THE SHINS
Wincing The Night Away (Sub Pop, 2007)
Retirar o plástico de um disco novo, de seguida pôr a rodela no leitor, e ouvir as primeiras notas, enquanto se folheia o booklet, é um ritual muito especial para qualquer melómano. Quando esse disco é Wincing The Night Away, o terceiro álbum dos Shins, esse ritual ganha para mim contornos de sagrado.
Lembram-se da cena do filme Garden State em que Sam (Natalie Portman) dizia a Andrew (Zach Braff) que os Shins iriam mudar a sua vida? Pois é, por essa altura já tinham mudado a minha! E depois de ouvir este novo disco em repeat um porradão de vezes, posso garantir que vão mudar a de muito mais gente.
A abrir temos "Sleeping Lessons": início com sintetizadores planantes e a voz de James Mercer naquele timbre que já conhecíamos de "Caring Is Creepy". Já depois dos dois minutos desaparecem os sintetizadores e entram as guitarras e bateria, criando um momento grandioso que nos acompanha até final da canção. A seguir temos "Australia", a faixa mais folk de todas. "Pam Berry" é apenas uma curta faixa daquele neo-psicadelismo-happy-sad em que os Shins são exímios e que serve de ponte para esse monumento pop que é "Phantom Limb" do qual já lhes falei aqui.
Por esta altura da escuta já se percebeu que, apesar de estarmos em terreno conhecido, o som dos Shins está "maior", mais grandisoso, mais límpido, tudo isto no bom sentido.
Mas a grande suspresa aparece em "Sea Legs", canção na qual, por cima de uma batida orgânica que vai beber ao hip hop, Mercer entoa uma daquelas suas letras ambíguas numa cadência que nos faz lembrar o Morrissey de outras eras. Séria candidata a canção do ano!
Até final, e apesar de não haver mais suspresas desde calibre, temos mais seis temas de puro encantamento, dos quais destacaria "Split Needles", feito da mesma matéria de "Phantom...", mas com a adição de uma secção de cordas, e "Turn On Me" que é aquilo que os Arcade Fire deveriam estar a fazer enquanto se ocupam com "intervenções" inconsequentes...
E como lhes dizia, ainda Janeiro não chegou ao fim, e duvido que algum disco a sair durante os próximos 11 meses possa bater Wincing... como disco do ano.
Além disso, e depois de outros dois discos irrepreensíveis, os Shins são, sem qualquer oposição, a banda mais consistente da década.
(Meu caro Stephen, é ao ouvir discos destes que os Pavement deixam de nos fazer tanta falta!)