"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

domingo, 25 de julho de 2010

Discos pe(r)didos #42






THE MAKE-UP
Save Yourself
[K, 1999]






Embora longe das luzes da ribalta, Ian Svenonius leva já uns bons vinte anos de afirmação como uma das mais proeminentes figuras da cena musical de Washington D.C. em particular, e do underground norte-americano em geral. Iniciado nas lides à frente dos fugazes Nation of Ulysses, deu um forte contributo para produção musical pós-hardcore da capital dos states. Progressivamente, foi aprofundando os conhecimentos das raízes do rock'n'roll e seus derivados, com especial incidência na música negra. O resultado desse intenso "estudo" foram os Make-Up, banda constituída por 3/4 da formação dos NoU que funde, engenhosamente, a crueza do garage-rock com o charme do funk e da soul, como que a querer demonstrar que entre os Stooges e James Brown há uma relação relativamente estreita. Tal mistura foi rotulada pelo próprio Svenonius de gospel yeh-yeah e rendeu, segundo reza a lenda, inúmeros concertos de autêntica comunhão entre banda e audiência, com muito suor e meneares de ancas à mistura.
Save Yourself é o quarto álbum de estúdio de uma carreira marcada pela hiperactividade e, porventura, aquele em que a peculiar proposta dos Make-Up atinge o ponto-de-rebuçado. Abre com tema-título, assinalado por uma explícita lascívia e pelos expressivos gritos primevos, e encerra com uma versão do tradicional "Hey Joe", numa aproximação maioritariamente dengosa, mas a evoluir para uma descarga catártica semelhante à da conhecida interpretação do lendário Jimi Hendrix. Este tema é um dos raros casos no disco em que as guitarras assumem o papel principal, algo mais comum nos anteriores registos dos Make-Up. Os outros são o espasmódico e impregnado de sujidade "White Belts" e o charmoso "Feelin' Man". Neste último, Svenonius veste a pele de um velho soul-man ligado à corrente, algo que sucede com carga eléctrica reduzida no sedutor "I Am Pentagon". Mais focalizados que nos primeiros tempos, os Make-Up de Save Yourself chamam para a linha da frente os órgãos retro e libidinosos, o groove certeiro do baixo, ou até, mais ocasionalmente, a exuberância dos metais. Nas letras, para além da habitual agenda política orientada à esquerda, rejeitando a postura burguesa e sexista normalmente associada ao fenómeno rock, Save Yourself tem especial enfoque na temática da maternidade, algo de mais inusitado se atendermos ao facto de o único elemento feminino dos Make-Up - a baixista Michelle Mae - apenas cede a voz no dueto do tema derradeiro, curiosamente o único de autoria alheia.
Escassos meses após a edição de Save Yourself, e num contexto de crescente atenção para com a vertente mais rootsy do r'n'r (The Jon Spencer Blues Explosion e The Delta 72 eram outros dois nomes em foco), os Make-Up decidem, de forma inesperada, terminar actividades. De então para cá, Svenonius, juntamente com a baixista Mae, tem depurado a fórmula à frente dos Weird War, projecto que, na sua primeira encarnação, envolvia também o ex-Royal Trux Neil Hagerty.


"Save Yourself"


"White Belts"


"I Am Pentagon"

4 comentários:

eduardo disse...

tenho os discos todos inclusivé os registos ao vivo. O meu preferido é o In Mass Mind.

Gravilha disse...

também vou muito mais pelo in mass mind, um dos 3 ou 4 discos que tenho dos Make-up. Sou fan moderado. abraço,

M.A. disse...

Também sou um adepto apenas moderado. Embora também ache o "In mass mind" um óptimo disco, a minha preferência recai sobre este, talvez, por ter sido o 1.º que ouvi. Ou seja, no caso dos Make-Up fiz o trajecto inverso à ordem cronológica.

Abraços.

O Puto disse...

Um disco por ano, naquela altura, era obra.