"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Em escuta #36



















THE PAINS OF BEING PURE AT HEART
The Pains Of Being Pure At Heart
[Slumberland, 2009]

Ainda que a visibilidade não seja a bastante para a proclamação de uma "cena", os sinais são já demasiados para que fiquemos indiferentes: nos Estados Unidos há uma geração de novas bandas apostadas em recuperar a memória da era dourada do indie pop. A lista que compreendia os Manhattan Love Suicides, as Vivian Girls, e os Crystal Stilts, sofreu um valioso incremento com a entrada em cena dos nova-iorquinos The Pains of Being Pure at Heart. Através do seu álbum debute homónimo, que sucede a uma promissora série de formatos mais reduzidos, este quarteto propõe uma viagem até ao Reino Unido da segunda metade da década de 1980, casando o twee pop gerado pelo "fenómeno" C86 com algumas manisfestações de distorção pré-shoegaze. Para o ouvinte familiarizado com este tipo de sonoridades, a audição de TPOBPAT pode revelar-se um interessante indie quiz de referências que, embora descaradas, assumem-se mais como uma homenagem do que como mero copismo. Desta vez não há, portanto, como evitar o facilitismo da comparação. Alguns exemplos em seguida:
- a guitarra jangle que emerge à superfície do muro de distorção em "Contender" traz a marca chapada dos saudosos Shop Assistants;
- "Come Saturday" e "Gentle Sons" são movidos pela mesma energia adolescente que fez dos Ride uma das mais promissoras bandas britânicas da alvorada de noventas;
- apesar da aparente sujidade, tanto na melodia como no intromissivo coro feminino, "Young Adult Friction" remete-nos para os Go-Betweens da fase 16 Lovers Lane;
- além das vocalizações boy/girl à maneira da dupla Kevin Shields-Bilinda Butcher, "This Love Is Fucking Right!" tem também a omnipresença de uma guitarra melodiosa que tanto poderia ser a de Johnny Marr, como a de Bob Mould em "If I Can´t Change Your Mind" dos Sugar;
- "The Tenure Itch" está próximo de uma hipotética colaboração de Stephen Pastel com os The Cure na sua faceta mais luminosa;
- fosse interpretada por uma voz feminina, e "Stay Alive" poderia ser tomada por uma canção dos Lush dos primórdios;
- fuzz à superfície, mas pop açucarada no âmago, "Everything With You" não destoaria no alinhamento de Isn't Anything dos My Bloody Valentine, embora o solo tímido da parte final nos faça lembrar Terry Bickers nos melhores momentos dos House of Love;
- já em "A Teenager In Love" e "Hey Paul" as referências parecem estar mais próximas no tempo: o primeiro segue a tendência up dos Belle & Sebastian recentes, enquanto o último é exemplificativo de uns Los Campesinos! mais contidos.
Injectadas de uma melancolia juvenil agridoce, estas dez canções têm, no entanto vida própria, muito para além da manta de retalhos que a minha análise simplista deixa antever. Para o grupo de cultores do género, nos qual orgulhosamente me incluo, podem até tornar-se um sério caso de amor à primeira vista (ou audição, neste caso). And this love is fucking right!

6 comentários:

Gravilha disse...

belo quizzz!
eu também ando apaixonado por isto (e pelo album dos Glasvegas, a que só agora dei a devida atenção)

O Puto disse...

Se não soubesse que disco se tratava, diria, pela capa, que eram as meninas dos MBV. A ver se o compro esta semana.
O disco dos Glasvegas também é bem jeitoso e viciante.
Abraço!

eduardo disse...

Como sabes ando viciado neste disco.
Numa faixa que não me recordo o título os Prefab Sprout fazem-se igualmente notar.

Em breve será adquirido em vinil!

M.A. disse...

Pedro:
Como referi há bocado no teu tasco, os Glasvegas são para mim motivo de "mixed emotions".

Puto:
Realmente!... A miúda da direita dá mesmo ares da Bilinda de outros tempos.

Eduardo:
Ontem, enquanto ouvia o disco, também fiquei com essa impressão. Mas agora também não me ocorre em que tema. Mas há muitas outras referências que se vão desvendando a cada nova audição.

Abraços!

Gravilha disse...

Acho que também já apanhei essa dos Prefab Sprout e também não me lembro do nome; apanhei também os Housemartins (Young Adult Friction) - mais mesmo que Go-betweens - os Felt do tempo do Maurice Deebank numa outra e mais uma data de coisas.

M.A. disse...

Tens toda a razão, Pedro. Young Adult Friction tem, de facto, muito de Housemartins e até de Felt. O factores que me remeteram para G-B foram, sobretudo, a inocência e os coros femininos.
O tema que faz lembrar (e muito) os Prefab Sprout deve ser A Teenager in Love, o tal que eu acho que também tem qualquer coisa de B&S.
Mas, nestas coisas, como já se sabe, as eventuais semelhanças podem variar consoante o ouvinte e a sua predisposição no momento da audição.
Abraço.