"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Pretty in pink
















Na alvorada de oitentas, precisamente na mesma altura em que, nos confins da América, uns desconhecidos R.E.M. iniciavam a recuperação da canção pop de travo psicadélico de sessentas sob as regras do-it-yourself difundidas pelo punk, na distante Nova Zelândia uma pequena comunidade de jovens bandas levava a cabo idêntico processo. Mas, se os ianques conheceram o estrelato massivo posteriormente, a semi-obscuridade foi o destino daqueles protagonistas do chamado kiwi-rock. A história poderia ter sido diferente para alguns deles, mormente uns tais The Chills, que estiveram a uma nesga da consagração no período de todas as oportunidades de inícios da década de 1990. Porém, o percurso errático de Martin Phillips, mentor, compositor, e único membro permanente, foi determinante na sabotagem de um plano que nem terá chegado a ser traçado, tal a fobia do sucesso. Mesmo apesar dos longos hiatos de ausência, há que reconhecer em Phillips a autoria de bom lote de canções intemporais, a mais brilhante de todas "Pink Frost", seguramente a mais bela canção jamais escrita sobre uma overdose. Simplista na estrutura, é um tema que assenta toda a sua melancolia imaculada numa circular de ritmo motorik e delicadas guitarras etéreas. Como nem só de hits se faz a história pop, "Pink Frost" tem estatuto de clássico na definição de uma linguagem indie canónica, tal como a conhecemos.

Foi por via de tal veneração, e também em jeito de celebração do fim do longo silêncio, que, no ano passado, elegemos a novidade "Molten Gold" como um dos acontecimentos pop. O que na altura não se disse é que aquele lançamento acontecia apenas em formato digital. Para os amantes da coisa física temos boas notícias, já que o mesmo tema acaba de conhecer edição em formato 7". Como se não bastasse, o lado b é uma regravação de "Pink Frost", concebida pela bastante activa reencarnação dos The Chills para assinalar os 30 anos da edição original daquele tema. Antes que venham invocar o sacrilégio e a intocabilidade, esclareça-se desde já que o remake não só honra o original, como é em certa medida uma canção nova. Sem o teor atmosférico e a contaminação kraut da versão de 1984 (mas gravada em 1982), respeita ainda assim a estrutura original. No entanto, é um tema mais expansivo, de guitarras mais dominates e estridentes, que abre boas perspectivas para a sonoridade renovada do prometido futuro álbum que se antevê próximo. Ora oiçam, comparem, e digam de vossa justiça:


[Fire, 2014]

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