ROWLAND S. HOWARD _ "Life's What You Make It" [Liberation, 2009]
[Original: Talk Talk (1986)]
O trajecto dos Talk Talk é um dos mais fascinantes volte-faces registados, não só de oitentas, como em toda a história da música popular. Nascida sob os auspícios "neo-românticos", e inicial e justamente apontada como seguidista, a banda londrina soube evoluir para algo mais personalizado, ao ponto de se tornar, em finais da década, caso de estudo para as tendências dos anos que se seguiriam (falamos de post-rock, pois claro!). Obviamente, uma mudança tão drástica não se opera de um dia para o outro, de um disco para o seguinte. Carece sempre de uma fase transitória, que no caso dos Talk Talk coincidiu com o álbum The Colour Of Spring, ainda pop na sua essência, mas já com assinalável apuro instrumental e alguma gravidade pouco comum em bandas habituadas às tabelas de vendas. É lá que encontramos "Life's What You Make It", um tema que acusa alguns dos tiques da produção da época mas ao qual as batidas sincopadas e as notas em loop do piano conferem uma aura sinistra até aí desconhecida. A própria letra, entre o confessional e o reflexivo, sugere a luta do vocalista Mark Hollis com as drogas, matéria que serviria de base, com os resultados que se conhecem, no magistral Spirit Of Eden (1988).
É nessa vida de excessos que Rowland S. Howard encontra afinidades, ou não tivesse em tempos, este músico australiano que foi apenas um dos mais carismáticos guitarristas da era post-punk, alinhado ao lado de Nick Cave, Mick Harvey, et al. na pandilha maldita conhecida como The Birthday Party. Esse trajecto errático encontrou paralelo na carreira musical que, à parte um bom número de colaborações, rendeu apenas dois álbuns a solo. O último dos quais - Pop Crimes - foi gravado escassos meses antes da sua morte, vítima de cancro. Por inerência, é todo ele um disco de reflexão em fim de vida. Portanto, a versão de um tema com a características de "Life's What You Make It" encaixa perfeitamente no alinhamento. Interpretado por Howard, respeita fielmente a cadência opressiva do original, realçando apenas a densidade da atmosfera. Algo que tanto se fica a dever ao timbre grave e seco da voz, como aos golpes contundentes da guitarra pelo meio de um ritmo maníaco pautado pelo piano.
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