"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Bone machine

















Face às cores garridas da música que fazia a "moda" de Brooklyn há pouco mais de um par de anos, os Hospitality eram ave-rara com a sua revisão moderna da twee-pop com quase três décadas. Precisamente em 2012, deram-se a conhecer com um álbum homónimo, disco simpático mas ao qual faltava qualquer traço distintivo para o fazer grudar aos tímpanos. Talvez porque faltasse à banda o engenho para urdir canções imediatas, do calibre das dos "concorrentes" como os Camera Obscura ou os Allo Darlin'.

De então para cá, os Hospitality viram-se reduzidos de quarteto a trio, e esta perda que poderia ter-lhes causado mossa obrigou-os a reinventar-se com uma sonoridade mais esquelética, mas com o nervo que antes estava ausente. O resultado desta operação de cosmética está no novo Trouble, álbum no qual a vocalista Amber Papini se emancipa face a Tracyanne Campbell e Elizabeth Campbell - frontwomen das citadas bandas da concorrência - e perde os trejeitos típicos de uma bibliotecária. A voz, várias vezes num staccato frenético (oiça-se "I Miss Your Bones"), está em sintonia com as arestas agudas das guitarras, e as suas letras têm agrura em dose superior à da doçura. Alarga-se a paleta de instrumentos, com o recurso a sopros insinuantes e a sintetizadores datados de oitentas, estes apenas perdoados em defesa da variedade. Algo esquizofrénico para uma assimilação imediata, Trouble e os seus dez pedaços de ansiedade e reboliço urbano acabam por revelar, com as sucessivas audições, um estranho poder de sedução pop que ainda desconhecíamos nos Hospitality.

 
"Going Out" [Merge, 2014]

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