"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Desenterrar o passado
















Embora não gozem da mesmo estatuto em território europeu, em casa as Sleater-Kinney são aquilo a que se pode chamar uma instituição, um expoente da fervilhante cena musical do noroeste estado-unidense. Com alguma desconfiança, pode até argumentar-se que as moças de Portland souberam apenas capitalizar o estilhaço riot grrrl que as antecedeu, bem como a atenção posta na vizinha Seattle em inícios de noventas. No entanto, tais alegações serão tremendamente injustas com o percurso ímpar de uma banda que, sem abdicar de um teor altamente politizado (essencialmente feminista), nunca se rendeu à estagnação. Afinal, não são muitas as bandas que se podem gabar de um legado de sete álbuns, sem pontos baixos, e em constante e subtil progressão. Do lote altamente conistente, contudo, é imperativo destacar um par de discos, um da sonoridade mais directa da primeira fase, outro da complexidade adquirida do período avançado. Falamos, obviamente, do terceiro Dig Me Out (1997), e primeiro em que a baterista Janet Weiss se juntou às guitarristas/vocalistas Corin Tucker e Carrie Brownstein para constituir a formação clássica que perduraria até à despedida, e do derradeiro e avassalador The Woods (2005). Perante o brilhantismo deste último, foi com alguma estupefacção que recebemos a notícia da separação em 2006, suavemente anunciada como um "hiato por tempo indeterminado".

Desde então, Corin dedicou-se à família e a uma discreta carreira a solo, enquanto Carrie e Janet se reuniram no super-grupo Wild Flag, projecto breve que rendeu apenas um álbum homónimo, ao qual o tempo ainda concederá o estatuto de clássico. A última fez também parte dos The Jicks, a banda que tem acompanhado o ex-Pavement Stephen Malkmus. Porém, cada aparição de qualquer das três com novo projecto, era sempre motivo para manifestação da nostalgia das Sleater-Kinney. Para que os infiéis possam entender toda a importância atribuída ao trio como um dos mais relevantes colectivos do rock no feminino, a novíssima caixa retrospectiva Start Together é ferramenta indispensável. Digo-vos que inclui a totalidade da obra gravada numa edição limitada a 3000 exemplares em vinil colorido, sendo que também é possível adquirir cada um dos sete álbuns remasterizados individualmente, em CD ou no convencional vinil negro, e sem os habituais brindes dos boxsets. Além de extremamente apetecível, o pacote completo tem um preço quase proibitivo, pelo que, pode ser extremamente útil para atestar amizades pelo Natal. Não obstante, a melhor das prendas é algo não propriamente material: o regresso das Sleater-Kinney ao activo, algo que os mais optimistas já profetizavam com o fim abrupto das Wild Flag e a saída de Janet Weiss dos The Jicks. O boato confirmou-se, e até há já álbum novo no horizonte, com edição prevista para Janeiro do ano próximo e com título genérico No Cities To Love. Há até um primeiro avanço em formato single, incluído como bónus em Start Together. A julgar pelo aperitivo, será um regresso das Sleater-Kinney a crueza "punkóide" dos primórdios. Portanto, um recomeço, completo que foi o anterior ciclo evolutivo.

"Bury Our Friends" [Sub Pop, 2014]

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