"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Classe de 2010

Chega ao fim mais um ano. Antes do virar desta página do calendário impõe-se o balanço do que de melhor aconteceu em termos musicais nos últimos 12 meses. Tal como vinha afirmando em anos anteriores, 2010 foi ano parco em discos efectivamente marcantes, daqueles que ouviremos com insistência ao longo do resto dos nossos dias. De resto, esta teoria que parece agora encontrar eco em muitos outros pontos de paragem por essa blogosfera. No entanto, sou da opinião de que este foi um ano em que a qualidade média subiu relativamente aos precedentes. Pese embora esse facto, o que mais ensombra 2010 é a quantidade de personagens do mundo pop desaparecidos: Ari Up, Peter Christopherson, Malcolm McLaren, Jay Reatard, Captain Beefheart, Solomon Burke, Mark Linkous e, acima de todos, Alex Chilton, são apenas alguns dos responsáveis pelo refinamento do gosto musical deste escriba que deixaram este mundo. 
Sem mais delongas, passemos ao desfile dos melhores do ano:

30 ÁLBUNS















  1. THE SOFT PACK _ "The Soft Pack"
  2. TEENAGE FANCLUB _ "Shadows"
  3. MALE BONDING _ "Nothing Hurts"
  4. WEEKEND _ "Sports"
  5. CARIBOU _ "Swim"
  6. THE CORAL _ "Butterfly House"
  7. BEST COAST _ "Crazy For You"
  8. SUPERCHUNK _ "Majesty Shredding"
  9. TAME IMPALA _ "Innerspeaker"
  10. EDWYN COLLINS _ "Losing Sleep"
  11. JOHN GRANT _ "Queen Of Denmark"
  12. NO AGE _ "Everything In Between"
  13. DUM DUM GIRLS _ "I Will Be"
  14. NEIL YOUNG _ "Le Noise"
  15. GOLDEN TRIANGLE _ "Double Jointer"
  16. DEERHUNTER _ "Halcyon Digest"
  17. SWANS _ "My Father Will Guide Me Up A Rope To The Sky"
  18. SURF CITY _ "Kudos"
  19. THE PHANTOM BAND _ "The Wants"
  20. WILD NOTHING _ "Gemini"
  21. THREE MILE PILOT _ "The Inevitable Past Is The Future Forgotten"
  22. FRANKIE ROSE & THE OUTS _ "Frankie Rose & The Outs"
  23. WOMEN _ "Public Strain"
  24. PAUL WELLER _ "Wake Up The Nation"
  25. WOODS _ "At Echo Lake"
  26. ONEOHTRIX POINT NEVER _ "Returnal"
  27. GRASS WIDOW _ "Past Time"
  28. THE POSIES _ "Blood/Candy"
  29. SUUNS _ "Zeroes QC"
  30. THE FRESH & ONLYS _ "Play It Strange"



40 CANÇÕES (por ordem alfabética)

  • THE ART MUSEUMS _ "Oh Modern Girls"
  • AVI BUFFALO _ "What's In It For"
  • BEST COAST _ "Boyfriend"
  • BETTY & THE WEREWOLVES _ "Paper Thin"
  • BRITISH SEA POWER _ "Bear"
  • CARIBOU _ "Odessa"
  • THE CLIENTELE _ "As The World Rises And Falls"
  • THE CORAL _ "1000 Years"
  • CRYSTAL STILTS _ "Shake The Shackles"
  • DEERHUNTER _ "Desire Lines"
  • DUM DUM GIRLS _ "Bhang Bhang, I'm A Burnout"
  • EDWYN COLLINS ft. THE DRUMS _ "In Your Eyes"
  • FRANKIE ROSE & THE OUTS _ "Candy"
  • THE FRESH & ONLYS _ "Summer Of Love"
  • GOLDEN TRIANGLE _ "Death To Fame"
  • JAILL _ "The Stroller"
  • JAPANDROIDS _ "Art Czars"
  • JOHN GRANT _ "Sigourney Weaver"
  • LIARS _ "Scissor"
  • MAGIC BULLETS _ "They Wrote A Song About You"
  • MALE BONDING _ "Franklin"
  • NO AGE _ "Glitter"
  • THE PAINS OF BEING PURE AT HEART _ "Heart In Your Heartbreak"
  • REAL ESTATE _ "Out Of Tune"
  • SCARCE _ "Stupid In A Cup"
  • THE SOFT PACK _ "Parasites"
  • SPECTRALS _ "Peppermint"
  • STEREOLAB _ "Silver Sands (Emperor Machine Mix)"
  • SUPERCHUNK _ "Fractures In Plaster"
  • TAME IMPALA _ "Solitude Is Bliss"
  • TEENAGE FANCLUB _ "Baby Lee"
  • TENDER TRAP _ "Do You Want A Boyfriend?"
  • THE VASELINES _ "I Hate The 80s"
  • VERONICA FALLS _ "Found Love In A Graveyard"
  • WAVVES _ "King Of The Beach"
  • WEED HOUNDS _ "Beach Bummed"
  • WEEKEND _ "Coma Summer"
  • WILD NOTHING _ "Chinatown"
  • WOODS _ "Suffering Season"
  • YUCK _ "Rubber"



10 EPs














  1. BRITISH SEA POWER _ "Zeus"
  2. THE CLIENTELE _ "Minotaur"
  3. THE ART MUSEUMS _ "Rough Frame"
  4. FOREST SWORDS _ "Dagger Paths"
  5. KURT VILE _ "Square Shells"
  6. SEEFEEL _ "Faults"
  7. THE PONYS _ "Deathbed + 4"
  8. SPECTRALS _ "Extended Play"
  9. PETE & THE PIRATES _ "Precious Tones"
  10. THE DUKE SPIRIT _ "Kusama"



10 REEDIÇÕES / COMPILAÇÕES













  1. ORANGE JUICE _ "Coals To Newcastle"
  2. BLACK TAMBOURINE _ "Black Tambourine"
  3. THE JAM _ "Sound Affects"
  4. BMX BANDITS _ "Life Goes On"
  5. R.E.M. _ "Fables Of The Reconstruction"
  6. SMUDGE _ "Manilow"
  7. FURNITURE _ "The Wrong People"
  8. DOLLY MIXTURE _ "Everything And More"
  9. SAVAGE REPUBLIC _ "Procession: An Aural History"
  10. JAPANDROIDS _ "No Singles"



20 CONCERTOS











  1. TEENAGE FANCLUB @ Primavera Club - Madrid (27 Nov.)
  2. SHELLAC @ Galeria Zé dos Bois - Lisboa (24 Mai.)
  3. PAVEMENT @ Primavera Sound - Barcelona (27 Mai.)
  4. REAL ESTATE @ Galeria Zé dos Bois - Lisboa (19 Fev.)
  5. EDWYN COLLINS @ Primavera Club - Madrid (27 Nov.)
  6. MISSION OF BURMA @ Galeria Zé dos Bois - Lisboa (24 Mai.)
  7. YO LA TENGO @ Aula Magna - Lisboa (14 Mar.)
  8. FAUST @ Teatro Maria Matos - Lisboa (06 Out.)
  9. JAPANDROIDS @ Primavera Sound - Barcelona (28 Mai.)
  10. THE NECKS @ Teatro Maria Matos - Lisboa (16 Jun.)
  11. GREG DULLI @ Santiago Alquimista - Lisboa (02 Nov.)
  12. THE WALKMEN @ Coliseu dos Recreios - Lisboa (14 Nov.)
  13. THE CHARLATANS @ Primavera Sound - Barcelona (29 Mai.)
  14. NINA NASTASIA @ Galeria Zé dos Bois - Lisboa (01 Out.)
  15. TITUS ANDRONICUS @ Primavera Sound - Barcelona (27 Mai.)
  16. SUPERCHUNK @ Primavera Sound - Barcelona (27 Mai.)
  17. MALE BONDING @ Primavera Club - Madrid (28 Nov.)
  18. ONEOHTRIX POINT NEVER @ Galeria Zé dos Bois - Lisboa (24 Abr.)
  19. LOU BARLOW @ Primavera Club - Madrid (24 Nov.)
  20. TIMES NEW VIKING @ Galeria Zé dos Bois - Lisboa (21 Abr.)


quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Gangsta rock













No fervilhante período que se seguiu ao turbilhão punk, constituíram, juntamente com os Public Image Ltd. e os Magazine, a Santíssima Trindade das bandas que acabariam (imagine-se!) por definir a orientação dominante na produção musical da última década. Com guitarras cortantes, contaminações funk, ideias marxistas e situacionistas, e um distanciamento arty, proporcionaram com Entertainment! (1979) um dos mais corrosivos e entusiasmantes exemplares do manancial de criatividade no aludido período post-punk. Com o correr do tempo, limaram algumas arestas em favor de uma sonoridade mais em consonância com os ditames da new-wave que povoava as tabelas de vendas. Tiveram um primeiro fim em 1983, mas regressaram em inícios da década de 1990 para um par de discos que convém apagar da memória. Dezasseis anos volvidos desde o último desses discos, e sete após a nova reunião que possibilitou a vinda a Portugal para um dos mais veementes atestados de vitalidade a que tive o prazer de assistir, os Gang of Four aprestam-se para editar aquele que será o seu sétimo álbum de originais. Tem por título Content e chega às lojas a 24 de Janeiro próximo, ou seja, mesmo a tempo da ressaca das eleições presidenciais. Para já, é possível aferir do estado da nação do gang-of-fouriana através de um EP de três temas, entre eles um inédito que não constará do alinhamento de Content, e uma remistura a cargo de um fã. Apropriadamente intitulada Free EP, a coisa é de download gratuito, bastando para tal introduzirem o vosso endereço electrónico na aplicaçãozita mais abaixo. Podem também ficar-se pela audição e a inevitável constatação do vigor da banda que, em Agosto de 2006, pisou o palco de Paredes de Coura, precisamente no mesmo dia que os Bloc Party e os Yeah Yeah Yeahs, nada mais que duas das muitas bandas suas discípulas pelas quais grande parte da turba ansiava com algum desdém pelo quarteto de Leeds.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Em escuta #54













THE FRESH & ONLYS _ Play It Strange [In the Red, 2010]

Californianos de gema, os Fresh & Onlys chegaram ao meu conhecimento através do elogio entusiástico de Spiral Stairs, guitarrista dos renascidos Pavement. Contrariamente ao previsto, as semelhanças estéticas com aquela lendária banda são diminutas. Pelo menos neste quinto álbum, o quarteto de San Francisco propõe uma viagem no tempo até ao summer of love, bebendo com pouca ou nenhuma moderação nas sonoridades psicadélicas de então. No fundo, citam as mesmas fontes que os Echo & The Bunnymen citaram há 30 anos. Só que, onde os britânicos punham grandiosidade cristalina, os F&O põem rugosidade e reverberação mais de acordo com a época da qual parecem ter sido desterrados. Com discrição, mas com canções de fino recorte, proporcionam uma das possíveis bandas sonoras para churrascos de fim de tarde à beira-mar. [7,5]


TWIN SHADOW _ Forget [Terrible / 4AD, 2010]

Dominicano de nascimento, mas há muito desterrado em Brooklyn, George Lewis Jr. é protegido de Chris Taylor (Grizzly Bear). Sob a batuta deste, estreia-se como Twin Shadow com um álbum concebido em regime de "gravação caseira" que remete de imediato para a já fastidiosa recuperação dos eighties. Desta feita, o período revisitado é o de meados daquela década, quando "urbano depressivos" e synth-poppers pareciam convergiam num mesmo sentido. A temperatura roça os zero graus e abunda a melancolia. Na voz, próxima do registo crooner do Morrissey mais recente, há humanidade suficiente para ofuscar a atmosfera imposta pelas texturas sintéticas ostensivas. Aqui e ali surge um laivo funky, um resquício disco, mas nada que perturbe o recolhimento dominante. Quase enternecedor numa primeira abordagem, Forget revela alguma previsibilidade de processos em audições repetidas. [7]


JOHN GRANT _ Queen Of Denmark [Bella Union, 2010]

Outrora vocalista e principal mentor dos criminalmente negligenciados The Czars, John Grant ganhava a vida a vida como empregado de bar, completamente afastado da actividade musical. O regresso às lides ocorreu por obra de sugestão e convite dos amigos e colegas de editora Midlake, colectivo que acabou por servir de banda suporte nesta estreia em nome próprio. Com tais intervenientes, Queen Of Denmark resulta numa apaixonante recuperação das sonoridades soft-rock setentistas, enriquecida pela escrita acutilante e a voz moldável de Grant. O ar grave, quase soturno, é sublimado pelo carácter pessoal e reflexivo destas doze canções. Por outro lado, algum do peso é aliviado por algumas tiradas de uma ironia mordaz. É pois, por entre sorrisos cúmplices que se escutam sérias considerações sobre assuntos como homofobia, intolerância, adicção e depressão. [8,5]


THE PHANTOM BAND _ The Wants [Chemikal Underground, 2010]

Banda merecedora de um pequeno mas sólido culto, a escocesa The Phantom Band propõe ao segundo disco o desenvolvimento natural do excelente Checkmate Savage, do ano passado. Continuamos então a navegar por mares em que o kraut, a folktronica, e o post-rock menos derivativo se combinam para propiciar uma sonoridade muito pessoal. A principal novidade reside no reforço do elemento electrónico, factor de incremento da frivolidade ao longo de todo o disco. Por contraponto, a voz grave e expressiva é o garante de alguma proximade. Após repetidas audições, The Wants mantém intacta uma fascinante aura de mistério que, contínua e gradualmente, vai desvelando pequenos pormenores ocultados pela complexidade formal do todo. [8]

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

X-mas in gold

No momento de uma curta pausa por ocasião das festividades da época, a gerência gostaria de desejar a toda a clientela o mais feliz de todos os natais. E, já agora, que o Pai Natal vos seja pouco travesso.

Pavement _ "Gold Soundz" [Matador, 1994]

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Bring the noise

















Com o bilhete de identidade a indicar já os 65 anos de idade, Neil Young teima em dar razão àquela velha máxima acerca do Vinho do Porto. Se mais argumentos fossem necessários, o mais recente Le Noise já anda por aí há três meses a afirmar-se como um dos (muitos) pontos altos de uma carreira que percorre as últimas cinco décadas. O título é um jogo de palavras com o nome do também canadiano Daniel Lanois, produtor responsável pelas atmosferas rugosas e carregadas de feedback conferem um certo pendor garageiro. De resto, este é um verdadeiro disco a solo, com Young a fazer-se acompanhar unicamente, e à excepção de um par dos oito temas, da guitarra eléctrica em modo desenfreado. Nos dois temas restantes, substitui a Les Paul pela guitarra acústica, reforçando o intimismo que percorre o todo e que se sublima por via da escassez de artifícios. À semelhança de todo o seu trabalho mais recente, Le Noise consiste num conjunto de considerações muito pessoais, e com a sensatez própria da idade, sobre a vida e a morte, a guerra, e a paranóia colectiva no mundo moderno. Caso ainda não o tenham ouvido, recomendo vivamente que o façam de imediato e de uma penada, de preferência acompanhado de um belíssimo filme concebido para o efeito por Adam Vollick.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O gosto dos outros, Pt.2

Segunda e última ronda pelas escolhas alheias no que respeita ao melhor de 2010. As tão aguardadas listas pessoais chegam depois de abertas as prendinhas...








01. JOHN GRANT _ Queen Of Denmark
02. ARCADE FIRE _ The Suburbs
03. MGMT _ Congratulations
04. EDWYN COLLINS _ Losing Sleep
05. THE BLACK KEYS _ Brothers
06. PAUL WELLER _ Wake Up The Nation
07. MIDLAKE _ The Courage Of Others
08. PHOSPHORESCENT _ Here's To Taking It Easy
09. THE CORAL _ Butterfly House
10. DOUG PAISLEY _ Constant Companion








01. ACTRESS _ Splazsh
02. ONEOHTRIX POINT NEVER _ Returnal
03. SWANS _ My Father Will Guide Me Up A Rope To The Sky
04. JOANNA NEWSOM _ Have One On Me
05. CATHERINE CHRISTER HENNIX _ The Electric Harpsichord
06. RANGERS _ Suburban Tours
07. ARIEL PINK'S HAUNTED GRAFITTI _ Before Today
08. JOHN TILBURY & SEBASTIAN LEXER _ Lost Daylight
09. KEITH FULLERTON WHITMAN _ Disingenuity / Disingenuousness
10. KEVIN DRUMM _ Necro Acoustic










01. KANYE WEST _ My Beautiful Dark Twisted Fantasy
02. LCD SOUDSYSTEM _ This Is Happening
03. DEERHUNTER _ Halcyon Digest
04. BIG BOI _ Sir Lucious Left Foot: The Son Of Chico Dusty
05. BEACH HOUSE _ Teen Dream
06. VAMPIRE WEEKEND _ Contra
07. JOANNA NEWSOM _ Have One On Me
08. JAMES BLAKE _ The Bells Sketch EP / CMYK EP / Klavierwerke EP
09. ARIEL PINK'S HAUNTED GRAFITTI _ Before Today
10. TITUS ANDRONICUS _ The Monitor






01. BEACH HOUSE _ Teen Dream
02. JANELLE MONÁE _ The ArchAndroid
03. ARCADE FIRE _ The Suburbs
04. LIARS _ Sisterworld
05. PERFUME GENIUS _ Learning
06. KANYE WEST _ My Beautiful Dark Twisted Fantasy
07. LINDSTROM & CHRISTABELLE _ Real Life Is No Cool
08. DEERHUNTER _ Halcyon Digest
09. JOANNA NEWSOM _ Have One On Me
10. ARIEL PINK'S HAUNTED GRAFITTI _ Before Today

R.I.P.


CAPTAIN BEEFHEART
1941-2010
[Foto: Anton Corbijn]

O seu nome oficial era Don Van Vliet, descendente de emigrantes holandeses nos Estados Unidos, mas foi como Captain Beefheart que deixou marca indelével na facção mais arrojada da música popular. Sob este alter-ego, à frente da volátil The Magic Band e entre 1965 e 1982, deixou gravada uma obra que compreende onze álbuns de originais, todos eles uma mescla incatalogável na qual os blues, o psicadelismo, e o free-jazz eram apenas alguns dos elementos mais proeminentes. Com Frank Zappa, outro génio libertário, partilhou experiências e protagonismo nas franjas mais aventureiras do rock de finais de sessentas. Foi fonte inesgotável de inspiração durante o período pós-punk: John Lydon presta-lhe reverência; para além da influência musical, Mark E. Smith copiou-lhe o estilo quase ditatorial à frente dos The Fall. Artista multidisciplinar, desenvolveu desde a infância um talento fora do vulgar nas áreas da pintura e da escultura, actividades que exerceu paralelamente à música. Há quase vinte anos, vivia afastado dos olhares do público, confinado a uma cadeira de rodas, possivelmente por via dos sintomas da esclerose múltipla. A causa oficial da sua morte, na passada sexta-feira, está relacionada com aquela doença.

"Some Yo Yo Stuff" [Realização: Anton Corbijn (BBC, 1994)]

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Mil imagens #12


The Jam - Islington, Londres, 1981
[Foto: Neil "Twink Tinning]

Esta e muitas outras fotos fazem parte da exposição The Jam: Unseen, um conjunto de instantâneos captados por Twink, um jovem que, aos 21 anos e convite do baixista Bruce Foxton, se tornou o fotógrafo oficial dos últimos dias da fulgurante carreira da banda londrina. Momento pós-concerto - no Michael Sobell Centre -, parece premonitório do fim eminente em pleno pico de popularidade. Basta atentar no ar alheado de Paul Weller e relacionar com a decisão abrupta a escassos meses de distância

O gosto dos outros, Pt.1

Enquanto não são reveladas as escolhas pessoais relativamente ao melhor de 2010, vamos espiolhando listas alheias. Para hoje, o primeiro lote, abrangendo o top 10 de algumas publicações/lojas, quer em papel, quer em formato digital. Qualquer remota semelhança com a lista em atrasado estado de elaboração será mera coincidência...






01. BEACH HOUSE _ Teen Dream
02. ARCADE FIRE _ The Suburbs
03. THE NATIONAL _ High Violet
04. BROKEN BELLS _ Broken Bells
05. SUPERCHUNK _ Majesty Shredding
06. JENNY & JOHNNY _ I'm Having Fun Now
07. ARIEL PINK'S HAUNTED GRAFITTI _ Before Today
08. TEENAGE FANCLUB _ Shadows
09. THE BLACK KEYS _ Brothers
10. THE NEW PORNOGRAPHERS _ Together






01. JOANNA NEWSOM _ Have One On Me
02. NEIL YOUNG _ Le Noise
03. PAUL WELLER _ Shut Up The Nation
04. ARCADE FIRE _ The Suburbs
05. ROBERT PLANT _ Band Of Joy
06. ARIEL PINK'S HAUNTED GRAFITTI _ Before Today
07. JOHN GRANT _ Queen Of Denmark
08. ALI FARKA TOURÉ & TOUMANI DIABATE _ Ali & Toumani
09. LCD SOUNDSYSTEM _ This Is Happening
10. GRINDERMAN _ Grinderman II









01. THESE NEW PURITANS _ Hidden
02. ARCADE FIRE _ The Suburbs
03. BEACH HOUSE _ Teen Dream
04. LCD SOUNDSYSTEM _ This Is Happening
05. LAURA MARLING _ I Speak Because I Can
06. FOALS _ Total Life Forever
07. ZOLA JESUS _ Stridulum II
08. SALEM _ King Night
09. LIARS _ Sisterworld
10. THE DRUMS _ The Drums










01. LCD SOUNDSYSTEM _ This Is Happening
02. THE GASLIGHT ANTHEM _ American Slang
03. JANELLE MONÁE _ The ArchAndroid
04. THE NATIONAL _ High Violet
05. SPOON _ Transference
06. BEACH HOUSE _ Teen Dream
07. LOCAL NATIVES _ Gorilla Manor
08. SLEIGH BELLS _ Treats
09. DRAKE _ Thank Me Later
10. VAMPIRE WEEKEND _ Contra














01. CARIBOU _ Swim
02. GIL SCOTT-HERON _ I'm New Here
03. THESE NEW PURITANS _ Hidden
04. CAITLIN ROSE _ Own Side Now
05. PHOSPHORESCENT _ Here's To Taking It Easy
06. DARKSTAR _ North
07. CHARLOTTE GAINSBOURG _ IRM
08. GOLD PANDA _ Lucky Shiner
09. WILD NOTHING _ Gemini
10. TAME IMPALA _ Innespeaker

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

First Exposure #24
















SPECTRALS

Formação: Louis "L" Jones
Origem: Heckmondwike, West Yorkshire [UK]
Género(s): Indie-Pop, Twee-Pop, Pop Barroca, Surf-Pop
Influências / Referências: The Zombies, The Righteous Brothers, The Beach Boys, Real Estate, Girls, The Last Shadow Puppets

http://www.myspace.com/spectralspectral


"Peppermint" [Moshi Moshi, 2010]

Norman & Bloke











A espera foi longa, mas 2010 parece ser ano de hiperactividade para os Teenage Fanclub. Sobre o soberbo Shadowsaqui tecemos algumas considerações. O que hoje traz a trupe de Glasgow à baila são as actividades paralelas de Norman Blake que, como alguns já saberão, partilha com o galês Euros Childs, antigo líder dos extintos Gorky's Zygotic Mynci, o projecto Jonny. É sob esta singela designação que prevêem, já no próximo mês de Janeiro, lançar um álbum homónimo. Antecipadamente, disponibilizaram para download gratuito um EP que levanta a ponta do véu relativamente àquilo que podemos esperar do duo. Apropriadamente intitulada Free EP, a coisa compõe-se de quatro temas curtos, essencialmente acústicos, e de uma pop solarenga de travo clássico. A título de exemplo, deixo-vos um tema no qual uma certa exilada cubana tem tratamento semelhante ao da insuportável Jessica Simpson num conhecido tema de Adam Green. Tão sentido que parece sério...


"Gloria" [Turnstile, 2010]

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Singles Bar #56







SONIC YOUTH
Kool Thing
[DGC, 1990]





No álbum Sister (1987), e sobretudo no colossal Daydream Nation (1988), já os Sonic Youth tinham ensaiado uma peculiar aproximação à pop, em detrimento da veia experimentalista que marcava os anteriores registos. Em qualquer dos casos, a "instituição" nova-iorquina limitou-se a seguir os seus instintos, sem abdicar de princípios, mas alcançando uma sonoridade mais acessível ao consumidor de música "médio". Com o crescendo da penetração mediática, veio o inevitável casamento com uma multinacional, assinalado com a edição de Goo, à data o mais bem sucedido dos álbuns do "quarteto sónico". Parte desse sucesso terá ficado a dever-se à escolha do single que o anunciou, com um refrão orelhudo e um vídeo apelativo ao airplay televisivo. "Vendidos", brandiam os puristas, mas o que é certo é que "Kool Thing" não faz qualquer concessão ao facilitismo. Na guitarra em loop e distorcida estão ainda impressas as marcas genéticas dos Sonic Youth. O maior apelo pop deriva, eventualmente, da secção rítmica inapelavelmente groovy. Com voz de gata assanhada, Kim Gordon, sempre o elemento mais politicamente empenhado dos quatro, debita uma letra que, na sua subtileza e sedução, encerra um duro ataque a uma sociedade ainda regida por princípios sexistas. A ideia partiu de uma entrevista com LL Cool J, conduzida pela própria. Na engenhosa e sarcástica letra de "Kool Thing", são inúmeras as referências explícitas a temas do rapper, a mais notória o "I don´t think so" do refrão. Na mesma altura e no mesmo estúdio que os Sonic Youth gravavam Goo, estavam também os Public Enemy a registar Fear Of A Black Planet. Este feliz acaso permitiu materializar a ligação de "Kool Thing" ao hip-hop, com a participação vocal de Chuck D, também ele um "duro", embora sobejamente mais consciente do que Cool J. À mercê de Kim Gordon, é vê-lo amolecer perante o provocativo "fear of a female planet".

domingo, 12 de dezembro de 2010

Rubber souls

















Foto: Andy Willisher

No deserto de ideias que é a música pop actual ainda há bandas capazes de nos entusiasmar e ansiar por um lançamento discográfico em formato longo. É o caso do Yuck, colectivo que assentou arraiais em Londres, mas com elementos de diferentes proveniências. São quatro. Por vezes cinco, quando a irmã do vocalista Daniel Blumberg se lhes junta nos coros. Como poderão aferir pelas amostras disponíveis no seu Myspace, fazem da variedade estética o modus operandi. Fervorosos dos Dinosaur Jr., recuam, por vezes, àqueles tempos em que os Teenage Fanclub ou os Swervediver soavam mais americanos que muitas bandas ianques. Noutras, têm a leveza pop juvenil que, a espaços, encontramos em discos dos Pixies ou dos Sonic Youth. Shoegaze ou grunge são termos que integram no léxico, mas em sentido muito lato. São ruidosos e espectrais, mas também melancólicos  e melodiosos. Ou seja, a típica banda que, há 20 anos, Alan McGee dava tudo para ter no catálogo da Creation. Vejam-nos/oiçam-nos na sua faceta mais trippy e esqueçam que tanto vocalista como guitarrista fizeram um dia parte dessa nota de rodapé chamada Cajun Dance Party. Surpreendente, não?

"Rubber" [Mercury, 2010]

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Duetos #28













Primeiro encontro de dois figurantes do cenário mais sombrio do post-punk. O propósito é esventrar um dos maiores clássicos de sempre da música popular. Ele é visceral na interpretação das partes de um sóbrio e galanteador Lee Hazlewood. Ela, entre o provocador e o infantil, sugere idêntica lascívia à de Nancy Sinatra. Abundam os pianos martelados e as guitarras afiadas como lâminas.


Lydia Lunch & Rowland S. Howard _ "Some Velvet Morning" [4AD, 1982]

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Good cover versions #46

















FRANKIE ROSE & THE OUTS _ "You Can Make Me Feel Bad" [Slumberland, 2010]
[Original: Arthur Russell (2004)]

Arthur Russell foi uma das mais fascinantes e multi-facetadas personagens associadas à cena pós-punk nova-iorquina. Embora fosse um violoncelista com formação clássica, ganhou proeminência em abastardamentos de géneros da música popular como o disco, o dub, ou o funk. Não obstante, morreu em 1992, devido a complicações relacionadas com a SIDA, no quase completo anonimato. Felizmente, na última década, a sua obra e importância têm sido reavaliadas. Como resultado deste súbito interesse pelo trabalho de Arthur Russel, têm chegado ao mercado várias compilações que reúnem alguns dos incontáveis temas que deixou inéditos. Era o caso de "You Can Make Me Feel Bad", um pequeno trecho em registo de baixa-fidelidade à base de guitarra e, evidentendemente, longe da tendência mais dançante do seu autor.
Também elas nova-iorquinas, Frankie Rose e as suas meninas propõem-nos aquilo que seria uma hipotética versão final de "You Can Make Me Feel Bad" (mas muito hipotética, pois, como alguém disse um dia, nada no trabalho de Russell tinha uma versão definitiva). Sem alterações de monta, dão-lhe um cunho pessoal por via das guitarras distorcidas e contundentes e das harmonias vocais. Embora a letra consista em pouco mais do que a repetição do título, transmite, tal como grande parte da obra do intérprete original, uma melancolia do tamanho do mundo.

I read the news today, oh boy


09-10-1940 - 08-12-1980

As soon as you're born they make you feel small
By giving you no time instead of it all
Till the pain is so big you feel nothing at all

A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

They hurt you at home and they hit you at school
They hate you if you're clever and they despise a fool
Till you're so fucking crazy you can't follow their rules

A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

When they've tortured and scared you for twenty odd years
Then they expect you to pick a career
When you can't really function you're so full of fear

A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

Keep you doped with religion and sex and TV
And you think you're so clever and class less and free
But you're still fucking peasants as far as I can see

A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

There's room at the top they are telling you still
But first you must learn how to smile as you kill
If you want to be like the folks on the hill

A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

If you want to be a hero well just follow me
If you want to be a hero well just follow me

John Lennon _ "Working Class Hero" [Apple, 1970]

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Discos pe(r)didos #46







THE JAM
Sound Affects
[Polydor, 1980]





Já é antiga a discussão sobre qual a banda mais relevante saída do movimento punk. Sex Pistols ou The Clash? No curto período de vida, os primeiros foram, inequivocamente, os responsáveis pelo rastilho que mudou a face da música pop/rock de forma irreversível; os últimos prolongaram a carreira e conquistaram a América, ainda que, para tal, na fase terminal, se tenham tornado uma caricatura de si mesmos. Pela parte que me toca, opto pela terceira via, uma banda que muitos acusam de "extremamente britânica" mas que me parece aquela que melhor soube moldar uma personalidade coerente ao longo da carreira, do mod revival dos primórdios à pop ambiciosa da fase mais avançada, deixando um dos mais valorosos legados musicais jamais produzidos no Reino Unido. O seu nome: The Jam, os tais que era "pouco punks" pelo simples facto de serem agenciados pelo pai do vocalista.

A liderar este trio londrino, Paul Weller foi um talento precoce, à semelhança de Alex Turner em tempos recentes. Numa fase inicial, quer um quer outro foram mestres na arte de transpor para a forma de canção pequenas vinhetas do quotidiano. Quem nunca ouviu "Down In The Tube Station At Midnight", da autoria do primeiro, merece ser severamente punido. A grande diferença reside em que Weller soube, melhor que Turner, resistir à pressão da fama e "amadurecer" rapidamente para uma escrita mais genérica e abrangente, mas igualmente contundente. O ponto de viragem relativamente à irreverência quase adolescente deu-se precisamente com Sound Affects, já o quinto álbum dos The Jam em escassos quatro anos de existência. Por alturas da sua concepção, confessou Weller, a dieta musical da banda compunha-se de contemporâneos como Wire e Joy Division. Contudo, se tais escutas tiveram alguma influência em Sound Affects esta terá sido mais ao nível do clima tenso que o percorre do que propriamente em termos de sonoridade. Pelo contrário, este disco é antes um olhar para o passado, para os tempos áureos da pop, com especial enfoque nos dois grandes símbolos da englishness predilectos de Weller: The Kinks e The Beatles.

Na abertura, com "Pretty Green", aquilo que poderia ser uma evocação da Village Green imaginada por Ray Davies, mais não é do que Weller em modo ultra-cínico. O ritmo é o de uma marcha militar, como que a impor uma certa ordem.  Pela referência à homogeneização do gosto musical por via da massificação dos hits, estabelece-se o paralelismo com rebanho da sociedade (britânica). Trinta anos volvidos, nada mais actual e global... Já "Monday" não engana: traz impressa a veia sonhadora, por vezes amargurada, com que Davies descreveu uma Inglaterra em vias de extinção. Típico tema de amor juvenil, é o mais conseguido exemplar que conheço dessa espécie rara de canções que louvam as segundas-feiras. "Set The House Ablaze" é caracterizado por uma fúria, tanto na voz como na agrura das guitarras, que a leveza dos assobios e dos la-la-las não consegue disfarçar. Reflexão crua sobre a superficialidade das relações inter-pessoais, "Start!" é a evidência flagrante da reverência pelos fab four ao decalcar a linha de baixo de "Taxman". Depois vem "That's Entertainment", digna de figurar nesse grupo restrito das canções intemporais. Para tal bastam uma guitarra electro-acústica, o ritmo marcante de um baixo, a discrição da bateria acariciada pelas vassouras, e voz de Weller, em registo panfletário, a discorrer sobre o marasmo do dia-a-dia da classe operária. Uma vez mais, trinta anos não retiram qualquer actualidade. "Man In The Corner" traz mais la-la-las e desencanto kinksiano. Como o título indica, "Music For The Last Couple" é clima de fim de festa, realçado pela introdução de zumbidos de moscas ao início, antes do ritmo reggae abastardado do corpo da canção. Este tema será, porventura, o embrião da veia experimentalista que Weller tem explorado nos trabalhos em nome próprio mais recentes. O cherinho reggae regressa em "Scrape Away", o tema que encerra Sound Affects com um monólogo em fade-out em língua francesa. Um toque de classe ao cair do pano. E os Style Council quase ao virar da esquina...


"Pretty Green"


"Monday"


"Start!"


"That's Entertainment"

domingo, 5 de dezembro de 2010

Polly Fraser


















Polly Jean Harvey já nos habituou a mudanças de rumo a cada novo disco. É assim há pelo menos 15 anos, aquando da edição de To Bring You My Love, o primeiro álbum a solo (recorde-se que até então PJ Harvey era a designação do power-trio que encabeçava) e provavelmente o último trabalho com significativa relevância. Nos primeiros meses do próximo ano chega às lojas Let England Shake, o oitavo álbum de originais e mais um com a participação e/ou produção dos suspeitos do costume: John Parish, Mick Harvey e Flood. Por esta altura já nenhum dos inúmeros seguidores da senhora já entrada nos quarentas esperará uma reincidência na quietude pianística do anterior White Chalk (2007). A confirmar tais suspeitas, o primeiro tema divulgado do novo disco mergulha a fundo na placidez idílica dos Cocteau Twins. Inclusive a voz de Harvey surge transfigurada, apresentado os trinados característicos da própria Liz Fraser. A surpresa maior surge no refrão, com a entrada de um sample de "Blood & Fire", um clássico reggae de 1971 da autoria do jamaicano Niney The Observer. Ainda incapaz de formular qualquer juízo acerca da nova persona de Polly Jean, vejo-me obrigado a confessar a estranheza resultante das primeiras audições deste tema:


"Written On The Forehead" [Island, 2011]

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Ao vivo #59
















Foto: Juan Perez-Fajardo

San Miguel Primavera Club 2010 - Madrid, 24-28/11/2010

Pelo segundo ano consecutivo decidi-me a rumar ao frio da capital espanhola para assistir in loco a mais uma edição do Primavera Club, espécie de montra promocional ao festival que em finais de Maio costuma ter lugar em Barcelona. Relativamente ao ano transacto, constato um considerável aumento de público, ao qual não será alheia a crescente difusão da marca "Primavera". Contudo, sou mais levado a pensar que a principal razão para tal se prenda com o empenho da organização em oferecer um cartaz mais apelativo, tanto em quantidade quanto em qualidade. Pela parte que me toca, vislumbro na suculenta oferta pelo menos três das chamadas lendas indie. Duas delas eram mesmo sonhos adiados, a outra era um reencontro desejado. Refira-se que, em qualquer dos casos, as expectativas foram largamente. Ainda a favor da organização tenho a acrescentar o cuidado posto no ordenamento dos concertos, evitando indesejáveis sobreposições para a várias "tribos" presentes. No caso pessoal, aquilo que ficou por ver (Twin Sister, Wild Nothing, John Grant) deveu-se simplesmente a uma súbita mudança no plano inicialmente traçado. Em seguida, e em estilo telegráfico, a resenha possível. Para o final, guardo o top 10 dos melhores concertos.

» Ganglians  Pop solarenga corrompida por alguma rugosidade. As melodias surf espreitam a cada trecho. Alguma verdura atira a coisa para um nível inferior ao dos interessantes resultados em disco. 
» Lou Barlow  Solitário e em regime acústico, como já é habitual sempre que se apresenta em nome próprio. É neste formato que estas canções de remorso e dor-de-corno (sacadas às várias experiências de carreira) ganham outra dimensão, com maior ênfase nas palavras. Esgotado o set programado, por entre tiradas de alguma mordacidade, abre a secção discos-pedidos, outro dos seus hábitos.
» Wavves  Quem os viu em postura anárquica (acriançada, dirão alguns) não os reconheceria. Sem deixar de lado alguma subversão, destilam o surf-punk do último disco a um ritmo alucinante. 
» Eat Skull  Das cinzas dos Hospitals nasce um colectivo apostado na absurdite lo-fi que lembra os Pavement. Aqui e ali espreitam um ou outro devaneio sónico. A embriaguez é notória. Com arremesso de cadeira e queda aparatosa incluídas. Título de "freakalhice" do festival. 
» Zola Jesus  O vampirismo oitentista que nos massacra com o insuportável toque de telemóvel do D'Artacão é o mesmo que traz de volta a fantochada dark-wave. Já estão fartos da Fever Ray? Então, nos próximos seis meses, saciem-se com a Nika Roza Danilova, uma miúda que ainda confunde o espelho do quarto lá de casa com o palco. Consta que não gosta das comparações com Siouxsie. Consta... 
» Josephine Foster & The Victor Herrero Band  Ainda que por breves instantes, sabe bem descobrir uma faceta desconhecida da música tradicional de Espanha. Melhor ainda, sabe a voz de fada da mutante Josephine. 
» Holy Fuck  NEU! e resquícios de drum'n'bass em embalagem acetinada. Um ou outro apontamento da música de dança dos primórdios, já completamente assimilado. Resulta a algo aparentado de Fuck Buttons (frente-a-frente incluído), mas suprido de qualquer risco. A previsibilidade cativa as massas. 
» Frankie Rose & The Outs  Ligeiramente nervosas no primeiro concerto, transpiram confiança (e provocação) no segundo. É neste que melhor discorre o encontro da pop de sonho com a ruideira adocicada, tudo coadjuvado pelos assomos de surf-music
» Tweak Bird  São dois, são irmãos, são jovens, mas devem ter uma colecção recheada de discos antigos. O fantasma de Hendrix paira no ar. Revisitam-se os Blue Cheer. Stoner-rock vitaminado a arrecadar o título "transpiração". 
» Mount Kimbie  Batidas gélidas. Texturas austeras. Dupla britânica a operar na fronteira avançada do dubstep, ou The xx mudos e em câmara lenta. Ganham em hipnotismo o que perdem em imediatismo. 
» Edwyn Collins  É penoso verificar as sequelas do infortúnio. Mas é gratificante saber que os grandes resistem e contornam a morte. O resto é POP com maiúsculas, da carreira a solo e dos lendários Orange Juice. A banda é formada por velhas raposas que sabem honrar o protagonista deste festim de bom-gosto. Por breves instantes, o jovem Edwyn, o da "franja à Roger McGuinn", toma a palco na pessoa do filho. Para arquivar nas "memórias de uma vida". 
» Teenage Fanclub  O último álbum dá o mote mas não impede que pelo palco desfilem duas mãos cheias de clássicos de uma das mais relevantes bandas da última vintena de anos. Para a perfeição só faltou esse pedaço de inanidade chamado "What You Do To Me". Ao longo de cerca de hora e meia, os refrões entoam-se em uníssono. Durante a contenda, reina uma espécie de espírito de comunhão entre banda e extensa turba. O ar de satisfação que assinala aqueles momentos únicos é patente no rosto de todos. 
» Triángulo de Amor Bizarro  Electro-rock galego (obviamente) filiado na escola New Order? É altura de relaxar no hall do Círculo de Bellas Artes. Ao fundo, adivinham-se hipsters em delírio. 
» Jaill  Desilusão do festival a cargo de uma banda incapaz de transpor para palco a frescura saltitante que exibe em disco. Os temas soam indistintos e instala-se algum enfado. Só perto do final, no efusivo "The Stroller", a banda parece reagir e provocar algum frenesim. 
» Male Bonding  A fechar o pódio britânico em festival predominantemente ianque, um trio amigo do pop-punk desempoeirado, ruidoso, e inconformista. Os petardos, impregnados de feedback, são disparados a um ritmo que não permite concessões. Concerto curto e directo, sem espaço para conversa de circunstância, mas tremendamente eficaz. 
» Beach Fossils  Premissas semelhantes às dos Ganglians, mas com um pendor de ortodoxia pop mais acentuado. Neste caso, "a verdura" deve ser entendida como "frescura juvenil". Tenham a sorte de figurar no alinhamento de "compilação da moda" e ainda poderão ser motivo de micro-fenómeno do género The Drums. 
» Screaming Females  Palmo-e-meio de mulher, rosto de menina, um vozeirão de outro mundo, e riffs que qualquer guitar-hero macho não desdenharia. É assim a vocalista deste trio de New Jersey, fruto de uma possível experiência com os genes de Hendrix, de PJ Harvey em modo rocker, e de Jon Spencer. Perante tal personagem, os dois matulões que a acompanham cumprem papel de meros figurantes.

TOP TEN

  1. TEENAGE FANCLUB
  2. EDWYN COLLINS
  3. MALE BONDING
  4. LOU BARLOW
  5. FRANKIE ROSE & THE OUTS [@ Nasti, 27/11]
  6. BEACH FOSSILS
  7. JOSEPHINE FOSTER & THE VICTOR HERRERO BAND
  8. WAVVES
  9. MOUNT KIMBIE
  10. EAT SKULL