"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Discos pe(r)didos #39




SCRAWL
Velvet Hammer
[Simple Machines, 1993]

Banda formada em Columbus, no Ohio, os Scrawl foram, apesar da forma discreta com que passaram pelo universo da música popular, uma das principais fontes de inspiração às inúmeras bandas ligadas ao movimento riot grrrl de inícios da década de 1990. Contudo, ao contrário da legião de seguidores(as), os Scrawl não enveredavam por um destilar de fúria vociferada, optando antes por uma maior emotividade na expressão do sentir feminino. Inicialmente com ligação à Rough Trade Records, tiveram maior aceitação no Reino Unido do que na terra natal. Com a bancarrota da influente editora dirigida por Geoff Travis, vacilaram e ponderaram pôr um ponto final numa carreira que não passava ainda de promissora. Com a sobrevivência ao infortúnio, a banda saiu fortalecida e ganhou coragem para requerer os serviços de Steve Albini, já com nome feito como "produtor" dos Pixies, dos Slint, ou dos Jesus Lizard. O primeiro fruto desta ligação seria Bloodsucker (1992), um EP que denota claros sinais evolutivos relativamente a uma certa ingenuidade patente nos registos anteriores e serve, sobretudo, para  desenvolver afinidades. Um anos mais tarde, era já notória a sintonia entre banda e "produtor", manifestada no mais suculento fruto desta santa aliança.
Velvet Hammer é um conjunto de canções duras e secas, impregnadas de uma mágoa lancinante. As guitarras rodopiam, ameaçam entrar em colapso apenas para sublinhar a sinceridade das frases amargas de Marcy Mays, regressando à matriz elíptica que nos enreda a cada audição. Na forma contundente como as canções atingem o subconsciente tem de ser dado o devido mérito às opções de gravação de Albini que, despindo cada tema de artifícios desnecessários, deixa fluir a música com uma naturalidade que fortalece os laços de partilha entre a vocalista e o ouvinte. Logo a abrir, em "Your Mother Wants To Know", Mays comove como uma espécie de moderadora, nunca juíza, entre mãe e filha que trocam acusações acerca das responsabilidades do mal-estar do passado e as suas repercussões no presente. "Take A Swing" é um grito contido que aborda infidelidades e até, de forma difusa, o flagelo da violência doméstica. Na sua fragilidade aparente, "Disappear Without A Trace" é, em simultâneo, o mais enternecedor e o mais violento desejo de alienação. "Drunken Fool" é apenas uma, e a mais evidente, referência ao delírio etílico enquanto refúgio. Profundamente triste, mas plenamente consciente, e evitando fundamentalismos sexistas, Velvet Hammer é um compêndio de agruras que corroem as relações a dois. Por vezes, detectam-se algumas afinidades com com a crueza característica dos Throwing Muses dos primórdios, pese embora a objectividade das letras de Marcy Mays contraste notoriamente com os conteúdos mais ambíguos da escrita de Kristin Hersh.



"Your Mother Wants To Know"


"Drunken Fool"


"Disappear Without A Trace"

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