"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

domingo, 12 de maio de 2013

Ghost in the machine















Já lá vai uma década desde que os British Sea Power irromperam no meio daquilo a que na altura se chamava "novo rock" com uma proposta que divergia do hedonismo vigente. Na banda de Brighton sentia-se que eram gente letrada, não necessariamente pedante, um pouco à semelhança de alguns produtos do post-punk tardio. Notavam-se também laivos de grandiosidade, muitas vezes comparada à dos U2 pela preguiça facilitista, mas na realidade mais próxima de uns Echo & The Bunnymen com o romantismo decadente de uns Psychedelic Furs, como ficou demonstrado no sublime segundo álbum (Open Season, de 2005). Depois de um começo fulgurante, as aspirações de grandeza derivaram para a megalomania, primeiro querendo aproximar-se da exuberância de uns Arcade Fire, depois pelo desnorte de querer abraçar mil-e-um géneros num álbum excessivamente longo, processo acompanhado pelo esmorecer do entusiasmo por estas bandas.

É pois com alguma alegria que constato que, ao quinto álbum (se descontarmos as duas bandas sonoras já no currículo), os BSP parecem retomar o trilho que me fez segui-los desde a primeira hora. Não sendo propriamente a obra-prima do agora sexteto, Machineries Of Joy refreia alguma da grandiloquência algo balofa do passado próximo, regredindo em certa medida até à orientação do primeiro par de álbuns. Diria até, que se excluirmos dois ou três temas de delírio espasmódico, do mais tenso que os BSP já fizeram, este será o seu trabalho mais contido, como se o fantasma de Open Season pairasse tenuemente sobre estas novas canções, contemplativas e muitas vezes desencantadas. Esta maior contenção não significa necessariamente maior simplicidade, bem pelo contrário, o kraut que já aflorava em anteriores trabalhos penetra na complexidade feita de muitos detalhes. Liricamente, quando aquela excentricidade tresloucada que lhes é característica o permite, os BSP continuam obcecados em celebrar a natureza e a vida selvagem, bem como a versar sobre os acontecimentos históricos mais inesperados. Neste regresso à boa forma, apetece novamente perguntar: para quando um desses propalados concertos entre a religiosidade e a loucura em palcos portugueses?

 
"Machineries Of Joy" [Rough Trade, 2013]

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