"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Em escuta #47









HOPE SANDOVAL & THE WARM INVENTIONS _ Through The Devil Softly [Netwerk, 2009]

Após o encerramento das actividades dos incensados Mazzy Star, a carreira de Hope Sandoval entrou em estado semi-latente, com aparições esporádicas em trabalhos alheios e raros discos em nome próprio. Este segundo álbum com os Warm Inventions (basicamente Colm O'Ciósig, baterista dos My Bloody Valentine) que aqui se aventura por outros instrumentos e também pela composição) interrompe um jejum de oito anos, mas vem assinalado pelas marcas identitárias que fizeram a fama desta menina-sereia, a um tempo capaz de encantar, a outro de assombrar. A toada é lenta, triste e desencantada. A música, revestida de elementos folksy de cores esbatidas, põe uma atenção especial a cada detalhe. Num primeiro contacto, Through The Devil... arrasta o ouvinte para um estado de letargia, para a posteriori revelar pérolas como o hiper-tenso, quase velvetiano, "For The Rest Of Your Life", ou o grandiloquente e dramático "Trouble". Para o fim, "Satellite" reserva a maior surpresa sob a forma de canção de embalar granulosa de efeito exasperante. [8]


ROWLAND S. HOWARD _ Pop Crimes [Liberation, 2009]

A vida de R. S. Howard, interrompida no passado dia 30 de Dezembro, foi mais um daqueles casos típicos do músico sobejamente talentoso que sabota qualquer hipótese de maior reconhecimento público. A conduta desregrada e os anos de depressão em muito contribuiram para que a carreira de um dos mais inovadores guitarristas da era pós-punk (nos Birthday Party, ao lado de Nick Cave) não tenha rendido mais que dois álbuns em nome próprio. Pop Crimes foi o último e, sabe-se agora, é uma espécie de epitáfio de um homem que pressente que o tempo lhe escasseia. Abre com "(I Now) A Girl Called Johnny", dueto de travo clássico com Jonnine Standish dos britânicos HTRK (leia-se Hate Rock) carregado da ambiguidade que remete para as parcerias de Lee Hazlewood e Nancy Sinatra. A versão hiper groovey de "Life's What You Make It" (Talk Talk), exemplarmente readaptada, é escolha que reforça o carácter resumo-de-uma-vida do disco. De resto, Pop Crimes oferece mais meia dúzia de temas, às vezes semi-baladas, às vezes semi-declamados, mas sempre prenhes de nostalgia, remorso e tensão. A voz seca, vagamente nasalada, confere a crueza própria dos poetas-músicos malditos. [7,5]


MOUNT EERIE _ Wind's Poem [P.W. Elverum & Sun Ltd.]

Mount Eerie é, de há uns anos a esta parte, o alter ego de Phil Elverum, personagem extremamente prolífica que os seguidores das musicalidades lo-fi reverenciam desde os tempos em que respondia pela nomenclatura The Microphones. No período que antecipou o lançamento de Wind's Poem especulou-se que este seria a incursão de Elverum pelos meandros do black metal. Efectivamente, uma boa parte dos temas do alinhamento caracterizam-se pela profusão de drones demolidores e arrastados. Porém, a passagem pelo filtro do retardador, a aparência doméstica da coisa, e a fragilidade da voz ,frustam qualquer prespectiva de aproximação à pretensa imponência do "género maldito". As faixas restantes são lamentos débeis ,carregados de profundo intimismo, com as electrónicas paisagísticas a espreitar aqui e ali. No conjunto, Wind's Poem é um longo mantra catalizador de cenários de devastação. Da terra queimada, Elverum ergue-se com o lirismo e espiritualidade que o título sugerem. [8,5]


TIMES NEW VIKING _ Born Again Revisited [Matador, 2009]

Depois da relativa aclamação de Rip It Off (2008), os Times New Viking poderiam ter optado por uma metamorfose estética por considerarem que a fórmula se havia esgotado. Não o fizeram, e isso significa que Born Again... repete a dose de guitarras rudes e órgãos desalinhados, debaixo dos quais se tentam erguer melodias inapelavelmente pop. Na chinfrineira sente-se o apego às regras ditadas pelos pioneiros do garage, nos esboços de canções o afecto pelas girl-groups de uma era próxima. No todo, estão implícitos os princípios básicos do lo-fi. Daqui se conclui que os TNV não são deste tempo. E também, que este tempo poderá não ser o deles se a breve trecho não adicionarem outros condimentos à receita. [7]

5 comentários:

オテモヤン disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Shumway disse...

mUITO Bom O regresso do projecto da HOPE SANDOVAL
Abraço

Gravilha disse...

Só ouvi o dos TNV; apesar de interessantes, o disoc arrisca-se a ficar cheio de pó.
abraço,

hg disse...

Os meus amigos proibiram-me de voltar a elogiar a Hope Sandoval. Já ando a faze-lo há muitos anos e já andam fartos de me ouvir. Ainda para mais agora que, passados tantos anos sem conseguir ter visto/ouvido a senhora ao vivo, parece que vou vê-la por duas vezes em menos de meio ano.
Quanto aos outros discos apenas ouvi na diagonal os Vikings mas decidi deixar audições mais atentas para depois do concerto deles.
E agora vou procurar os Mount Eerie, confiando na tua apreciação...

strange quark disse...

O disco do Mount Eerie é muito bom, mas sinto que ainda não o digeri como deve ser, pois é daqueles que tem várias camadas de audição para descobrir. Quanto à menina Hope Sandoval, dos dois temas que ouvi, sendo um deles o mencionado Trouble, acho que me convence a aliviar a carteira.