"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Ao vivo #115
















Sonic Boom / Experimental Audio Research @ Teatro Maria Matos, 06/02/2014

Embora com uma carreira pós-Spacemen 3 relativamente mais discreta em termos mediáticos que a do antigo companheiro Jason Pierce, não se pode dizer que Peter Kember se tenha entregue à preguiça nestas mais de duas décadas. Pelo contrário, é já vasta a obra editada tanto como Sonic Boom, "alcunha" que ganhou já nos tempos daquela banda lendária, como ainda à frente dos Spectrum ou dos Experimental Audio Research, este último um colectivo pelo qual têm passado outros rebeldes da coisa rock. Além disso, e com especial incidência nos anos mais recentes, tem sido bastante requisitado no papel de produtor. É precisamente nessas funções que se encontra no nosso país, novamente a produzir para Panda Bear, presença essa que possibilitou e motivou o concerto da passada quinta-feira.

Embora o espectáculo tenha sido anunciado com o título acima, aquilo a que pudemos assistir foi mais uma súmula das diferentes facetas de Kember, a possível no espaço de hora e meia face à longa duração de todas as peças apresentadas sem qualquer intervalo. Essa resenha acontece naquilo que poderemos designar como a primeira parte do concerto, espaço também para a versão (dos Kraftwerk) reverente às influências, algo do qual já os Spacemen 3 não se coibiam. É nesta fase que temos a oportunidade de escutar os temas mais próximos do formato canónico de canção, embora sempre corrompidos pela vontade de expandir os sons com o intuito de induzir os sentidos. Apesar da presença solitária em palco, acompanhado apenas da "maquinaria", este é um espectáculo bastante mais elaborado do que aquele, bastante informal, que Peter Kember trouxe há uns anos ao Museu do Chiado, como se afere das projecções preparadas para o efeito, em consonância com o cariz psicotrópico da música. Para a suposta segunda parte, está reservada apenas uma sumptuosa peça, a rondar os 40 minutos de duração, na qual desfilam todos os ingredientes que têm movido Kember desde a adolescência, todos extraídos das correntes renegadas do rock. Faz-se aqui jus ao experimentalismo a que a alude o nome do projecto em cartaz, com uma lenta progressão de sons refractados que conduzem a um estado lisérgico, no qual perdemos qualquer noção de tempo. Coadjuvado pela excelente efeito das imagens no fundo do palco, Sonic Boom desperta-nos do transe apenas com o singelo agradecimento que segue o último som, para arrancar um intenso e merecido aplauso.

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