"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quarta-feira, 11 de abril de 2007

DISCOS PE(R)DIDOS #8

HÜSKER DÜ
Zen Arcade (SST, 1984)

Desde a sua formação, no final da década de 1970, que a ambição do trio constituído por Bob Mould (voz, guitarra), Grant Hart (voz, bateria) e Greg Norton (baixo) era desmedida para as amarras do hardcore. Confessos admiradores tanto dos Beatles como dos Byrds, os Hüsker Dü, ao contrário da linha dura do hardcore de Washington DC, sempre gostaram de dar uma pincelada pop às suas composições enraizadas no punk norte-americano. Mas o verdadeiro ponto de viragem seria apenas dado em Zen Arcade, o seu terceiro LP.
Um verdadeiro choque para os seguidores mais fundamentalistas, Zen Arcade era, simultaneamente, um disco duplo e conceptual. Acusações de vendidos não faltaram ao trio por estes dias e, para cúmulo, em jeito de provocação Bob Mould costumava empunhar uma Flying V, imagem pouco consentânea com o meio. Mas com a alienação dos fãs da primeira hora viria também a conquista do lugar na história, confirmada pela devoção confessa de nomes posteriores como The Pixies e Nirvana.
Com Mould e Hart dividindo quase equitativamente os créditos das 23 faixas, cantando cada um as suas composições (o guitarrista com a sua voz de arame farpado era responsável pelos momentos de maior rugosidade, cabendo ao baterista os momentos mais melódicos), Zen Arcade faz o relato na primeira pessoa de um adolescente insatisfeito que abandona o lar para procurar a felicidade no mundo exterior. Mas cedo percebe que esse mundo é ainda pior. Pelo caminho acontece o contacto com a religião ("Hare Krsna") e com as drogas (o genial "Pink Turns To Blue"). No final, através da longa jam intrumental de "Reocurring Dreams" fica a sugestão de que tudo poderá não ter passado de um sonho...
Musicalmente a paleta sonora não poderia ser mais rica: temas punk acelerados ("Something I Learned Today"), arremedos folk psicadélicos ("Never Talking To You Again"), indie pop melodioso ("Pink Turns..."), interlúdios noise ("Dreams Reocurring") e improviso vanguardista ("Reocurring Dreams").
Dois anos mais tarde, já com os dois compositores em rota de colisão e mergulhados no calvário do álcool e das drogas, os Hüsker Dü haveriam que concretizar a metamorfose completa em mais uma obra-prima: Candy Apple Grey.

2 comentários:

Shumway disse...

Excelentes.
Os longos 15 minutos do excelente "Reocurring Dreams" quebravam todos os pressupostos do punk/hardcore da época.
Saltaste para o "Candy Apple Grey", e não referiste o "New Day Rising". Não sei se não te cativou, mas acho-o muito bom.
Abraço

M.A. disse...

"Saltei" para o "candy..." porque acho que foi aí que o som dos Hüsker Dü completou a transformação encetada em "Zen Arcade". De qualquer das formas, acho o "New Day Rising" igualmente muito bom.
Abraço