"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

R.I.P.


LIAM MAHER
1968-2009

Soube- o ontem mas já data do passado dia 20 de Outubro o desaparecimento, com apenas 41 anos, de Liam Maher. E quem foi Liam Maher? Muitos de vós decerto se lembrarão dele como frontman dos Flowered Up, uma das inúmeras bandas baggy que surgiram no Reino Unido após a aclamação popular dos Stone Roses e dos Happy Mondays. Na imprensa especializada, eram habitualmente descritos como uma versão cockney destes últimos. Após a curta carreira da banda, que cessou funções em 1994, as notícias sobre Maher resumem-se a boatos ligados ao consumo de drogas e a um eventual contrato assinado com a Poptones, a editora fundada por Alan McGee depois da extinção da Creation, o qual, até à data, não rendeu qualquer registo discográfico.
Com o estatuto de banda efémera e de segunda linha, os Flowered Up foram ainda assim capazes de criar um par de singles extremamente convidativos à dança em inícios da década passada. O primeiro dos quais, este:


"It's On" [Heavenly, 1990]

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Saúde para dar e vender















Da estreia homónima dos HEALTH, editada há coisa de dois anos, retenho muito pouco: noise minimalista e abstracto, semi-electrónico e/ou semi-orgânico, na linha de um sem número de colectivos que proliferam no underground norte-americano. Já com o novíssimo Get Color o caso muda substancialmente de figura, ao ponto de este andar a rodar em modo repeat cá por casa.
Ao segundo longa-duração, e sem arriscar a abrasividade de outrora, o quarteto californiano deixa-se de esboços e investe fortemente no formato canção. Não canções lineares, segundo a ortodoxia pop, mas sim canções que recorrem aos processos desconstrutivistas em voga no Reino Unido post-punk. Não tanto pela estética, mas mais pelo modus operandi, é adequado pensar nos Public Image Ltd. quando se escuta Get Color. No entanto, a consciência é assaltada com maior intensidade pelo colossal Loveless, funcionando os HEALTH como uma espécie de negativo dos My Bloody Valentine. Ou seja, uns são pesadelo onde os outros eram sonho, uns são sombras onde os outros eram. O primeiro vídeo promocinal é igualmente merecedor de uns quantos visonamentos:


"Die Slow" [Lovepump United / City Slang, 2009]

sábado, 24 de outubro de 2009

Strawberry fields forever














Os tempos mudam, as tendências musicais também, mas haverá sempre um lugar na terra onde um vasto contingente de resistentes continuará a ser porta-estandarte da pureza pop livre de artifícios. Esse lugar, como já terão adivinhado os mais perspicazes, é Glasgow na Escócia, cidade de onde nos chegam estes Strawberry Whiplash. Como qualquer colectivo indie em inícios de carreira, estão ainda a limar arestas em discos de pequeno formato. Até ao momento, têm em catálogo dois EPs, o último dos quais é Picture Pefect, acabadinho de editar com selo da Matinée Recordings. Lembram-nos a face mais fuzzy dos Lush dos primórdios, os Primitives pré-"Crash", ou uma lista de bandas ligadas à Sarah Records demasiado extensa para enumerar. Mas, mais do que referir as influências, é justo reconhecer à dupla a capacidade para criar melodias irresistivelmente catchy e intemporais. À semelhança da restante obra da banda, os quatro temas que compõem Picture Perfect podem ser escutados aqui.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

10 anos é muito tempo #17



















...AND YOU WILL KNOW US BY THE TRAIL OF DEAD
Madonna [Merge, 1999]

Por alturas da edição do segundo disco da banda que, como pretendido, ficou conhecida por Trail of Dead, Everett True afirmou que, com o definhamento dos Sonic Youth e a latência dos Fugazi, alguém tinha que destilar a raiva e ser o municiador da explosão sónica com camadas de guitarras em fusão. Depois de se penetrar na densidade textural de Madonna (dispensam-se as interpretações marotas), não há como negar a razão àquele influente divulgador da "cena" independente. Efectivamente, o combo texano consegue, com frescura e vivacide, captar simultaneamente o experimentalismo "acessível" dos primeiros e a alienação militante dos segundos.
Após um breve trecho de abertura, somos confrontados com a vertigem furiosa de "Mistakes And Regrets". Ainda que metade das palavras berradas por Conrad Kelly sejam imperceptíveis, facilmente adivinhamos sentimentos pouco amistosos para com o destinatário. A velocidade mantém-se no vermelho nos dois temas seguintes, exemplarmente movidos pela bateria marcial. No ritmo quase-valsa do belíssimo "Clair De Lune" é concedida uma trégua ao ouvinte. A partir deste ponto, Madonna entra num estado de semi-ebulição no qual se pressente um crescendo de tensão. Nesta secção intermédia destaca-se "Mark David Chapman", clara alusão aos tais Sonic Youth do período que compreende EVOL e Sister. Nesta tema, a partir da referência ao assassino de John Lennon, os Trail of Dead reflectem sobre a influência da música na vida das pessoas. Já perto do final, o reboliço catártico atinge novo pico com "A Perfect Teenhood". No melhor espírito juvenil, este tema culmina na repetição exaustiva a plenos pulmões de um expressivo "fuck you!" ao qual se segue o caos ruidoso.
Três anos volvidos, os Trail of Dead aprimoraram a fórmula com o superlativo Source Tags & Codes. Daí em diante, o declínio tem sido gradual, em relação de proporcionalidade com as referências prog e a espiritualidades ancestrais.


"Mistakes And Regrets"

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

A fond farwell














Ainda sob o signo do post anterior, e por lembrança do "vizinho" Olavo, gostava de assinalar sexto aniversário da morte de Elliott Smith, o maior e mais atormentado cantautor que a América revelou nas últimas duas décadas. Para assinalar tão triste data poderia ter escolhido o tema que dá título a este post, tal como muito apropriadamente fez aquele camarada. Em alternativa, poderia escolher "Miss Misery", tema que diz muito sobre a curta - de 34 anos - existência de Smith e aquele que lhe valeu o momento de maior exposição mediática: a interpretação na cerimónia dos Óscares de 1998. No entanto, opto pelo primeiro tema que lhe conheci, precisamente aquele que abre o álbum Either/Or, o meu preferido de uma obra ímpar.


"Speed Trials" [Kill Rock Stars, 1997]

R.I.P.


JIM CARROLL
[1949-2009]

O dia 11 de Setembro é já uma data histórica pelos acontecimentos que todos conhecem. O deste ano fica também marcado pelo desaparecimento de Jim Carroll, artista multidisciplinar nova-iorquino com obra em áreas como a escrita, o spoken word, e a música. O seu trabalho mais afamado será, seguramente, The Basketball Diaries, livro de memórias que relata parcialmente a vida deste artista singular, desde a afirmação como jovem prodígio do basquetebol, até à luta contra a dependência das drogas que lograria vencer. Muitos conhecerão a adaptação cinematográfica que contou com Leonardo Di Caprio no papel do autor.
Ainda jovem, Carroll afirmou-se junto da comunidade artística "alternativa" norte-americana, privando e/ou recebendo a aprovação de notáveis como Kerouac, Burroughs, Bukowski, Ginsberg, Warhol, Mapplethorpe, Annie Leibovitz, ou Patti Smith. Com o incentivo desta última, que se lhe referia como "o melhor poeta da sua geração", aventurou-se numa carreira musical que renderia cinco álbuns. Do conjunto, recomenda-se vivamente a estreia de título genérico Catholic Boy, composta por dez temas / crónicas-de-rua de um rock descarnado em clara reverência a outros ilustres cidadãos da Big Apple, tais como Lou Reed, Tom Verlaine, ou Richard Hell. Segue um par de evidências:


"People Who Died"
[Atlantic, 1980]


"It's Too Late"
[Atlantic, 1980]

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Straight from the Hart















Nos idos de 1980, Grant Hart ficou conhecido como uma das metades criativa dos Hüsker Dü, tarefa que, tal como as vozes, dividia com Bob Mould. O relacionamento tempestuoso com este, em parte derivado da adicção à heroína, ditaria uma fim abrupto em 1987, deixando a sensação que algo ficara por contar. De então para cá, e enquanto Mould obteve significativo reconhecimento, tanto a solo como com os Sugar, Hart tem mantido uma carreira intermitente e errática. Nos últimos vinte anos, conhecem-se-lhe dois álbuns de originais, outros tantos EPs, e mais um par de registos longa-duração com os Nova Mob. Nos últimos anos, recuperado da dependência, tem servido como voluntário junto de aviadores veteranos. Ainda assim, arranjou tempo para gravar Hot Wax, álbum que acaba de ser lançado com alguma discrição e que interrompe um jejum longo de dez anos. A produção ficou a cargo do ex-Arcade Fire Howard Bilerman e, entre os colaboradores contam-se músicos ligados aos Godspeed You! Black Emperor. Pela singela amostra disponível no MySpace, somos levados a crer que quem sabe nunca esquece...

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Good cover versions #27









BUTTHOLE SURFERS "American Woman" [Touch and Go, 1986]
[Original: The Guess Who (1970)]

Os canadianos The Guess Who são o caso típico da one hit wonder. Praticantes de um southern rock muito em voga em inícios da década de 1970, tiveram o mérito de serem os primeiros artistas canadianos a atingir o lugar cimeiro do top em terras do Tio Sam. Apesar do sucesso massivo, o facto de serem estrangeiros não os livrou de serem acusados de chauvinismo pelo modo como se dirigiam à "mulher americana". No fundo, os rapazes mais não eram do que solidários com essas mulheres que viam partir os seus mancebos para uma guerra sangrenta e sem sentido no extremo oriente.
Nas mãos dos texanos Butthole Surfers (BH), um dos mais subversivos colectivos da história da música popular, é de esperar que "American Woman" sofra uma transformação radical. Exercício de puro experimentalismo desconstrutivista, a versão dos BH é movida por uma percussão demolidora, marca identitária da banda que, à data, contava com dois bateristas. Nas guinadas desconexas da guitarra e na voz vocodorizada e imperceptível de Gibby Haynes subjaz a demência derivada do consumo continuado de substâncias psicotrópicas. Comparativamente, a bem conhecida versão de um tal de Lenny não passa de puro saudosismo com o intuito de recolher dividendos.
Facto histórico: produzida por Kramer, figura proeminente da música independente norte-americana e membro temporário dos BH, "American Woman" foi o primeiro tema registado no Noise New York, estúdio então recém inaugurado por aquele.

sábado, 17 de outubro de 2009

Será que a Nadia aprova?















Foto: Holy Lucas

Já aqui fiz várias referências às interessantes actividades levadas a cabo no underground musical britânico, contrastantes com o marasmo que se vive na produção mais mediática. Hoje, para acrescentar ao rol de bandas anteriormente apresentadas, gostava de vos falar do Comanechi, um duo anglo-nipónico com quartel-general em Londres e que, em certa medida, é solução para as saudades dos Yeah Yeah Yeahs dos primórdios. Com efeito, a dupla usa como armas uma atitude punk desempoeirada e uma série de riffs contunentes que os Black Sabbath não desdenhariam. Refira-se ainda que, a menina Akiko Matsuura, normalmente vista em palco com os mui celebrados The Big Pink, tem uma verborreia capaz de ombrear com uma Karen O mais cachopa. Por enquanto, as edições resumem-se a alguns discos de pequeno formato e escassa tiragem que têm merecido o alto patrocínio das lojas Rough Trade. Lá mais para o fim o do ano prestam-se à prova de fogo com Crime Of Love, álbum com selo da Merok Records, propriedade de um dos elementos dos referidos Big Pink.

http://www.myspace.com/comanechi

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Lights & Music















Aquando da primeira passagem pelo planeta, em inícios da década de 1980, os Mission of Burma (MoB) foram porta-estandartes do espírito reinante no período post-punk em solo norte-americano. Um pouco à semelhança dos Wire e dos Gang of Four do lado de cá do Atlântico, esta banda de Boston imprimiu às premissas rebeldes inerentes ao punk um ambicioso sentido artístico. Cessaram funções, sem glória, em 1983, deixando gravados apenas um EP e um álbum. Contudo, esta escassa obra viria a reverlar-se extremamente influente na facção mais desalinhada do rock made in USA de então para cá. Desde o reaparecimento em 2002, e desde a passada semana, contam já com três discos de longa-duração no currículo. Com a marca do produtor Bob Weston (dos Shellac e agora também o "quarto" MoB) patente na clareza com que cada instrumento é captado, a audição de The Sound The Speed The Light transporta-nos quase fisicamente para o estúdio. Composto por quatro suites de três temas cada - não, os MoB ainda não se renderam ao progressivo -, o disco alterna momentos da típica rispidez directa com outros de maior acalmia. Nesta última vertente, fica evidente um aprumo técnico apreendido em décdas de experiência. Concluindo, diria que The Sound... poderá não exibir a aura de inovação dos primeiros trabalhos dos MoB. No entanto, tem garra suficiente para causar a inveja de muitos neófitos.

http://www.myspace.com/missionofburma

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Singles Bar #36




















TEENAGE FANCLUB
The Concept [Creation, 1991]

"She wears denim wherever she goes
Says she's gonna get some records by the Status Quo
Oh yeah...Oh yeah...

Still she won't be forced against her will
Says she don't do drugs but she does the pill
Oh yeah...Oh yeah...

I didn't want to hurt you oh yeah...
I didn't want to hurt you oh yeah..."

Bandwagonesque, o álbum que firmou os Teenage Fanclub como uma das mais relevantes bandas da década de 1990, abre precisamente com o tema que pode ser visto como o paradigma da sonoridade deste colectivo escocês: um bem sucedido cruzamento do power pop do primeiro disco dos Big Star com as harmonias vocais beatlescas, devidamente condimentado com uma generosa dose de distorção, ao bom estilo nineties. Facto pouco comum em temas extensos, é que, nos seus mais de seis minutos de duração, "The Concept" tem um invulgar apelo pop, tanto na melodia eficazmente catchy, como nas inanidades juvenis da letra. Composta por dois segmentos distintos, um primeiro mais ortodoxo e cantado, um segundo semi-instrumental pontuado por sons onomatopaicos, "The Concept" não desperdiça sequer um dos seus 367 segundos. Na sua segunda parte, estabelece maiores afinidades com os Nirvana que qualquer um dos combos de Seattle normalmente associados ao grunge.
Agora que a "Polícia do Tubo" vo-lo permite, aproveitem para ver e ouvir "The Concept" na sua versão encurtada todas as vezes que vos apetecer.


segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Se 10 anos é muito tempo, 25 anos é uma eternidade


THE REPLACEMENTS
Let It Be

[Twin/Tone, 1984]

O April Skies não poderia deixar passar em claro o quarto de século desde a edição de Let It Be, obra seminal dos Replacements, banda filha da mesma Minneapolis que pariu os Hüsker Dü, seus contemporâneos e "rivais". Tão icónica quanto a imagem que ilustra a capa, a música contida em Let It Be, como poucas, deixou descendências nos mais variados quadrantes, seja a facção hard-rock/hair-metal da segunda metade de oitentas, seja o contigente grunge que lhe sucedeu, seja ainda uma boa parte da legião altern-rock ianque de noventas.
Nascidos em berço hardcore, os Replacements tinham nos genes características que os distinguiam dos seus pares, tais como um certo enraizamento na tradição musical norte-americana, ou a propensão para o consumo pouco moderado de bebidas alcoólicas, o que, normalmente, resultava em concertos caóticos. Terá sido, inclusive, esta negação das regras que terá sabotado os planos dos Mats - como eram carinhosamente tratados pelos seguidores - de uma eventual escalada no ascensor do estrelato. Em todo o caso, neste quarto álbum de originais (e numa boa parte dos que lhe seguiram) vislumbra-se uma banda menos apostada em tocar rápido e furiosamente, mas mais preocupada em criar canções envolventes, emocionais e ambiciosas, que tanto resultam no isolamento de um quarto como nas maiores arenas rock. Sem abdicar em absoluto com a sua genealogia punk, os Mats oferecem em Let It Be um conjunto de canções que flirtam sem quaisquer preconceitos com o hard-rock e o rock tradicional de raízes blues. Em Paul Westerberg revela-se um dos mais dotados escritores de canções que música popular conheceu desde então, autor de hinos intemporais como os que se apresentam:


"I Will Dare"


"Unsatisfied"


"Sixteen Blue"

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Duetos #16

Nos dias que correm, já poucos se lembrarão dos Space, um colectivo de Liverpool que conheceu algum sucesso no período de declínio (ou massificação, como preferirem) da britpop. Serão certamente mais os que se lembram dos galeses Catatonia, se não pelas canções, pelo menos pela voz e o figurão da frontwoman Cerys Matthews. Os caminhos das duas bandas cruzaram-se neste que é um dos temas mais memoráveis das suas carreiras:


Space feat. Cerys Matthews "The Ballad Of Tom Jones" [Gut, 1998]

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Discos pe(r)didos #30




















BEAT HAPPENING
Jamboree [K, 1988]

Quando comparado com a estreia homónima de 1985, um disco pioneiro do lo-fi e do chamado twee pop, o segundo álbum dos Beat Happening (BH) será visto como uma obra registada em alta-fidelidade. Produzido por Steve Fisk e elementos dos Screaming Trees (na altura uma banda a operar num espectro bem diferente daquele em que se tornaram conhecidos), Jamboree assinala o refinamento do conceito musical muito peculiar de Calvin Johnson, uma espécie de Jonathan Richman mais determinado. Operando a partir de Olympia, no noroeste dos Estados Unidos, Calvin era também o mentor da K Records, casa de acolhimento de uma série de projectos musicais de pop geeks apostados em cristalizar os desejos e as ânsias da adolescência. Kurt Cobain, confesso adepto da ingenuidade ao serviço da pop (não só dos BH, mas também de Daniel Johnston, dos Vaselines, dos Pastels, e dos Teenage Fanclub), era devoto ao ponto de tatuar o logotipo da K no braço.
"Bewitched", o tema que abre o disco, é guiado por uma malha circular de guitarra distorcida e desafinada. A batida é repetitiva e a voz errática de Calvin confessa desejos carnais. "In Between", cantado por Heather Lewis, o elemento feminino do trio que compreendia ainda Bret Lunsford, é exemplo acabado do melhor jangle pop. Mais à frente, "Drive Car Girl" segue idênticas premissas. O terceiro tema é "Indian Summer", simplesmente a pérola no repertório dos BH. Relata um piquenique num cemitério, tendo por protagonistas dois jovens amantes que sabem que este é o último encontro. A atmosfera, quase críptica, é criada por uma estranha combinação de referências a comida, sexo, e tragédia. Dean Wareham, que com os Luna gravou uma das muitas versões de que "Indian Summer" foi alvo, refere-se-lhe como 'o "Knocking On Heaven's Door" do indie'. "Hangman", "Crashing Through" e "Midnight A Go-Go" são temas balançados entre o surf rock e o punk pop. O tema-título é esplendor lo-fi, com a voz de Calvin, a discorrer sem pudor sobre as malandrices perpertadas por dois adolescentes fechados dentro de um armário, acompanhada por uma pandeireta tosca. Já "Ask Me", novamente na voz de Heather, é uma canção essencialmente a cappella. A forma falsamente ingénua como ela pergunta "Aren't you gonna ask me what I did today?" é de despertar a líbido de um moribundo. Nos acordes graves de "Cat Walk" recuperam-se memórias do primórdios do rock'n'roll na década de 1950. Para o final, "The This Many Boyfriends Club" é o paradigma da estética BH e verdadeiro teste ao ouvinte devoto. Gravado em registo live, apresenta um Calvin atonal a tecer juras de amor a uma rapariga supostamente pouco popular. Embora completamente desafinada, a voz denota a sinceridade que raramente encontramos em cantores mais dotados. Para além do ruído de fundo resultante das conversas da platéia, o acompanhamento consiste em sons avulsos sacados da seis cordas de uma guitarra - desafinada, obviamente.
Como se depreende do que atrás foi dito, e apesar da abordagem deliberadamente inocente, há toda uma pulsão erótica que emana de Jamboree. Gerard Cosloy, figura incontornável do panorama indie norte-americano que esteve ligado à fundação das editoras Homestead e Matador, vai ao ponto de o classificar nos seguintes termos: "the most sexually charged rock LP since some Bauhaus disc I forgot the name of(...)". E, tudo isto, em apenas 24 minutos... É obra!


"Indian Summer"


"In Between"


"Bewitched"

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Ao vivo #40














Fuck Buttons + Ninjas! @ Galeria Zé dos Bois, 01/10/2009

Antes de mais, gostava de saudar a atitude da direcção da ZdB em reduzir o número de bilhetes postos à venda para cada concerto, o que, em espectáculos esgotados como o da passada quinta-feira, não resolve em definitivo o problema do calor excessivo, mas melhora consideravelmente as condições de tão exígua sala.

Dos bristolianos Fuck Buttons sabe-se que são uma bem urdida mescla de electrónica leftfield, drone, noise, kraut, post-rock, psicadelismo, e o que mais vier à rede. Se o disco do ano passado era um exercício de transe induzido pela densidade textural e pela repetição, o novíssimo Tarot Sport é feito de sons mais líquidos e de um claro investimento nos ritmos vagamente dançáveis - cortesia do produtor Andrew Weatherall, supõe-se. Como se esperava, a parte de leão do concerto coube a este último, com os temas a surgirem transmutados em devaneios "pastilhados" reminiscentes de experiências dos excelsos Underworld. Se esta faceta teve o condão de por uma boa parte da plateia a dançar despreocupadamente, também causou alguma irritação na secção adepta das sonoridades mais extremas que, como é sabido, não prima pela abertura de espírito. Para estes - e também para os outros, porque menos preconceituosos - a compensão surgiu sob a forma dos monolíticos "Bright Tomorrow" e "Sweet Love For Planet Earth", em igual medida sugestões de paisagens idílicas e de cenários de devastação.

Antes da dupla britânica, o aquecimento ficou a cargo de Ninjas!, projecto nacional de Bruno Silva. Na curta prestação registam-se semelhanças estéticas com os protagonistas da noite, embora com inferior poder de envolvência. Nas vozes gravadas que surgem pelo meio das texturas densas, palpita uma indesejável aptência para o gótico.

Vivá República!

THE SMITHS
The Queen Is Dead

[Rough Trade, 1986]




"Take me back to dear old Blighty
Put me on the train for London town
Take me everywhere
Drop me anywhere
At Liverpool, Leeds, or Birmingham
Well, I don't care
I should like to see "

Farewell to this land's cheerless marshes
Hemmed in like a boar between arches
Her Very Lowness with her head in a sling
I'm truly sorry - but it sounds like a wonderful thing

Dear Charles, don't you ever crave
To appear on the front of the Daily Mail
Dressed in your mother's bridal veil?

So, I checked all the registered historical facts
And I was shocked into shame to discover
How I'm the 18th pale descendent
Of some old Queen or other

Has the world changed or have I changed?
Oh, has the world changed or have I changed
As some nine-year old tough peddles drugs
I never even knew what drugs were

So I broke into the Palace
With a sponge and a rusty spanner
She said, "Eh, I know you and you cannot sing"
I said, "That's nothing - you should hear me play piano"

We can go for a walk where it's quiet and dry
And talk about precious things
But when you're tied to your mother's apron
No-one talks about castration

We can go for a walk where it's quiet and dry
And talk about precious things

Like love and law and poverty
These are the things that kill me

We can go for a walk where it's quiet and dry
And talk about precious things

But the rain that flattens my hair, oh
These are the things that kill me

All the lies about make-up and long hair,
They're still there

Past the pub that saps your body
And the church who'll snatch your money
The Queen is dead, boys
And it's so lonely on a limb

Past the pub that wrecks your body
And the church - all they want is your money
The Queen is dead boys
And it's so lonely on a limb

Life is very long when you're lonely
Life is very long when you're lonely
Life is very long when you're lonely
Life is very long when you're lonely


sábado, 3 de outubro de 2009

Know your enemy
















Longe dos holofotes da fama, alheios a pressões mercantis, os Built to Spill seguem serenamente uma viagem que já leva 17 anos. No caminho, desconhece-se algo descritível como sucesso. Porém, o culto firme que faz deste projecto algo pessoal de Doug Martsch um dos nomes mais acarinhados do cenário indie norte-americano tem perpetuado a ligação contratual a uma das mais poderosas multinacionais - a Warner Bros.. Nasceram como trio, já foram um quarteto e, de alguns anos a esta parte, existem como quinteto, algo que tem contribuido para um incremento na complexidade da criação musical. Era assim em You In Reverse (2006) e assim permanece em There Is No Enemy, o sétimo álbum álbum de originais que se aprestam para editar. Esperem, portanto, longas digressões instrumentais ao serviço de canções envolventes e trabalhadas até ao mais infímo pormenor. No entanto, no novo disco, a tensão latente do anterior registo é suprimida em favor de um maior contenção da qual resultam onze temas que, grosseiramente, podemos descrever como baladas disformes e introspectivas. Os solos de guitarra, em número considerável, mais do que uma demonstração do reconhecido virtuosismo de Martsch, são uma extensão dos lamentos ambíguos sobre o mundo que rodeia o letrista/vocalista. Sam Coomes (Quasi) e Paul Leary (Butthole Surfers) são apenas dois dos vários convidados. There Is No Enemy chega às lojas na próxima e especula-se que possa ser o último disco gravado por Martsch com os Built to Spill. A boa notícia é que está em streaming aqui.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Hoje há...


Fuck Buttons "Surf Solar" [ATP, 2009]

É na ZdB, às 23h00. Sujeito aos atrasos da praxe, é claro.