"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Discos pe(r)didos #65










ALAN VEGA, ALEX CHILTON, BEN VAUGHN
Cubist Blues
[Thirsty Ear, 1996]



Algures, em meados da década de 1990, o mundo pop entrava (irremediavelmente?) numa espécie de buraco negro. Num reinado bipartido pelas xaropadas pós-triphop e as novas formas de rock FM, parecia ter ficado pelas intenções o underground takes overground um punhado de anos antes. À parte alguns nomes com culto alargado que conseguiram chegar às massas, não estava fácil a vida para quem se aventurava por meandros mais "alternativos". Datam desse período muitos óptimos discos completamente negligenciados, mesmo quando resultado da colaboração de três lendas vivas do "outro" lado do rock: Alan Vega, o provocador dos seminais Suicide; Alex Chilton, o pequeno génio que reagiu ao insucesso dos brilhantes Big Star com a sabotagem da própria carreira; e Ben Vaughn, um devoto das raízes rock que, entre outros, já tinha acompanhado o infame Kim Fowley.

Fruto do trabalho conjunto de tais desalinhados, Cubist Blues nunca poderia ser um disco convencional. Resultado de duas noites inteiras de processo criativo informal, tal como o regime inerente às grandes obras jazz, deixa entrever um espírito jam. Musicalmente, tem incutido o sentir rock dos primórdios, algo que, de forma diversa, sempre foi matéria da obra artística dos três músicos envolvidos. Com o exclusivo das vozes, Alan Vega é, obrigatoriamente, o mestre de cerimónias. Sente-se perfeitamente à vontade neste ambiente "orgânico", bem distinto do universo electrónico dos Suicide. As letras por si escritas para o efeito, provavelmente de improviso, são autêntica poesia beat de fim-de-século. Semi-cantadas, semi-declamadas, no inconfundível estilo de Elvis de becos esconsos, propiciam ainda mais uma série de truques ao nosso enfant terrible. Como por exemplo, os urros demoníacos no longo inaugural "Fat City", uma espécie de hip-hop fantasmagórico tresmalhado de rock'n'roll, o Lou Reed impersonator no conto marginal de "Candy Man", ou o nasalado próprio de um desenho animado em "Come On Lord". Alex Chilton e Ben Vaughn são responsáveis pelo suporte instrumental, alternando na guitarra e no baixo, mas também com algumas incursões pela bateria ou pelo piano. A fidelidade ao bom e velho rock'n'roll vigora, mas acontecem algumas cedências aos tais blues "cubistas" do título, como no citado "Come On Lord" ou em "Too Late", este último a encarnação de um Jim Morrison sobrevivo à subversão post-punk. Bem diverso dos demais, e da versão original dos Suicide, é  o remake "Dream Baby Revisited" que encerra o disco, valsa rock para fim de noite. Diria que soa a algo de semelhante à aparição de Gene Vincent ou Bobby Vinton, zombieficados, no palco de um bar obscurecido das imediações de Twin Peaks. Diga-se, rematando, que toda a atmosfera do restante de Cubist Blues também não anda longe de sugerir semelhante imagem.


"Fat City" 


"Candy Man"


"Dream Baby Revisited"

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