"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 17 de abril de 2012

10 anos é muito tempo #34








NINA NASTASIA
The Blackened Air
[Touch and Go, 2002]




Vem à baila o nome de Steve Albini e logo se atemorizam as donzelas mais delicadas perante a menção do nome do enfant terrible do rock mais abrasivo. Puro equívoco, reduzi-lo a esse nicho, principalmente se tivermos em conta os discos em que se tem envolvido na última dúzia de anos. Pela parte que me toca, prefiro vê-lo como alguém que privilegia a pureza crua da música em detrimento do artifício supérfluo. Tomemos como exemplo Nina Nastasia, cantautora por si "apadrinhada" e gravada desde o primeiro minuto. Também pela sua mão, o primeiro álbum de tiragem limitadíssima (Dogs de 2000, posteriormente reeditado pela Touch and Go) chegou aos ouvidos de John Peel, do qual o entusiasmo e a rodagem constante acabariam por gerar um pequeno culto.

Mas por ora, concentremo-nos no sucessor, o disco que apresentou a um público mais vasto a sua autora que, apesar das origens eslavas, mergulha como poucas contemporâneas nas profundezas da música tradicional norte-americana. Como o próprio título sugere, The Blackened Air é um disco tenso, por vezes críptico, que faz de Nastasia uma descendente directa de Karen Dalton e outras almas penadas da folk americana e derivados. A corroborar a atmosfera southern gothic, com paisagens outonais desoladoras, drama e miséria, a própria música, descarnada e registada sem efeitos artificiais. À guitarra de Nina juntam-se outros, poucos, instrumentos acústicos: acordeão, mandolim, violino, violoncelo. Quando todos se juntam, numa "sinfoneta" desengonçada, são a banda sonora de uma procissão funérea. E depois há a voz, que não sendo das mais elásticas, tem a proximidade calorosa que penetra nas temperaturas gélidas de todo o disco. É ouvi-la, em lamento de menina-moça, em "In The Graveyard", tema assombroso e assombrado pelos fantasmas de uma viuvez precoce. Ou em "This Is What It Is" e "Ocean", nos quais encarna a mulher submissa e conformada. Qualquer dos exemplos citados corresponde aos poucos temos de duração mais ou menos convencional, pois na esmagadora maioria, Nina Nastasia relata as suas histórias de amores desavindos, outros trágicos, em pequenos trechos que, surpreendentemente, são ricos no pormenor quase visual. Também neste particular, tal como na música, a poupança de meios é a principal arma do fascínio de The Blackened Air.

"This Is What It Is"


"In The Graveyard" 


"Ocean"

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