THE FRESH & ONLYS _ Play It Strange [In the Red, 2010]
Californianos de gema, os Fresh & Onlys chegaram ao meu conhecimento através do elogio entusiástico de Spiral Stairs, guitarrista dos renascidos Pavement. Contrariamente ao previsto, as semelhanças estéticas com aquela lendária banda são diminutas. Pelo menos neste quinto álbum, o quarteto de San Francisco propõe uma viagem no tempo até ao summer of love, bebendo com pouca ou nenhuma moderação nas sonoridades psicadélicas de então. No fundo, citam as mesmas fontes que os Echo & The Bunnymen citaram há 30 anos. Só que, onde os britânicos punham grandiosidade cristalina, os F&O põem rugosidade e reverberação mais de acordo com a época da qual parecem ter sido desterrados. Com discrição, mas com canções de fino recorte, proporcionam uma das possíveis bandas sonoras para churrascos de fim de tarde à beira-mar. [7,5]
TWIN SHADOW _ Forget [Terrible / 4AD, 2010]
Dominicano de nascimento, mas há muito desterrado em Brooklyn, George Lewis Jr. é protegido de Chris Taylor (Grizzly Bear). Sob a batuta deste, estreia-se como Twin Shadow com um álbum concebido em regime de "gravação caseira" que remete de imediato para a já fastidiosa recuperação dos eighties. Desta feita, o período revisitado é o de meados daquela década, quando "urbano depressivos" e synth-poppers pareciam convergiam num mesmo sentido. A temperatura roça os zero graus e abunda a melancolia. Na voz, próxima do registo crooner do Morrissey mais recente, há humanidade suficiente para ofuscar a atmosfera imposta pelas texturas sintéticas ostensivas. Aqui e ali surge um laivo funky, um resquício disco, mas nada que perturbe o recolhimento dominante. Quase enternecedor numa primeira abordagem, Forget revela alguma previsibilidade de processos em audições repetidas. [7]
JOHN GRANT _ Queen Of Denmark [Bella Union, 2010]
Outrora vocalista e principal mentor dos criminalmente negligenciados The Czars, John Grant ganhava a vida a vida como empregado de bar, completamente afastado da actividade musical. O regresso às lides ocorreu por obra de sugestão e convite dos amigos e colegas de editora Midlake, colectivo que acabou por servir de banda suporte nesta estreia em nome próprio. Com tais intervenientes, Queen Of Denmark resulta numa apaixonante recuperação das sonoridades soft-rock setentistas, enriquecida pela escrita acutilante e a voz moldável de Grant. O ar grave, quase soturno, é sublimado pelo carácter pessoal e reflexivo destas doze canções. Por outro lado, algum do peso é aliviado por algumas tiradas de uma ironia mordaz. É pois, por entre sorrisos cúmplices que se escutam sérias considerações sobre assuntos como homofobia, intolerância, adicção e depressão. [8,5]
THE PHANTOM BAND _ The Wants [Chemikal Underground, 2010]
Banda merecedora de um pequeno mas sólido culto, a escocesa The Phantom Band propõe ao segundo disco o desenvolvimento natural do excelente Checkmate Savage, do ano passado. Continuamos então a navegar por mares em que o kraut, a folktronica, e o post-rock menos derivativo se combinam para propiciar uma sonoridade muito pessoal. A principal novidade reside no reforço do elemento electrónico, factor de incremento da frivolidade ao longo de todo o disco. Por contraponto, a voz grave e expressiva é o garante de alguma proximade. Após repetidas audições, The Wants mantém intacta uma fascinante aura de mistério que, contínua e gradualmente, vai desvelando pequenos pormenores ocultados pela complexidade formal do todo. [8]
2 comentários:
Fresh & Onlys: ainda não ouvi este mas pela descrição soa semelhante ao anterior. Porreirinho :-)
Twin Shadow: não entusiasma mas não chateia muito. Ouve-se...
John Grant: A sonoridade não é muito a minha praia mas safa-se pelas vocalizações.
Phantom Band: Gostei mas tive de ouvir umas quantas vezes. Esta banda é de facto sui generis.
fresh & onlys, mais outro grande disco, twin shadow é aquela coisa que tenta agradar a gregos e troianos - com um olho nos tops e outro na malta indie/80's revival. no final de contas não agrada sobremaneira nem a uns nem a outros. john grant grande surpresa, é para ir digerindo; phantom band é sem duvida complexo e um passo em frente, mas é para consumir com moderação - dessas paragens têm rodado mais os scotish enlightment que soam bem mais simples.
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