"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Ao vivo #59
















Foto: Juan Perez-Fajardo

San Miguel Primavera Club 2010 - Madrid, 24-28/11/2010

Pelo segundo ano consecutivo decidi-me a rumar ao frio da capital espanhola para assistir in loco a mais uma edição do Primavera Club, espécie de montra promocional ao festival que em finais de Maio costuma ter lugar em Barcelona. Relativamente ao ano transacto, constato um considerável aumento de público, ao qual não será alheia a crescente difusão da marca "Primavera". Contudo, sou mais levado a pensar que a principal razão para tal se prenda com o empenho da organização em oferecer um cartaz mais apelativo, tanto em quantidade quanto em qualidade. Pela parte que me toca, vislumbro na suculenta oferta pelo menos três das chamadas lendas indie. Duas delas eram mesmo sonhos adiados, a outra era um reencontro desejado. Refira-se que, em qualquer dos casos, as expectativas foram largamente. Ainda a favor da organização tenho a acrescentar o cuidado posto no ordenamento dos concertos, evitando indesejáveis sobreposições para a várias "tribos" presentes. No caso pessoal, aquilo que ficou por ver (Twin Sister, Wild Nothing, John Grant) deveu-se simplesmente a uma súbita mudança no plano inicialmente traçado. Em seguida, e em estilo telegráfico, a resenha possível. Para o final, guardo o top 10 dos melhores concertos.

» Ganglians  Pop solarenga corrompida por alguma rugosidade. As melodias surf espreitam a cada trecho. Alguma verdura atira a coisa para um nível inferior ao dos interessantes resultados em disco. 
» Lou Barlow  Solitário e em regime acústico, como já é habitual sempre que se apresenta em nome próprio. É neste formato que estas canções de remorso e dor-de-corno (sacadas às várias experiências de carreira) ganham outra dimensão, com maior ênfase nas palavras. Esgotado o set programado, por entre tiradas de alguma mordacidade, abre a secção discos-pedidos, outro dos seus hábitos.
» Wavves  Quem os viu em postura anárquica (acriançada, dirão alguns) não os reconheceria. Sem deixar de lado alguma subversão, destilam o surf-punk do último disco a um ritmo alucinante. 
» Eat Skull  Das cinzas dos Hospitals nasce um colectivo apostado na absurdite lo-fi que lembra os Pavement. Aqui e ali espreitam um ou outro devaneio sónico. A embriaguez é notória. Com arremesso de cadeira e queda aparatosa incluídas. Título de "freakalhice" do festival. 
» Zola Jesus  O vampirismo oitentista que nos massacra com o insuportável toque de telemóvel do D'Artacão é o mesmo que traz de volta a fantochada dark-wave. Já estão fartos da Fever Ray? Então, nos próximos seis meses, saciem-se com a Nika Roza Danilova, uma miúda que ainda confunde o espelho do quarto lá de casa com o palco. Consta que não gosta das comparações com Siouxsie. Consta... 
» Josephine Foster & The Victor Herrero Band  Ainda que por breves instantes, sabe bem descobrir uma faceta desconhecida da música tradicional de Espanha. Melhor ainda, sabe a voz de fada da mutante Josephine. 
» Holy Fuck  NEU! e resquícios de drum'n'bass em embalagem acetinada. Um ou outro apontamento da música de dança dos primórdios, já completamente assimilado. Resulta a algo aparentado de Fuck Buttons (frente-a-frente incluído), mas suprido de qualquer risco. A previsibilidade cativa as massas. 
» Frankie Rose & The Outs  Ligeiramente nervosas no primeiro concerto, transpiram confiança (e provocação) no segundo. É neste que melhor discorre o encontro da pop de sonho com a ruideira adocicada, tudo coadjuvado pelos assomos de surf-music
» Tweak Bird  São dois, são irmãos, são jovens, mas devem ter uma colecção recheada de discos antigos. O fantasma de Hendrix paira no ar. Revisitam-se os Blue Cheer. Stoner-rock vitaminado a arrecadar o título "transpiração". 
» Mount Kimbie  Batidas gélidas. Texturas austeras. Dupla britânica a operar na fronteira avançada do dubstep, ou The xx mudos e em câmara lenta. Ganham em hipnotismo o que perdem em imediatismo. 
» Edwyn Collins  É penoso verificar as sequelas do infortúnio. Mas é gratificante saber que os grandes resistem e contornam a morte. O resto é POP com maiúsculas, da carreira a solo e dos lendários Orange Juice. A banda é formada por velhas raposas que sabem honrar o protagonista deste festim de bom-gosto. Por breves instantes, o jovem Edwyn, o da "franja à Roger McGuinn", toma a palco na pessoa do filho. Para arquivar nas "memórias de uma vida". 
» Teenage Fanclub  O último álbum dá o mote mas não impede que pelo palco desfilem duas mãos cheias de clássicos de uma das mais relevantes bandas da última vintena de anos. Para a perfeição só faltou esse pedaço de inanidade chamado "What You Do To Me". Ao longo de cerca de hora e meia, os refrões entoam-se em uníssono. Durante a contenda, reina uma espécie de espírito de comunhão entre banda e extensa turba. O ar de satisfação que assinala aqueles momentos únicos é patente no rosto de todos. 
» Triángulo de Amor Bizarro  Electro-rock galego (obviamente) filiado na escola New Order? É altura de relaxar no hall do Círculo de Bellas Artes. Ao fundo, adivinham-se hipsters em delírio. 
» Jaill  Desilusão do festival a cargo de uma banda incapaz de transpor para palco a frescura saltitante que exibe em disco. Os temas soam indistintos e instala-se algum enfado. Só perto do final, no efusivo "The Stroller", a banda parece reagir e provocar algum frenesim. 
» Male Bonding  A fechar o pódio britânico em festival predominantemente ianque, um trio amigo do pop-punk desempoeirado, ruidoso, e inconformista. Os petardos, impregnados de feedback, são disparados a um ritmo que não permite concessões. Concerto curto e directo, sem espaço para conversa de circunstância, mas tremendamente eficaz. 
» Beach Fossils  Premissas semelhantes às dos Ganglians, mas com um pendor de ortodoxia pop mais acentuado. Neste caso, "a verdura" deve ser entendida como "frescura juvenil". Tenham a sorte de figurar no alinhamento de "compilação da moda" e ainda poderão ser motivo de micro-fenómeno do género The Drums. 
» Screaming Females  Palmo-e-meio de mulher, rosto de menina, um vozeirão de outro mundo, e riffs que qualquer guitar-hero macho não desdenharia. É assim a vocalista deste trio de New Jersey, fruto de uma possível experiência com os genes de Hendrix, de PJ Harvey em modo rocker, e de Jon Spencer. Perante tal personagem, os dois matulões que a acompanham cumprem papel de meros figurantes.

TOP TEN

  1. TEENAGE FANCLUB
  2. EDWYN COLLINS
  3. MALE BONDING
  4. LOU BARLOW
  5. FRANKIE ROSE & THE OUTS [@ Nasti, 27/11]
  6. BEACH FOSSILS
  7. JOSEPHINE FOSTER & THE VICTOR HERRERO BAND
  8. WAVVES
  9. MOUNT KIMBIE
  10. EAT SKULL

2 comentários:

Miss C. disse...

Pois, eu deveria era ir ao Primavera Club e não à canseira mal-cheirosa do Parc Del Fórum...

Provavelmente nunca chegarei a ver o E. Collins nem os TFC... :-(

Tou cheia de inveja.

M.A. disse...

Quem sabe, os TFC não vão ainda dividir uma casita por cá com os National? Quem sabe...