"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

For Emma, forever ago
















Contrariamente ao que normalmente é veiculado, Lee Fields não é uma revelação em idade avançada no universo soul. Hoje com 63 anos de idade, tem cerca de quatro décadas de carreira, mas o que é certo é que, depois da edição de Let's Talk It Over (1979), o soberbo álbum de estreia, e não obstante ter editado com assinalável regularidade, a conjuntura não lhe foi favorável e caiu praticamente no esquecimento. Habituado aos estúdios, tem, por isso, uma voz mais treinada que a de gente como Sharon Jones ou Charles Bradley, dois dos mais badalados novos-velhos que são talento em bruto. Talvez o motivo para que o nome de Fields surja associado ao daqueles advenha do facto de, ao fim de dez anos de silêncio que presumiam a desistência, a Truth & Soul lhe ter relançado a carreira. O momento coincidiu com aquele em que a Daptone Records apostava em Jones e em Bradley como novos valores para o interesse renovado de uma nova geração hip, essencialmente branca, pelas sonoridades retro-soul, eventualmente motivada pela busca de uma ideia de pureza. De então para cá, aquela editora nova-iorquina já foi selo de My World (2009) e de Faithful Man (2012), dois álbuns merecedores de alguns louvores mas que não valeram a Lee Fields ainda uma visibilidade significativa junto do público.

Talvez o caso possa mudar de figura com o novo e excelente Emma Jean, que tem como título o nome da mãe do cantor, falecida há quase vinte anos. Por via daquela inspiração, e quando comparado com a restante obra, é um trabalho significativamente sóbrio, diria até, carregado de uma certa espiritualidade. Como tal, Lee Fields surge contido, apenas vagamente politizado, sem o espalhafato que lhe era característico, e que já lhe valeu no passado a alcunha de Little JB, tanto pelas semelhanças fisionómicas com o mestre James Brown, como pelos tiques vocais. Por conseguinte, Emma Jean está próximo de um conceito de soul sulista, com uma voz madura mas em pleno de forma, capaz da introspecção de um Bobby Womack, mas também da expressividade de um Otis Redding. Igualmente brilhante é o suporte instrumental, a cargo dos The Expressions, banda que já há alguns anos acompanha o cantor. Menos exuberante que outras bandas congéneres, mas aparentemente mais rica em ideias, os Expressions são capazes dos sopros mais incríveis e menos previsíveis, que sublinham com subtileza os picos dramáticos de cada canção. A secção de metais é, no entanto, apenas o destaque de um todo capaz de criar temas que se aguentam sem o complemento vocal, o que levanta a hipótese da edição em disco dos trechos instrumentais, com já aconteceu com o anterior My World. Porém, o resultado eventual ficará sempre aquém do da simbiose "banda + voz", que desta feita logrou um clássico instantâneo da soul, em qualquer época. Sim, Emma Jean é assim de bom!

 
"Just Can't Win" [Truth & Soul, 2014]

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