"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Ao vivo #71













Bardo Pond + Margarida Garcia & Marcia Bassett @ Galeria Zé dos Bois, 29/10/2011

Com duas décadas no activo, os Bardo Pond são uma verdadeira instituição do psicadelismo e linguagens musicais limítrofes, posto de refúgio para os muitos órfãos dos simbólicos Spacemen 3. Não é de espantar que, com tal estatuto, seja calorosa e numerosa a recepção para a primeira aterragem em solo luso. Tal como muitas outras bandas do mesmo raio de acção, têm recentemente vindo a injectar a sua música de um maior abstraccionismo (sobretudo na obra "paralela" à discografia "oficial"), o que poderia fazer temer por um concerto próximo do registo jam, que normalmente dá mais prazer a que executa do que a quem assiste. Pela parte que me toca, congratulo-me que o combo de Filadélfia tenha apresentado um alinhamento assente no seu reportório convencional (se é que se pode falar em convenções quando se trata dos Bardo Pond), que percorre os vinte anos que levam ao serviço da facção mais intuitiva do rock

Quem acorreu à ZdB no passado sábado foi bafejado por um conjunto de temas mergulhados em narcóticos, banhado num mar de distorção e ruído branco, encantado pela voz de fada ancestral da musa Isobel Sollenberger, ela que também recorre à flauta para nos guiar por estranhos mundos de fantasia. Ao longo de todo o concerto a banda, aparentemente desterrada da São Francisco ácida de há quarenta e tal anos, esteve irrepreensível, certeira e coesa nas descargas sónicas de riffs arrastados. Igualmente em bom nível, a voz de Isobel não deu qualquer sinal de desafinação, isto apesar de, nas vezes que se dirigiu com ternura ao público, se mostrar algo entorpecida por substâncias de composição desconhecida.

A abrir a noite, a portuguesa Margarida Garcia (contrabaixo) e a norte-americana Marcia Bassett (programações) apresentaram uma amostra de The Well, disco de parceria do ano passado. Referência do experimentalismo nacional a primeira, figura do noise enquanto integrante dos Double Leopards a última, dão em conjunto um recital noisy do mais profundo negrume, algo genérico mas suficientemente envolvente. Perto do final da noite, a dupla ainda se juntou em palco aos cabeças de cartaz para um número de catarse colectiva pela via da deriva sónica.

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