"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Virar o bico ao prego

















No percurso dos Portishead os discos sucedem-se de forma tão espaçada que, a cada nova aparição, a banda opera uma mudança estética relativamente ao último registo. Por conseguinte, hoje já estão radicalmente afastados dos sonhos desencantados que conquistaram as massas no álbum debute. Oiça-se, por exemplo, o terceiro e último álbum de 2008, no qual as referências kraut espreitavam a cada esquina. O ideólogo do projecto é, não é novidade para ninguém, Geoff Barrow, e é natural que os discos espelhem os seus interesses musicais na altura da sua confecção. Contudo, o mergulho mais profundo de Barrow nas sonoridades de origem teutónica ficaria por conta dos Beak>, o trio que encabeça desde 2009.

Com um primeiro álbum, quase totalmente instrumental, editado logo no ano da formação, os Beak> propunham uma deriva mental, algo impenetrável para os ouvidos menos treinados, que navegava na vertente mais psicadélica do kraut. Já o sucessor, que de forma inteligente aproveita o grafismo do nome da banda e se chama >>, é substancialmente mais imediato, tanto pelo maior pendor rítmico, como pela maior predominância dos temas com vozes. Alegadamente gravado durante uma única tarde, >> transpira o ambiente jam pela coesão do todo, e resulta como um apaixonante compêndio de referências às duas maiores eminências do universo kraut. As vocalizações quase indecifráveis de Barrow, que nos remetem para os Can, surgem imersas na propulsão motorika típica dos Neu!. Ora mais contemplativos, ora mais obtusos, os dez temas sucedem-se num todo que vale mais, muito mais, que a soma das partes. Para o encerramento, com "Kidney", os Beak> propõem uma longa progressão minimalista que ecoa a uns Sonic de há mais de um quarto de século. Se é uma pista de futuros desenvolvimentos, ou apenas a expressão da veia experimentalista dos todos os três integrantes dos Beak>, apenas o tempo nos poderá responder.


"Yatton" [Invada, 2012]

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