Ainda os Buzzcocks davam os primeiros passos e já Howard Devoto, membro fundador, abandonava o barco, num gesto que poderá ser visto como genuinamente imbuído do espírito punk. Logo em seguida fundava os Magazine, uma entidade distinta que aspirava a níveis mais intelectualizados da expressão rock. Por mérito próprio, e juntamente com bandas como PiL, Gang of Four, ou Wire, estiveram na primeira linha do chamado post-punk britânico, ainda numa altura que o sucesso comercial não estava vedado à obliquidade musical. Até à extinção, em 1981, os Magazine tiveram intensa actividade, deixando para a posteridade quatro álbuns, três deles autênticos clássicos da época.
Embarcando na onda de reuniões que parece não deixar ninguém indiferente, os Magazine regressaram ao activo em 2009, inicialmente com o propósito único de tocar ao vivo, iniciativa que, segundo consta, teve forte adesão popular e aceitação crítica. A formação envolvida era a mais aproximada do line-up "clássico", com o guitarrista John McGeoch, desaparecido em 2004, a ser substituído por Noko, companheiro de Devoto nos posteriores Luxuria. De então para cá, também o baixista Barry Adamson, provavelmente ocupado com a trabalho em nome próprio, foi substituído por um tal de Jon White. Portanto, aquele já não participou nas gravações do novíssimo e "inesperado" No Thyself, o quinto álbum, editado precisamente trinta anos depois do último.
A falange familiarizada com a sonoridade típica dos Magazine não estranhará o novo disco, uma vez mais assente nas texturas irrepreensíveis e quase liquifeitas dos sintetizadores de Dave Formula. A principal diferença com os bons velhos tempos reside nas partes de guitarra, com Noko a enveredar por riffs com um balanço assumidamente funky, por oposição à angularidade muito peculiar do seu lendário antecessor. Também os maneirismos vocais de Devoto, entre o declamado e o cantado, entre o arrogante e o cáustico, são mais ostensivos que nunca. São os mesmos tiques que causaram forte impacto noutros vocalistas ingleses que fazem da crónica de costumes modo de vida, tais como Lawrence e Jarvis Cocker. À falta de novidades de maior para os versados na matéria, posso assegurar aos neófitos que No Thyself tem ainda obtusidade suficiente para dar e vender às novas gerações art-rock. Façam o favor de conferir na amostra infra, na qual não se discerne ao certo se as referências a dois dos mais idolatrados mártires rock é vénia ou ironia. É a ambiguidade devotiana em todo o seu esplendor...
"Hello Mister Curtis (With Apologies)" [Wire-Sound, 2011]
3 comentários:
confesso que nunca fui grande fan dos magazine nem do howard devoto. e que a amostra não me entusiasma por aí alem. acho que alguns destes gajos se deveriam calar musicalmente para sempre. nos antípodas disso estão os fall, que continuam em grande. o novo disco é, outra vez em 2 anos consecutivos, um dos melhores dos fall.
Hmmmmm, cheira-me a represália por não ter falado nos Fall logo no primeiro parágrafo... :)
Podia e devia, é verdade.
Abraço.
:) não é represália, mas que podias, lá isso podias :)
abraço,
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