"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Ao vivo #122

















Evan Parker & Matthew Shipp @ Fundação Calouste Gulbenkian, 02/08/2014

Precisamente no ano em que o programa do Jazz em Agosto da Gulbenkian conhece uma relativa abertura ao facilitismo do apelo às massas, dois nomes sobressaem no cartaz como sinónimo do maior arrojo que normalmente caracteriza um festival único no panorama nacional. São eles o saxofonista (tenor e soprano) inglês Evan Parker e o pianista norte.americano Matthew Shipp, separados na idade por uma geração. O primeiro é uma figura de relevo na história do jazz europeu, já com estatuto de lenda, enquanto o segundo para lá caminha. Figuras de proa na arte da improvisação, são ambos abertos à transposição do género, e para além de diversas colaborações registadas como dupla, já se encontraram em trabalhos do colectivo britânico Spring Heel Jack, este com berço no nicho da música electrónica.

Para os cépticos que catalogam a facção free-jazz como uma mera cacofonia desregrada, os primeiros instantes do concerto de sábado poderiam ser defesa de tal tese. Isto se a preguiça associada a tal convicção toldasse os sentidos ao ponto de não se reconhecer logo aqui a mestria de qualquer dos executantes, ambos com uma destreza que assusta nos tempos curtos desta primeira parte feita de texturas convulsas. Já tal tese é indefensável quando a dupla envereda por uma toada de assinalável harmonia, mas nem por isso menos imprevisível e experimentalista. A atmosfera delicada ganha realce quando Evan Parker assume o sax soprano, este que quando chega o momento do solo é capaz de sons que julgávamos inimagináveis naquele instrumento, ao mesmo tempo que demonstra todo o seu virtuosismo numa simbiose perfeita do fôlego com a agilidade dos dedos. Também Matthew Shipp tem o seu momento de brilho a solo, também num jogo do contraste entre os sons incisivos e o quase silêncio, sempre na linha de tempos curtos que caracterizou a actuação. No final, o curto encore soube a pouco como culminar de uma hora e um quarto que se esgotou num ápice.

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