos. Ou, por fim, o galopante "Head On", declaração de amor incondicional da qual os Pixies se apoderariam para uma avassaladora versão, eventualmente superior ao original.
Por ironia do destino, o tal single difícil é a matriz do "som JAMC" adoptada por inúmeros projectos contemporâneos - sobretudo nos Estados Unidos - que fazem da distorção e da electricidade as matérias-primas de eleição. Já os temas mais leves e, portanto, desenquadrados do restante alinhamento, serviram de prenúncio a Stoned & Dethroned (1994], o semi-falhado disco "acústico" dos JAMC.


"Here Comes Alice"


"Blues From A Gun"


"Head On"

2 comentários:

eduardo disse...

é um bom disco, embora não aprecie muito a produção.

M.A. disse...

Não fiz referência a isso, mas também acho a produção demasiado "limpa". Talvez tenha sido isso que me fez estranhá-lo quando saiu. A mim e a mais uma data de gente...