NO AGE
Eraser
[Sub Pop, 2008]
Em tempos recentes, não haverá rótulo aplicado no meio musical mais insólito do que o chamado shitgaze. Para quem não sabe, esta caracterização é normalmente aplicada à vaga de bandas surgidas no final da década pasada, essencialmente no Ohio e na Califórnia mas com disseminação por toda a América do Norte, a operar na confluência do lo-fi com o noise. Catalogação vaga, sugere alheamento e desleixe, algo de redutor para bandas como os No Age, dupla de Los Angeles muitas vezes apontada como os padrinhos do "género". Redutor porque, na sua fórmula musical, embora rugosa e aparentemente inacabada, pressente-se risco e ambições de experimentação.
Os mais atentos já os tinham detectado com os primeiros discos em pequeno formato (reunidos na compilação Weirdo Rippers). Desde logo se anteviu neles um banda para provocar impaciência por cada novo lançamento, algo caído em desuso desde a primeira metade de noventas, no tempo em que o mundo indie oferecia uma boa mão cheia propostas interessantes a cada semana. Estava assim criado o quadro de expectativas em alta para Nouns, o primeiro álbum propriamente dito. Tanto mais que, a antecedê-lo, o 7" Eraser apresentava uns No Age incrivelmente evoluídos na sua sonoridade. Rigoroso na economia de tempo, o single oferece um total de quatro temas em pouco mais que oito minutos. De todos, é imperativo destacar o tema-título (o único incluído no álbum), verdadeira reactualização da urgência dos primeiros contactos com os Nirvana para os sons mais difusos do presente. Dividido em duas partes de durações semelhantes, tem na secção introdutória um mantra de guitarra circular que poderia, por hipótese, ter resultado das últimas experiências sonoras conhecidas dos My Bloody Valentine, se estes não tivessem enterrado definitivamente o passado jangly. Coincidindo com a entrada em cena da voz de Dean Spunt, a guitarra de Randy Randall enfurece-se e sob de tom. Embora as palavras sejam praticamente imperceptíveis, na forma acusatória com que são proferidas, deixam imaginar uma descarga de ennui juvenil acumulado. Um grito de revolta abafado e perturbado pela "imperfeição" de uma omnipresente pandeireta percutida com desdém.
Para o lado B, e um pouco à semelhança dos citados Nirvana, os No Age reservam o tributo aos seus heróis mais obscuros, sob a forma de três versões de originais que vão do power-pop ao punk mais primevo. As bandas contempladas são gente como The Nerves, Urinals e um tal de Nate Denver's Neck. Mais não são do que versões informais, provavelmente captadas num único take. Meros esboços de canções que podem ir da descarga punky ao puro abstraccionismo sónico que têm como único propósito aguçar a curiosidade do ouvinte.