"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Misery loves company














Entramos no novo ano e mantém-se a promessa de que nos meandros da música electrónica vai continuar a haver motivos para considerarmos esta uma época dourada. Bem, corrigindo, não vos falo da electrónica pura-e-dura, mas daqueles estetas paisagísticos que tanto podem recorrer à manipulação de sons "orgânicos", como o contrário, isto é, reproduzir o real a partir de sons sintetizados. Um deles, novo nestas andanças, é Steven Shade, músico escocês com um passado ligado às correntes menos ortodoxas do rock, do math ao post-rock, o que certamente tem repercussões no seu trabalho actual.

Depois da passagem por diferentes bandas, assume-se como Sevendeaths, projecto com o qual acaba de editar o álbum Concreté Misery, disco percorrido por uma estética obscurecida, com afinidades com a obra de um Tim Hecker. Porém, a principal diferença que salta à vista é a aura harmoniosa que raramente está presente na música do canadiano. Quando o negrume se adensa, e os drones se tornam mais impenetráveis, estamos próximos da melancolia subtraída da agressão própria do black metal. Atendendo à toada lenta e arrastada, há, portanto, aproximações ao universo explorado pelos Sunn O))). Também a música concreta e o minimalismo, tendências cuja descoberta terá sido determinante na viragem estética de Steven Shade, são determinantes nos processos de Concreté Misery. Embora assim, em teoria, este disco possa parecer uma manta de retalhos desconexa, asseguro-vos de que é uma obra bastante coesa na assimilação das diferentes linguagens musicais. Com um forte cariz cinemático, chega a conter momentos de uma beleza latente, embora nos interstícios corroída pela ferrugem da melancolia.

"All Night Graves" [LuckyMe, 2014]

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