"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Vamos a la playa
















Há na produção musical recente uma nebulosa, cada vez mais concorrida, para a qual convergem "géneros" como o shoegaze, o noise, o kraut, o post-rock, ou o psych, e que normalmente é representada por músicos homens. Nesta tendência, e também por norma, o papel das mulheres presentes é secundário, quando não de figurantes, resumindo-se a emprestar umas vozes etéreas e/ou misteriosas. Em tempos passados, o quarteto exclusivamente feminino Electrelane constituía excepção, com a sua renovação dos ensinamentos dos Stereolab. Precisamente pela mesma altura que aquela banda britânica assinava a certidão de óbito, em Melbourne, na Austrália, as Beaches davam os primeiros passos como colectivo de cinco raparigas já com currículo em bandas de diferentes visibilidades. Um primeiro álbum homónimo, datado de 2008, ressoou com estrondo nas antípodas, ao propor um lote de temas densos e monolíticos que reclamavam heranças dos My Bloody Valentine, assim como de uma certa frieza tipicamente teutónica.

Desde esse disco de estreia passaram cinco anos, e as Beaches, se não estiveram completamente inactivas, não forma propriamente produtivas. Contudo, este período de silêncio apenas interrompido por um par de pequenos formatos, revelou-se extremamente útil para o refinar da linguagem musical da banda. As primeiras impressões que são deixadas pela audição de She Beats, o segundo álbum editado recentemente, é que o elemento kraut se desemaranhou da teia de ruído, e se assumiu como mais notório. É então, sem surpresas, que as Beaches contam com a colaboração de Michael Rother, metade da formação dos lendários NEU!, num par de temas do disco. Se por interferência do veterano músico alemão, se por vontade própria das raparigas, não sabemos, mas o que é certo é que She Beats aposta numa veia exploratória, baseada nas repetições e nas estruturas circulares com o intuito de toldar os sentidos. O elemento instrumental é privilegiado, com as vozes, quando surgem, a soarem distantes na muralha densa ou dissimuladas no acompanhamento da cadência rítmica. Apesar da sua obsessão pela frieza da precisão, She Beats não deixa de revelar uma certa luminosidade estival que convém registar.

 
"Send Them Away" [Chapter Music, 2013]

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