"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Uma casa assombrada















Foto: David Black

Sortes diferentes têm conhecido os revisitadores das sonoridades sunshine-pop de sessentas sob a óptica desfocada indie que, na última meia dúzia de anos, têm sido responsáveis por manter acesa a chama da canção pop. Assim, se os Real Estate são já um nome estabelecido, e os Woods têm, com a insistência, alargado o culto, os san-franciscanos The Fresh & Onlys são ainda um segredo mais ou menos guardado, isto apesar dos cinco álbuns no currículo. Só podemos adjectivar de injustiça este quase anonimato, mormente a partir do terceiro registo, o soberbo Play It Strange (2010) que era abrigo de um belíssimo lote de canções prenhes do espírito west-coast em tons sépia. Já no digno sucessor Long Slow Dance (2012) verifica-se uma inflexão à jangle-pop em voga na segunda metade dos eighties, reveladora de alguma devoção pelos The Smiths.

Com o novo House Of Spirits o espírito de há três décadas permanece, se bem que desta feita os californianos recuperem muita da gravidade usual em bandas de oitenta e poucos, dadas a questões de alguma profundidade. A operação estética, que certamente causa bastante estranheza num primeiro contacto, ainda não é, digo-vos para vos sossegar, a rendição dos The Fresh & Onlys ao aparato "gogó". Concebido durante um retiro no deserto, eventualmente dedicado à expiação dos demónios do mentor Tim Cohen, House Of Spirits ainda retém aquela aridez que é marca da banda. Por conseguinte, no digladiar das vozes projectadas com as guitarradas das regiões fronteiriças de temas como "Animal Of One" assistimos ao improvável encontro dos The Cure com os Eagles. Já no excelente, mas totalmente inesperado, "Bells Of Paonia", o manto feedback de uns My Bloody Valentine cruza-se com a secura desoladora de uns American Music Club. Ainda que a luminosidade não marque propriamente presença em House Of Spirits, há a registar na segunda metade da dezena de temas um desvanecer do dramatismo. Curiosamente, e depois de devidamente absorvida a tensão dos primeiros temas do alinhamento, esta parte, numa vertente aligeirada dos Echo & The Bunnymen, é a menos estimulante do disco. Porém, as diferenças de atmosfera não são assim tão significativas para pôr em causa a coesão de um álbum que, acima de tudo, regista um afastamento considerável da "zona de conforto" dos The Fresh & Onlys.

[Mexican Summer, 2014]

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