"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Here comes the sun

















Talvez ainda não vos tivesse dito, mas tenho de vos confessar que me começa a enfastiar toda esta corrente revivalista em que tudo agora é psych. Não tanto pela quantidade de ofertas, mas pela artificialidade da esmagadora maioria, invariavelmente produto decalcado das fontes do passado e devidamente polido para não magoar o ouvido "moderno". Quando é assim, qual é a necessidade da existência deste ror de bandas quando podemos continuar a desfrutar da real thing? Há excepções, claro. Uma delas, sou levado a crer, são os britânicos Temples, que no ano passado nos brindaram com um par de excelentes singles banhados pelo mesmo sol da Califórnia que outrora abençoou a música dos The Byrds. Certamente derivativos, mas com o traço pop de um requinte que nos faz ansiar por um álbum num misto de receio e expectativa.

Editado nesta semana, Sun Structures inclui aquela parelha de temas, o que reduz o número de novidades mas possibilita que duas grandes canções possam chegar a maior número de ouvidos. Num trabalho que não defrauda de forma alguma as melhores previsões, fica assim assegurado o elemento byrdsiano, que se dissipa no restante alinhamento para dar lugar a muitos ecos dos The Beatles. É inevitável a comparação aos contemporâneos Tame Impala mas, para o nosso bem, os Temples ainda respeitam a essência da canção pop no mesma razão que os australianos enveredam pelo delírio virtuoso. Outra influência assumida por James Bagshaw, vocalista, guitarrista e elemento mais experiente, é o prog britânico de inícios de setentas, sentida sobretudo pelas referências esotéricas que, ainda segundo a mesma fonte, são mais adereço estilístico do que propriamente uma doutrina. Na vontade de experimentar diferentes fontes, sem se deter no decalque directo e no excesso de purismo, e a partir daí urdir óptimas canções pop intemporais, reside talvez o trunfo que distingue os Temples da concorrência. A propósito de Sun Structures, e da forma como este assimila as diferentes referências, lembrei-me agora da fulgurante estreia dos The Coral, há mais de uma década atrás. Resta agora cruzar os dedos e torcer para que, depois de superado o primeiro teste, os Temples sejam capazes de ter carreira tão significativa e regular como a daqueles.

"Mesmerise" [Heavenly, 2014]

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