"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

10 anos é muito tempo #36











THE CORAL
The Coral
[Deltasonic, 2002]



Há dez anos exactos, o mundo vivia todo o fulgor do chamado "novo rock". Olhando agora para trás, a esta distância, facilmente constatamos que a quase totalidade das bandas associadas ao "movimento" mais não era do que mero revisionismo de expressões proto e pós-punk. Portanto, todo o burburinho terá sido, em boa medida, gerado pelo saudosismo da geração de oitentas, como que vingando-se da tendência electrónica e dançante a que esteve sujeita durante boa parte da década anterior.

Neste cenário, em clara contra-corrente, surgiram os The Coral, um sexteto de putos originário de Hoylake, pequena cidade costeira separada de Liverpool pelo Rio Mersey. Vindos de tais paragens, as mesmas que nos deram Echo & The Bunnymen e The La's, não renegaram as origens e, tal como aqueles apontavam para o psicadelismo da costa oeste da América de sessentas. Os Love eram a referência mais notória, embora no disco de apresentação os The Coral enveredassem por um melting pot que incluía o merseybeat e as primeiras manifestações ska liverpulianas, umas pinceladas country e folk, e técnicas de produção dub, tudo num caldeirão que não perdia o norte pop. Neste particular faça-se a devida vénia ao produtor Ian Broudie, velha raposa dos estúdios capaz de fazer carvão passar por diamante.

A opção por géneros algo fora de moda é algo de insólito em músicos de tão tenra idade (à data da edição deste primeiro álbum, apenas o vocalista James Skelly tinha ultrapassado a barreira dos 20 anos), mas mais imprevisíveis são as bizarrias devedoras de uns Pink Floyd da "era Syd Barrett" ou de um Captain Beefheart. Os primeiros deixam a sua marca em "Simon Diamond", um primo afastado do "Arnold Layne" daqueles, enquanto o personagem criado por Don Van Vliet assombra o tresloucado frenesim de "Skeleton Key". Este tema é uma espécie de sea shanty abastardada, algo que confere a tradição marítima da região de origem dos The Coral. Pelo mesmo diapasão enveredam em "Spanish Main" e em "Shadows Fall", embora nestes num formato bem mais ortodoxo, apesar da abertura mariachi via-Morricone do segundo. Quando querem, os The Coral também sabem extrair o romantismo imaculado próprio da sua idade, algo que sucede no belíssimo "Heartaches", no qual Skelly exibe toda a sua gama de truques vocais, e em "Dreaming Of You". Este último, o tema mais rodado e imediato de todo o disco, é dono de uma combinação intemporal de beat irresistível, sopros a preceito, e coros harmoniosos, resultando num convite à dança desenfreada.

Na sua homogénea variedade, The Coral não deixa de ter algumas pontas soltas, algo que, não só se compreende, como até se saúda em bandas de tão baixa média etária. Não deixa, no entanto, de ser um entusiasmante cartão de visita que nos deixa de sobreaviso. A promessa haveria de confirmar-se com o decorrer dos anos e dos álbuns (e até agora já lá vão sete!), à medida que os The Coral se iam assumindo como a mais coerente, esclarecida, e peculiar de todas as bandas da pop britânica do que já lá vai deste século XXI. Venham mais sete!

 
"Dreaming Of You"


 
"Skeleton Key"

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