"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Discos pe(r)didos #34


BLACK TAMBOURINE
Complete Recordings
[Slumberland, 1999]

Em finais da década de 1980, o universo indie norte-americano estava praticamente confinado às expressões descendentes da rebelião hardcore que haveriam de evoluir para a explosão "alternativa" de inícios da década seguinte. As excepções mais conhecidas eram os Galaxie 500 com a sua pop sonhadora em tons sépia, e o contigente twee-pop divulgado por Calvin Johnson através da K Records (com os seus Beat Happening incluídos). Banda bem menos conhecida - até porque de carreira extremamente breve - a contrariar este estado de coisas foram os Black Tambourine, o que não deixa de ser tão mais surpreendente quando temos em conta que este quarteto era originário de Washington, D.C., um dos bastiões hardcore. No curto espaço de tempo que estiveram activos (entre 1989 e 1991), reza a história que os Black Tambourine deram apenas quatro concertos. No mesmo período, deixaram registada uma escassa dezena de temas, sete deles incluídos nos dois singles editados, e os restantes espalhados por compilações. É precisamente este curto acervo que constitui o alinhamento de Complete Recordings, oportunamente lançado pela Slumberland Records, mesmo a tempo de anteceder o súbito revivalismo indie de travo british que tem assolado o território dos Estados Unidos. Movimento no qual, diga-se, esta editora tem tido um papel preponderante ao lançar bandas como Crystal Stilts e The Pains of Being Pure at Heart, só para citar algumas.
Efectivamente, toda a filiação musical dos Black Tambourine provêm de solo britânico, com especial enfoque no fuzz/dream pop do seminal Psychocandy e da mítica cassete NME C86 que lhe sucedeu. Por esta altura já se terá percebido que os Black Tambourine idolatravam bandas como The Jesus and Mary Chain e Shop Assistants, mas também, mais moderadamente, 14 Iced Bears e The Pastels. Por conseguinte, Complete Recordings está pejado de melodias pop cintilantes afogadas em generosas doses de ruído. Isso se percebe logo no inaugural "For Ex-Lovers Only", anunciado por uma muralha de feedback à qual se juntam uma bateria cavalgante a ecoar na wall of sound e a voz angelical de Pam Berry. Paradigma da sonoridade do quarteto é, eventualmente, "Black Car", uma semi-balada imersa em reverberação na qual a vocalista parece soar como alguém que sonha acordada. A óbvia referência aos heróis, concretamente aos Pastels na pessoa de Annabel "Aggi" Wright, fica a cargo de "Throw Aggi Of The Bridge", tema da melhor bublegum-pop e que constitui o momento mais electrizante de todo o alinhamento.
Derivado da falta de experiência da banda, como é óbvio, nem todos os temas constituem gemas pop do mesmo quilate dos citados. Alguns, inclusive, soam como boas ideias ainda em tosco que poderiam ter vindo a indicar pistas para um futuro que não ocorreu. É o caso de "We Can't Be Friends", exemplo da jovialidade pop que metade dos quatro Black Tambourine viria a desenvolver nos deliciosos Velocity Girl, banda igualmente lançada pela Slumberland que viria a obter algum reconhecimento com os dois primeiros do trio de álbuns lançados pela Sub Pop.


"Black Car"


"Throw Aggi Of The Bridge"

3 comentários:

O Puto disse...

Já ando há algum tempo para comprar este disco.

M.A. disse...

Este é daqueles que qualquer fã de indie-pop deveria ser obrigado a ter por decreto. Portanto, se o comprares, só estás a cumprir uma obrigação :)

Abraço!

O Puto disse...

Obrigação cumprida. ;)