"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

domingo, 9 de maio de 2010

10 anos é muito tempo #20




CLINIC
Internal Wrangler
[Domino, 2000]

Uma década depois da revelação, e já firmados como um dos nomes mais consistentes do cenário indie britânico deste início de século, os Clinic continuam perseguidos por uma aura de mistério que não se restringe às máscaras de cirurgião que costumam usar como adereço. Esta estranheza sedutora advém, sobretudo, da sonoridade deveras peculiar do quarteto de Liverpool (completamente imune ao "fantasma Beatles" que ainda assombra esta cidade), simultânea e inesperadamente retrógada e vanguardista. A capa de Internal Wrangler, o primeiro álbum a ainda a obra-prima, plagia um clássico de Ornette Coleman. No alinhamento é possível encontrar uma interpretação livre de um curto trecho da autoria de Ludwig van Beethoven. Porém, os Clinic não aspiram à erudição do jazz ou da música clássica. Procuram, tão somente, homenagear o pioneirismo cacofónico dos Velvet Underground filtrado pelo aventureirismo herdado dos estilhaços do punk. À receita, em primeira análise requentada, adicionam elementos de garage, de surf, e também de kraut-rock.  O resultado, contra todas as expectativas, tem mais de intemporalidade do que exercício de saudosismo. Faixas como o tema-título, "The Return Of Evil Bill", "C.Q.", ou "2nd Food Stomp", são pequenos petardos irresistivelmente groovy apesar da sujidade implícita. Mais distintos são "The Second Line" ou "Distortions": o primeiro trata-se de uma lenga-lenga neurótica sustentada numa batida mecânica; este último é uma quase-balada com fortes afinidades com "Candy Says" (dos Velvet, precisamente) assente numa linha de sintetizador analógico e na mesma batida, agora desacelerada. Em ambos, e apesar da ambiguidade tresloucada das letras, a voz nasalada de Ade Blackburn projecta a música dos Clinic para territórios de uma estranha beleza. Num disco em que abunda o aludido misticismo, não podia faltar uma evidência de superstição, manifestada na ideia de fazer da 13.ª faixa um breve trecho de silêncio. Esta pausa antecipa o encerramento com "Goodnight Georgie", uma espécie de canção de embalar de  um lirismo mais formatado que os temas atrás citados.


"The Return Of Evil Bill"


"Distortions"


"The Second Line"

4 comentários:

Shumway disse...

Um disco magnifico.

Abraço

Miss C. disse...

Ouvi esta disco tantas, tantas vezes...

Que boa lembrança!

eduardo disse...

disco de eleição. Já topaste a t-shirt com esta capa?

M.A. disse...

T-shirt?! Aonde??? Eu quero uma!!!